Que Amor queremos para a nossa bandeira nacional?
Que Amor queremos para a nossa bandeira nacional?
Existe um tema que volta e meia comentamos aqui neste espaço: o da corrupção dos valores, um dos grandes desentendimentos que temos e que atrapalha o nosso desenvolvimento em direção a uma plena cidadania. E agora temos mais um exemplo dessa confusão.
Acaba de ser lançada ontem na internet, na mística data de 12/12/12, mais uma campanha que revela o quanto ainda estamos longe de entender os verdadeiros valores da cidadania. Estamos falando da campanha “Inclua o amor na bandeira nacional”.
À primeira vista, o objetivo é dos mais louváveis. Afinal, muita gente sabe que a inscrição “Ordem e Progresso” da nossa bandeira foi tomada do lema positivista de Auguste Comte, “O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso como fim”. Ao sugerir nossa primeira bandeira republicana, o positivista Teixeira Mendes suprimiu o “Amor” do tríptico, e iniciando uma confusão que perdura até hoje.
Essa confusão, que campanhas como a “Inclua o amor na bandeira nacional” ajudam a perpetuar, se refere ao tipo de Amor que se fala quando se trata de um símbolo nacional, ou seja, de Estado.
Para os gregos, o “amor” podia ser carnal (eros), de causa/coisa ou solidariedade (philos), pelo povo/etnia (ágape), o natural, como de pais por filhos (storge), e o de amizade (xenia). Pois bem, o Amor que revela o cuidado com o a sociedade, e que pode ser traduzido como a responsabilidade política de cuidar pelo que é de todos, é o amor ágape, e não o philos. É o atributo por excelência da nobreza. Essa é uma confusão que tem sido alimentada até por instituições religiosas.
E é esse viés do amor ágape – o viés da plena cidadania – que é pouco compreendido. Não é à toa que, na página do movimento “Amor na bandeira”, a grande maioria dos comentários e participações dizem respeito à justiça social, harmonia, ação solidária, paz, energia espiritual e outros conceitos. E nada sobre responsabilidade política, controle social e outros conceitos que revelam muito mais um cuidado com o cidadão, a sociedade e até mesmo a soberania nacional.
Além disso, não é preciso ir longe para apoiar a idéia. Desde 2003 – e já falamos disso aqui neste espaço – o deputado federal Chico Alencar tem um projeto de lei sobre o tema tramitando a passos lentos na Câmara. No momento, o PL 2179/2003 está na Comissão de Constituição e Justiça aguardando a designação de um relator.
Se vamos entrar mesmo nesse debate, que seja de maneira séria. Pois fica aqui a sugestão. Para ver o Amor na bandeira nacional e ao mesmo tempo valorizar uma instituição que é fundamental para a democracia, faça o seu representante saber que você apoia o PL 2179. E procure conhecer mais sobre o tipo de Amor que queremos para o nosso Brasil. Um Amor simplesmente solidário ou um Amor responsável, consciente e atuante; um Amor cidadão por excelência. Não se esqueçam: a Justiça é a expressão social do Amor (ágape), assim como o Amor (philos ou eros) é a expressão afetiva da Justiça
Pensem nisso.