Pro dia nascer feliz e a Missa de Sétimo Dia de João
Em meio à dor, indignação e revolta da sociedade brasileira com a morte do menino João, arrastado até a morte num roubo de automóvel no Rio de Janeiro, nos deparamos com as histórias de um outro João, o João Jardim, diretor do bem-sucedido documentário Janela da Alma e que agora volta às telas com o impressionante Pro dia nascer feliz, produção da Copacabana Filmes em cartaz nos cinemas.
João traça um painel sobre o estado da educação no Brasil através de depoimentos emocionantes de jovens do ensino médio de três diferentes regiões brasileiras. Desde a menina que recita poesias no longínquo sertão nordestino, lutando contra toda sorte de adversidades – sobretudo da escola cujos professores não acreditavam que era mesmo ela que compunha seus poemas – até o extremo oposto dos depoimentos sobre as angústias dos jovens de classe média alta de tradicionais colégios do Rio de Janeiro e São Paulo, superexigidos por pais, professores e amigos, e envoltos em relações de muita competição e muito pouco afeto.
Em meio a estas extremidades, o diretor João Jardim nos surpreende com a realidade mundo-cão das escolas das favelas das periferias do Rio e São Paulo. Escolas depredadas e largadas à negligência das autoridades públicas, dentro do tradicional quadro de irresponsabilidade política característico de nossa cultura geral de impunidade e de pastiche. Não há como não se impressionar com os depoimentos de jovens favelados de menor, afirmando com escárnio que não tem lá muito problema roubar alguém ou até mesmo matar se for para livrar a cara, pois o máximo que vão pegar são três anos de Febem. Além do que, sai na televisão todo o dia que os políticos roubam muito mais e não são presos, o que justificaria a delinqüência geral de todos. Basta ligar a televisão e está lá: o crime no Brasil compensa!
A sociedade já deu inúmeras mostras de que não aceita mais as explicações acadêmicas de nossa exclusão social, da degradação ética dos costumes, da cultura de impunidade, do consumismo etc, devolvendo o problema para nós mesmos ou discorrendo vagamente sobre as origens da humanidade, a função ontológica da lei e os instintos animalescos do homem. O fato é que não há quem responsabilize a incompetência objetiva do Estado brasileiro em cumprir sua missão essencial de servir o cidadão de segurança e justiça eficiente em troca dos altos impostos que paga! Como bem disse o leitor Claudemir Casarin dos Santos, no jornal O Globo de ontem, “Se queremos bandido na cadeia precisamos discutir a ineficiência dos que têm por obrigação aplicar a Lei. Do guarda de trânsito ao presidente da republica”. Ou seja, é urgente trocarmos a nossa cultura de impunidade e do jeitinho por uma cultura de plena cidadania, e que envolve o controle social sobre os governos, os mandatos políticos e os orçamentos públicos. E que a morte do pequeno João não tenha sido em vão e seja um marco em nossa história.
Aqui no site, temos mais informações sobre o documentário Pro dia nascer feliz, inclusive um trailer do filme e um link direto para a página oficial, que é a www.prodianascerfeliz.com. Pois convidamos a todos para assistir ao documentário, e , para quem estiver no Rio, participar da grande manifestação da cidadania divulgada pela ong Gabriela Sou da Paz, na Igreja da Candelária, no Centro do Rio, durante a missa de sétimo dia do menino João. Será amanhã, quarta-feira, a partir das 11 horas. Em todo o Brasil, vocês podem participar ligando para o 0800-619619, da Câmara Federal e o do 0800-612211, do Senado, para pressionarmos pela votação da reforma do código penal, Projeto de Lei 7053/2006, da ong Gabriela Sou da Paz, cujo link também se encontra em nosso portal.
Acessem e participem!