Do DCSP – “Trump e a ingenuidade retórica dos conservadores”, por Jorge Maranhão




Nessas eleições, a questão decisiva não apenas para a cidadania norte-americana, mas para a cidadania de todo o planeta é: queremos mais Estado ou menos Estado?



Acompanhando os debates e as estratégias de argumentação da campanha presidencial norte-americana fico perplexo com a ingenuidade retórica dos conservadores. Já se disse, aliás, que por argumentarem com lógica, acham que seus contendores progressistas se limitam a ela e prezam pelo princípio moral da admissão da verdade.

Desde 1988, quando ainda operava uma agência de propaganda especializada em estratégia de argumentação, assessorei alguns candidatos em campanhas eleitorais, o que me levou a escrever artigos em vários jornais e um livro sobre as experiências (Mídia e cidadania, Rio: Topbooks, 1993).

Nele, descrevo os oito quesitos essenciais para a formulação de uma estratégia de campanha bem-sucedida: o currículo do candidato, o objetivo do mandato, sua argumentação, seu histórico de vida pública, sua equipe, trânsito nacional e internacional nos vários setores sociais, suas crenças doutrinarias e o partido a que pertence.

Sendo que o primeiro quesito, até por isso colocado em primeiro lugar na lista, é o mais importante e determinante dos demais. Ou seja, antes de abrir a boca para argumentar, um candidato tem seu próprio ser como argumento. Argumento ético, do ethos, antes mesmo do argumento lógico, da razão, ou mesmo retórico, da persuasão.

Pois um candidato já diz muito de si na mera exposição de sua figura com a legenda de seu principal oficio independente mesmo do seu histórico político. Sobretudo entre candidatos com níveis de publicidade as mais diversas, quanto mais se diametralmente opostas, como no caso de Trump e Biden.

Somente depois de sua apresentação como sujeito é que se seguirão os atributos do que pensa, do que pretende fazer, na companhia de quem, segundo que princípios e crenças, adendos secundários diante da imagem mesma do candidato.

Tentar argumentar em sentido inverso, colocando os predicados antes do sujeito, é recurso retórico. Pois antes de saber o que pensa, o que pretende e no que crê, precisamos saber de quem se trata. Se não, estamos diante de uma clara artimanha para intimidar o contendor e jogar para a plateia. Especialidade, é claro, dos progressistas para intimidar os conservadores desde a hegemonia da retórica sofista no âmbito da democracia clássica grega, retomada nos tempos modernos.

Em termos clássicos, primeiro temos de saber do ethos do candidato para depois, então, procurarmos investigar e dar publicidade ao seu logos ou mesmo a seu pathos. Pois, em termos lógicos e não retóricos, o sujeito vem antes do predicado, o ser antes do saber, do agir ou do sofrer uma ação.

Vendo o debate de Trump com Biden, não me contive e mandei uma mensagem urgente e carregada nas tintas para a página de contatos de sua campanha na internet, chamando a sua atenção sobre o equívoco da estratégia de participar do debate dentro daquelas regras que só favorecem o candidato progressista independente da argumentação conservadora.

Pois se tratavam de escolhas de dez tópicos todos de interesse da argumentação progressista, democrata-populista, como: pandemia, obamacare, ativismo racial, violência policial, desemprego, comércio internacional, mudança climática, Oriente médio, relações com China, abortismo, casamento gay, votação a distância etc. Enfim, a política fatiada e servida em pedaços pela grande mídia notória adversária de Trump.

Temas que encobrem a radical diferença entre os ethos dos candidatos. Com exceção de um único momento, que não durou um minuto sequer, quando Trump resumiu em termos claros e precisos:

“Em 47 meses, fiz mais do que você fez em 47 anos”, disse Trump ao vice-presidente.

E isto, por que? Simplesmente por que se Trump é um homem de negócios que empreende, corre riscos, produz riqueza e empregos, Joe Biden nada mais é do que um velho burocrata e raposa política do establishment de Washington vivendo do poder, dos recursos públicos e das corporações sindicais e empresariais interessadas no poder.

E esta é a questão que está em jogo. A questão decisiva não apenas para a cidadania norte-americana, mas para a cidadania de todo o planeta: queremos mais Estado ou menos Estado? Pois empresários sempre vão lutar pela sua minoração, enquanto burocratas sempre lutarão pelo seu inchaço. Pura questão de sobrevivência. E tudo o mais é apenas firula, retórica progressista, democratismo populista, a famosa “degeneração da pólis”, como já denunciava Platão na República.

Como digo na mensagem enviada a campanha de Trump: “recomendo uma radical mudança na estratégia argumentativa, cujo foco deve ignorar supostos itens mais importantes do ‘cardápio do dia’ da mídia progressista e se limitar à radical diferença de perfil dos candidatos. Tão simples assim. Pois o resto nada mais é do que o transbordamento contorcionista de ornamentos barroquistas típicos dos progressistas, para iludir incautos”.

Se você, leitor, concordar, e tiver algum contato com alguém próximo a campanha de Trump, por favor passe a mensagem adiante. Por que uma campanha presidencial como a norte-americana é importante demais para ficar apenas nos votos de cidadãos norte-americanos e excluir os cidadãos de todo o planeta.




 Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”. Email: jorge@avozdocidadao.com.br


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