Garapa, de José Padilha

Um verdadeiro soco no nosso estômago. Este é o filme Garapa, de José Padilha! É uma vergonha para qualquer cidadão que se ache digno desse nome. Um documentário para incentivar o debate sobre a ação dos governos e do Estado brasileiro com relação à garantia dos direitos fundamentais, como a vida e a dignidade, sobretudo num contexto de fome, desnutrição e desemprego.

Garapa nos brinda com um argumento instigante para o debate sobre o estado da cidadania no país, que já vai para o sexto ano de um governo que prometeu erradicar a fome. José Padilha nos mostra de maneira crua o abandono de três famílias que mal são alcançadas pelas políticas públicas do Estado, quando muito apenas pelo Bolsa Família.

Principalmente as três mulheres, que são o paradigma das brasileiras guerreiras que defendem a vida de seus filhos a despeito da irresponsabilidade dos pais, da omissão dos governantes, do abandono do Estado e da adversidade da vida. E seus homens, que fracassam na função de provedores, um papel que a sociedade lhes exige, e se tornam mais um dependente – ou seja, mais um problema. E, como único apoio para a miséria, a recorrente evocação de Deus, aquele Deus que sempre dá jeito. Será assim para pessoas vestidas de farrapos do que foi um dia camisetas e bonés de campanhas eleitorais passadas?

Uma denuncia da omissão dos governos em questões essenciais para a busca de saída do ciclo vicioso da fome, da desnutrição e do desemprego, como o planejamento familiar, a educação fundamental e o apoio para o desenvolvimento de uma economia solidária, com capacitação para o empreendedorismo e a geração de renda.

Mas, antes de tudo, é preciso fazer um movimento forte de garantias essenciais, onde o direito à alimentação, que é um direito à própria vida, seja priorizado, para depois se conversar sobre planejamento familiar – ou então estaremos invertendo a ordem das coisas. E, se os governos mal conseguem ocupar a função social imediata e garantir a vida dos seus cidadãos, como a função dativa da figura da mãe, o que dirá a função paterna, de arbitrar conflitos, garantir direitos, limitar abusos e impor a lei para cidadãos, na expressão mais própria e digna do termo?

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