Cidade da Música, no Rio de Janeiro, uma nota desafinada para a cidadania
Uma das facetas que mais impressionam a quem vem conhecer o nosso país é a nossa riqueza cultural. Afinal, somos o berço de manifestações artísticas importantes como por exemplo o samba, a bossa-nova, a o barroco colonial, o cinema novo, a poesia concreta e o artesanato popular.
Somos também o berço de artistas internacionalmente reconhecidos como Heitor Villa-Lobos, Vinicius de Moraes, Arthur Moreira Lima, Tarsila do Amaral, Oscar Niemeyer e tantos outros.
Mas infelizmente também somos um país que investe muito pouco em sua cultura e, quando o faz, a qualidade da educação do cidadão brasileiro é o último quesito a ser levado em conta. Hoje mesmo temos muitos exemplos de como a gestão irresponsável do dinheiro público pode gerar grandes prejuízos aos cofres públicos e à qualidade de vida de todos nós, cidadãos pagadores de impostos.
No Rio de Janeiro mesmo, a faraônica Cidade da Música já engoliu 440 milhões de reais dos cofres públicos e sua construção ainda não terminou. Aliás, ela está arriscada a nem ficar pronta, pois as empreiteiras responsáveis pela obra estão cobrando mais 230 milhões para a sua conclusão. O que inclusive já está sendo investigado pelo Ministério Público. Ou seja, 670 milhões de reais do dinheiro do contribuinte para um empreendimento cuja real necessidade ninguém explicou direito até hoje. Segundo a vereadora carioca, Andrea Gouvea Vieira, ainda não se sabe ao certo quanto a obra vai ter custado quando ficar pronta. Nem um verdadeiro faraó seria capaz de tanto, pois pelo menos as pirâmides serviram para enterrar o próprio e não a cultura de seu povo.
Brasília também não fica atrás. Outra obra megalômana, a Biblioteca Nacional de Brasília, foi construída com menos dinheiro, 33 milhões de reais. Mas, depois de dois anos de inaugurada, conta apenas com 11 mil exemplares de livros à disposição dos usuários. No site da Biblioteca temos o aviso de que outros 100 mil ainda estão em fase de catalogação. Para uma biblioteca que se auto-intitula “nacional”, é pouco, muito pouco.
Cultura se desenvolve através das pessoas e não de grandes obras mal explicadas. Basta ver as casas de música mais importantes na Europa. A maioria surgiu a partir do trabalho de grupos musicais e em torno das escolas de música, como a Gewandhaus, na Alemanha. Ela surgiu a partir de um grupo de dezesseis músicos, em 1743, mas a sua sede própria somente foi inaugurada em 1781, quase 40 anos depois. Casos parecidos são a Ópera de Milão, no Teatro alla Scala, e a Royal Opera House, no Convent Garden londrino, onde primeiro se criam escolas musicais e artísticas e só depois o edifício que quase nunca é monumental. E até hoje a Orquestra Sinfônica Brasileira continua sem sede própria e com músicos via de regra ganhando mal e com salários atrasados;
Aqui no avozdocidadao.com.br colocamos à disposição de todos as conclusões da CPI da Cidade da Música e quais as recomendações feitas. Veja como a gestão pública irresponsável pode ser um verdadeiro atentado à cidadania.