Controle social é antídoto contra farra de políticos
A reportagem divulgada neste domingo pelo programa Fantástico caiu feito bomba em pelo menos três municípios do Rio Grande do Sul. Mais uma vez, ficou demonstrado de forma clara o desrespeito de vários políticos pelo dinheiro público, usado para farras de viagens a pretexto de aulas em cursos de capacitação.
Em Triunfo (RS), os cidadãos indignados quase lincharam os vereadores retratados na matéria. O Tribunal de Contas do estado já apreendeu documentos nas Câmaras de Vereadores das cidades e já iniciou investigação em outras em todo o país.
Mas o recado da cidadania continua o mesmo e serve como uma luva para este caso. É bastante salutar o poder de se indignar com a malversação de verbas públicas, com o abuso do poder, com o menosprezo pela inteligência dos cidadãos pagadores de impostos. Mas indignar-se apenas não basta. Muito menos partir para cima de vereadores, por mais delituosos que sejam, e tentar uma agressão física, como mostrou a sequência da reportagem do Jornal Nacional de ontem.
O caminho será sempre a consciência de que o dono real de cada mandato é o cidadão. E o entendimento de que o mandato é por definição temporário e sujeito mais aos interesses dos cidadãos eleitores do que aos cidadãos eleitos.
Esse entendimento aos poucos vai se sedimentando pelos vários estratos da sociedade brasileira. Após o período da ditadura, estamos apreendendo a conviver com os direitos e os deveres inerentes à nossa condição de cidadãos autônomos e responsáveis. Começamos pelo movimento das Diretas Já, depois tivemos o impeachment do então presidente Collor, os plebiscitos (sobre nosso sistema de governo e desarmamento), e mais recentemente, a aprovação da lei Ficha Limpa, uma ação de iniciativa de popular vitoriosa, com desdobramentos já acontecendo no poder judiciário e no próprio Executivo.
Gostaríamos de ressaltar que nesse meio tempo a sociedade está aprendendo a se organizar para fiscalizar nosso políticos e o que eles fazem com o dinheiro público. Grandes redes de entidades de controle social estão sendo criadas, cada uma formada por centenas de membros. É o caso da Amarribo, com seus mais de 190 integrantes, do Voto Consciente, presente em 200 municípios, o MCCE, com 46 entidades, e a ABRACCI, com um banco de dados que já lista 551 entidades participantes.
É esse enorme esforço concentrado dos cidadãos que está fazendo aos poucos, mas sem retorno, as mudanças necessárias em nossa representação política. Para isso, a participação de cada um de nós é fundamental. Pense nisso: o que você está fazendo pela cidadania hoje?