Três tenores
Recebemos do nosso colaborador do Rio de
Janeiro, cidadão Wagner Siqueira,
mensagem de solidariedade que circula anônima
na internet desde julho do ano passado.
O relato envolve os dois mais famosos tenores
espanhóis que, juntamente com o italiano
Luciano Pavarotti, viriam a formar o célebre
conjunto conhecido mundialmente como “Os
três tenores”: o madrileño
Plácido Domingo e o catalão
José Carreras que, a partir de 1984
passam a representar uma das maiores crises
de rivalidade política do mundo moderno,
dada a luta pela autonomia do povo catalão
diante da coroa espanhola. A tal ponto chegou
a rivalidade que um dos cantores, por cláusula
contratual, não se apresentava onde
o outro estivesse.
Até que em 1987, José Carreras
conheceu o seu verdadeiro inimigo no diagnóstico
de uma leucemia que o tirou dos palcos durante
vários anos, tendo esgotado toda
a sua fortuna para combater o mal e sobreviver.
Foi quando conheceu uma fundação
madrileña com a missão de
dar apoio financeiro e de tratamento a leucêmicos,
a Fundación Hermosa. Graças
a ela, José Carreras se curou e,
como era de se esperar, colocou de lado
a rixa entre espanhóis e catalãos,
e foi examinar os estatutos da fundação
com o objetivo de se associar. Qual não
foi a sua surpresa ao constatar que o fundador
da mesma era seu arqui-inimigo Plácido
Domingo, que se mantivera no anonimato para
salvar a vida do próprio José
Carreras.
Quando se encontraram em público,
num concerto imprevisto de Plácido
Domingo, José Carreras não
hesitou em se ajoelhar diante dele, pedir
desculpas em cena por anos de intolerância
e lhe agradecer o gesto de nobreza. O que
levou Plácido Domingo a levantá-lo,
abraçá-lo e perguntar se poderiam
enfim selar uma amizade represada há
anos. E quando perguntado o que teria levado
a tal nobre gesto diante do único
cantor que poderia lhe fazer concorrência
no mundo da música, Plácido
disse apenas que uma voz como a de José
Carreras o mundo não poderia perder.