O Brado Retumbante

O Brado Retumbante

Num país que confunde prerrogativas com privilégios, legalidade com moralidade, imunidade com impunidade, o político com o privado ou mesmo Estado com governos, é quase natural que numa telenovela não saibamos se o que estamos assistindo é realismo fantástico ou realidade mesmo.

Assim foi a oportuna minissérie “Brado Retumbante”, apresentada pela TV Globo até a semana passada, no mesmo momento que se discute quem deve julgar um juiz, quem policia a polícia, que promove a justiça dos promotores, quem regula as agências reguladoras, e por aí vai.

Considerada a mais ousada narrativa sobre os costumes políticos brasileiros dos últimos anos, a minissérie levantou acalorados debates sobre quais políticos da vida pública recente inspiraram os personagens. Seria o presidente Paulo Ventura um Aécio Neves, um Fernando Collor, um Itamar, um Fernando Henrique Cardoso ou mesmo um Lula? Seria o senador Nicodemo Cabral – com um nome de sabor nortista-nordestino – um Sarney, um Antonio Carlos Magalhães, um Renan Calheiros? E a ala dos deputados corruptos que nem inspiração precisa de tão diversa zoologia?

No “cardápio”, tivemos um presidente por acaso, manobras para impeachment, atentados, marquetagem em campanhas eleitorais, desvios de orçamentos públicos, demissão de ministros corruptos, manipulação ideológica do conteúdo de livros didáticos, ongs picaretas, demagogia de congressistas. Isso tudo foi ficção ou pura realidade?

Mas em dado momento “Brado Retumbante” foi puramente ficcional. Foi quando o Judiciário decide pela prisão de um ministro corrupto e uma quadrilha de deputados. Como o Brasil real ainda não passou pelo julgamento dos acusados do mensalão, ainda não fez a verdadeira reforma do processo penal e processos simplesmente caem por decurso de prazo, ainda é totalmente ficcional prender colarinhos brancos como na minissérie.

Mas ficou a contribuição da mídia para quem ainda não teve na grade curricular do ensino básico e médio as disciplinas ligadas à cidadania, civismo, moral, ética educação política e outras. No nosso Brasil não ficcional, os cidadãos vão aprendendo, via mídia, o que não se estuda nas escolas.

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