O auto-engano e a cidadania

O auto-engano e a cidadania
02/03/2006

Hoje vamos comentar um conceito recentemente desenvolvido e que se aplica muito bem ao Brasil de hoje, visto sob a ótica da plena cidadania.

Trata-se do conceito de “auto-engano”, que foi explorado com excelência pelo economista e sociólogo Eduardo Giannetti da Fonseca em seu livro de mesmo nome. Para Giannetti, auto-engano são as mentiras que contamos para nós mesmos, como uma forma que a nossa mente tem de nos auto-proteger de situações ou conflitos cuja consciência nos seria demasiadamente dolorosa.

Um bom exemplo que Giannetti cita é o hábito das pessoas cronicamente atrasadas adiantarem seu próprio relógio para se tornarem mais pontuais. Ou a experiência extremamente realista que temos em alguns sonhos; às vezes nem sabemos ao certo se aquela lembrança que ficou aconteceu de verdade ou se foi um sonho.

O livro de Giannetti é recomendado pela bibliografia da Voz do Cidadão porque, sob o ponto de vista da realidade da cidadania no Brasil, no cenário de uma cultura dividida entre os que acreditam que enganam e os que não se indignam por serem tratados como enganados, a transformação somente se dará se pudermos superar todos os nossos auto-enganos.

Por exemplo, a crença generalizada de que a panacéia para nossos problemas está apenas e unicamente na educação, como sistema de reprodução de conhecimento, sem o auxílio da mídia, como sistema de reprodução de valores, que turbina a educação e empodera a sociedade civil. Ou que somos mais ricos pelas potencialidades naturais do que pelas realizações do trabalho. Ou ainda que podemos fazer inclusão social sem limites, com promessas demagógicas de direitos sociais universais e, sobretudo, sem a inclusão política das elites para participar do controle social do Estado, dos orçamentos e mandatos públicos.

Como sempre afirmamos, não existe mágica! O que garante a liberdade é a justiça, e isso é o que define a plena cidadania. Ou, como afirma brilhantemente Giannetti, “o auto-engano não é a ignorância simples de não saber e reconhecer que não sabe. Ele é a pretensão ilusória e infundada do auto-conhecimento – o imaginar que é sem sê-lo, o acreditar convicto que seduz e ofusca, a fé febril que arrebata, a certeza de saber sem saber.” Na Agenda da Cidadania, aqui na voz do cidadão, vocês têm uma resenha do livro Auto-engano e, na seção Informações sobre Cidadania, oferecemos outros artigos, citações e dicas de bibliografia para ajudar a quem quiser pensar a questão da plena cidadania mais a fundo. Participem!

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