Caso Palocci precisa dos cidadãos exemplares
E eis que o caso Palocci ganha os contornos nítidos de mais uma pizza, desta vez com molho especial PGR. Ante ao praticamente injustificável aumento de renda em apenas alguns meses, o Procurador-Geral da República decidiu arquivar a representação da oposição que pedia investigação por indícios de tráfico de influência.
A pizza só ainda não saiu do forno prontinha por causa do zelo de um procurador da República, Paulo José Rocha Júnior, que atua na primeira instância da Justiça Federal. O procurador não quis esperar o engavetamento do Procurador-Geral e deu um prazo de 15 dias para a empresa de Palocci apresentar documentos contábeis desde 2006.
Vai ser difícil, depois que o seu “chefe” promoveu um engavetamento explícito, convenientemente em meio à sua campanha para recondução ao cargo, já que seu mandato termina em 22 de julho. E esta também é a sensação do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante. Para ele, “a ausência de investigação sobre Palocci é senha para a impunidade”.
Mas estamos chegando num ponto de nossa história de cultura de cidadania em que a sociedade não tolera mais os “homens diferentes”, como o então presidente Lula se referiu ao senador José Sarney certa vez. O ministro acredita que pertence a esta classe acima da lei e dos princípios que regem toda a administração pública, como o d a legalidade, da moralidade e da publicidade.
E é aí que tem que entrar a pressão da sociedade civil. Não procede a argumentação de cláusula de confidencialidade alegada pelo ministro para não revelar a sua lista de clientes. Como todos os nossos políticos estão carecas de saber, eles abdicam de grande parte de suas prerrogativas da vida privada quando fazem a opção pela vida pública. E se existe algo na vida política nacional sobre a qual a opinião dos cidadãos é consensual hoje em dia, é a transparência pública.
Com ou sem encaminhamento da reforma política pelo Congresso Nacional, que obviamente não interessa à grande maioria da classe política, fica cada dia mais difícil se adiar estas exigências dos cidadãos aos gestores públicos: mais ética, mais decoro, mais prestação de contas, mais responsabilidade, enfim, pelo interesse público.