Censurar Monteiro Lobato é negar aos nossos jovens cidadãos o conhecimento sobre nossa identidade cultural

ouvirOuvintes da Globo, desde que a censura oficial deixou de existir nos anos 80, que volta e meia algum grupo político tenta reavivar o seu fantasma, com sugestões, pareceres e projetos de lei absurdos e arcaicos. O mais novo exemplo veio do Conselho Nacional de Educação, que é um órgão de assessoramento direto do ministro da Educação. O Conselho emitiu semana passada um parecer em que orienta as escolas públicas a não adotar mais o livro “Caçadas de Pedrinho” do imortal Monteiro Lobato.

Para o Conselho Nacional de Educação, o livro de Monteiro Lobato possui conteúdos considerados racistas. E por isso, emitiu o parecer, atendendo a uma denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Para a Secretaria, várias passagens do livro conteriam indicações de racismo, como o seguinte trecho: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou na árvore, que nem uma macaca de carvão”. Tem também este: “Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta.” E por aí vai.

Com isso, tentam negar aos nossos jovens cidadãos em formação o contato com um dos maiores escritores brasileiros que, longe do viés racista que querem lhe imputar, na verdade retratou belamente o Brasil de seu tempo. Dedicado principalmente à literatura infantil, Monteiro Lobato tinha grande percepção sobre a importância da formação dos jovens para o futuro de um país. “Escrevo para as crianças porque depois de amanhã elas construirão o Brasil com que sonhamos”, ele dizia.

Suas obras se dedicaram a divulgar o folclore nacional e a tentar incutir uma auto-estima nacional que não tínhamos até então. Através das aventuras de Pedrinho, Narizinho e boneca Emília, o autor ensinou a muitas gerações princípios de matemática, geografia, ciências, meio ambiente, história, português e muito mais. Além de ter sido um dos primeiros a sonhar com uma próspera indústria nacional de petróleo e uma verdadeira independência econômica e cultural.

Felizmente, o ministro da Educação Fernando Haddad veio a público dizer em alto e bom som que esta tentativa de censura não terá o seu aval. Afinal de contas, negar Monteiro Lobato, sob qualquer desculpa esfarrapada, é negar o Brasil que já fomos, princípio fundamental para chegarmos ao Brasil que sonhamos.

Terminamos este comentário com uma frase de Monteiro Lobato: “Temos de ser nós mesmos; ser núcleo de cometa, não cauda; puxar fila, não seguir.”

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