Educação e Cidadania

Esta semana foi divulgado o lançamento de uma pesquisa que veio jogar luz em uma das questões mais fundamentais da luta da cidadania: a importância da educação para a formação de uma verdadeira consciência de cidadania.

A Pesquisa Social Brasileira foi realizada pelo instituto DataUff, da Universidade Federal Fluminense, com apoio da Fundação Ford, e ouviu mais de 2300 pessoas em 102 municípios em todo o país. Seus resultados foram compilados e agora integram o livro “A cabeça do brasileiro”, publicado pelo coordenador da pesquisa, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida.

Uma das conclusões a que os pesquisadores chegaram foi a de que quanto maior o nível de escolaridade do cidadão – ou seja, aqueles que pertencem a uma “elite educacional” – menor sua tolerância a atos de corrupção, censura ou ao famoso “jeitinho brasileiro” e maior sua consciência sobre temas como controle social da coisa pública. Um bom exemplo é a pergunta: “como considerar a atitude do funcionário público que ajuda uma empresa a aganhar um contrato no governo e depois recebe dela um presente de natal?”. Para 80% dos que não sabem ler ou escrever, isso é apenas um “favor” ou “jeitinho”. Já para 72% dos cidadãos que concluíram a universidade, essa é definitivamente uma atitude de corrupção.

Para a pesquisa, é importante observarmos que, na medida em que a educação se universalize, essa visão mais moderna de cidadania se torna majoritária. Para isso se concretizar, devemos assumir a missão histórica de uma verdadeira elite, que entenda e assimile a importância estratégica da educação para superarmos nossas mazelas e decida participar efetivamente da vida pública para garantir esta conquista.

Senão, vamos permanecer neste círculo vicioso de não termos uma educação de qualidade por que não temos uma elite participando da vida política. E não temos uma elite participando da vida política do país por que não temos educação política suficiente para discernir entre opinião pública e interesse público. E isso porque temos difundida a idéia de que a política é o domínio da delinqüência social e não propriamente lugar dos homens de bem. Quando, na verdadeira ordem democrática, o envolvimento com a política – fiscalizando, cobrando e participando – é o único jeito de se impedir a má aplicação do dinheiro público, sobretudo no campo sagrado da educação pública de qualidade, universal e laica. Se a participação política é dever de cada cidadão brasileiro e a essência da verdadeira cidadania, a má aplicação dos recursos públicos em qualquer campo da ação do Estado não é tão nefasta quanto na educação básica. Se aplicamos mal em obras públicas, teremos aeroportos, estradas, hospitais etc de má qualidade. Mas aplicando mal em educação básica, teremos um cidadão de má qualidade! Presa fácil dos demagogos de plantão a quem não interessa que tomemos conta de nossas calçadas e ruas, das escolas e palácios. Pois cuidemos nós também dos governos e dos mandatos de quem deveria dar conta disso tudo e não dá.

Aqui na Voz do Cidadão temos algumas campanhas que têm como propósito despertar o verdadeiro sentido político da ação da cidadania que, para além de solidariedade e filantropia, é o de controle social sobre os orçamentos públicos e o desempenho dos mandatos e governos. Uma delas é a “Tome conta do Brasil”, que busca a adesão dos cidadãos para a importância de uma maior consciência sobre o controle social sobre o espaço público. Vale a pena conhecer e participar deste debate!

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