Boas festas, de Assis Valente
Neste dia de Natal, gostaríamos de comentar sobre um esquecido e talentoso compositor brasileiro, que marcou nossa cultura com sua obra que comenta e critica a cultura de sua época.
O baiano Assis Valente foi um dos compositores mais produtivos da música brasileira na década de 30, chegando a compor, muitas vezes, uma canção por dia. Foi o autor de cerca de 30 sambas de absoluto sucesso de nossa história musical, como “Cai, cai, balão”, “Brasil Pandeiro” e “Boas Festas”, que nos inspira deste dia de Natal.
Mulato, pobre, homossexual e artista boêmio, ficou marcado pelo preconceito da década de 30 e acabou renegado à sorte dos excluídos, tanto que, em meio à sua depressão, suicidou-se depois de três tentativas, em março de 1958.
Mas deixou esta jóia de uma canção de Natal na cultura popular brasileira. Tradicionalmente, as canções de Natal eram provenientes da Europa e depois, graças aos compositores americanos e ao cinema, algumas versões foram feitas, como a famosa “Jingle Bells”. Mas aqui no Brasil temos uma bela canção genuinamente nacional para celebrar a data. É “Boas Festas”, composta no Natal de 1932, por nosso Assis Valente.
Para quem não sabe, são de Assis Valente estes versos conhecidos de todos nós: Eu pensei que todo mundo / Fosse filho de Papai Noel / E assim felicidade / Eu pensei que fosse uma / Brincadeira de papel / Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem / Com certeza já morreu / Ou então felicidade / É brinquedo que não tem.
Muito mais que uma canção para embalar o Natal, “Boas Festas” é uma letra repleta de duplo sentido e que, além de fazer uma crítica à desigualdade social, também é marcada pela tristeza pessoal e desilusão do compositor.
Neste final de ano, onde sempre se projeta uma imagem melhor para o ano que se inicia, é importante ver a cidadania como a afirmação de justiça, equidade e direitos, ou seja, afirmação de nossa auto-estima. E ouvir “Boas Festas” é ouvir um belo relato de nossa própria história de riqueza cultural e mazelas sociais. Relembre a letra completa dessa obra de Assis Valente aqui, na Voz do Cidadão.