Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: O impasse barroquista de nossa cultura, por Jorge Maranhão

Não sairemos do buraco para cumprir nosso destino, de estar entre as top ten economias mundiais até 2050, sem uma contrarrevolução cultural de viés liberal-conservantista

22 de Abril de 2018 às 02:50

Lamento informar aos incautos de nossa cambaleante alta cultura, ou o que sobrou dela depois desses trinta anos de hegemonia esquerdista, que está chegando ao fim a alternância de poder entre o socialismo fabiano da social democracia brasileira e o socialismo anacrônico e desastrado do lulopetismo.

Não sairemos do buraco para cumprir nosso destino, já previsto pela consultoria Pricewaterhouse & Coopers, de estar entre as top ten economias mundiais até 2050, sem uma contrarrevolução cultural de viés liberal-conservantista, com o resgate de nossa identidade nacional, valores e crenças de nossa tradição judaico-cristã.

Até para enriquecer a qualidade do debate público, escaparmos da fulanização na escolha de governantes e passarmos a discussão e adesão a propostas efetivas.

Esse impasse cultural e civilizacional só pode ser superado com a atuação decisiva de uma seleta elite de jornalistas e produtores de conteúdo da grande mídia que nos ajude a resgatar o senso-comum e a razoabilidade mínimas de um iluminismo que pouco tivemos a chance de ter com a hegemonia cultural barroquista de nossas elites, e sucedida pelo idealismo e romantismo das monarquias e positivismo e anarco-sindicalismo das repúblicas.

Pois só a cultura pode realmente corrigir a rota civilizatória. Não adiantam propostas de cunho econômico, social ou político se não fizermos o dever de casa cultural, para além de expressões de arte e entretenimento, do conjunto de manifestações simbólicas, de valores morais e crenças de nosso imaginário social.

Um novo imaginário social que nos livre da espiral descendente em que nos encontramos há décadas, com o advento da expressão barroquista do romantismo, do positivismo e do esquerdismo reinantes, e que nos impedem de vislumbrar o horizonte e retomar nosso destino.

Vejam a omissão da alta (?) cúpula do Judiciário em fazer justiça e sua intromissão na política. Já disse em outra oportunidade que nossos poderes simplesmente não podem, pois barrocamente roubam o poder uns dos outros.

O executivo, que mal executa os mandados do judiciário e as leis do legislativo, prefere a disfunção do poder de legislar. O legislativo, que mal legisla, prefere o poder julgar. E o judiciário que mal julga prefere o poder de legislar, quando não o de executar.

Não se dão o limite de suas atribuições constitucionais, por não se conterem no decoro, ignorarem tradição e valores, exagerarem no pensar e agir, negarem os bons costumes da moralidade pública para além da legalidade. Por ignorância conceitual ou imersão no sono profundo do dogmatismo ideológico.

Resultado: só nos resta uma justiça anacrônica, tardia, omissa, inadministrável, pois viciada e eivada de paradoxos, circunlóquios e ironias da mais pura farsa barroquista.

Vide a representação de nosso imaginário social de barbárie, cotidiana violação legal gerando crescente violência social, a farsa da justiça com as próprias mãos, como “a grande vingança” exibida na atual telenovela das 9h, a vanguarda do atraso civilizatório brasileiro retroagido à lei de Talião!

As únicas instituições que ainda não se deixaram seduzir pelo barroquismo reinante, e que, exatamente por isso, ainda podem salvar o Brasil da estagnação cultural das últimas décadas, são o mercado empresarial e as Forças Armadas, onde ainda prevalece a razoabilidade mínima nas tomadas de decisões, porque pura questão de sobrevivência institucional.

O primeiro movido pela ação inescapável da concorrência que sempre faz vencer o melhor e a tudo aprimora. A segunda pela imposição da disciplina e hierarquia sem as quais nega sua própria razão de ser.

Nas demais áreas de nossas instituições públicas, como a política, a justiça, a burocracia, as artes e a academia, prevalecem as torções, retorções, contorções e distorções de valores, símbolos e crenças de nosso recalcitrante barroquismo travestido de idealismo, romantismo, positivismo e esquerdismo.

A resultante deste embate histórico entre a hegemonia das duas expressões culturais e simbólicas de nossas instituições está sendo decidido no âmbito do espaço público da mídia. E a despeito mesmo de uma massa de produtores de conteúdo claramente enviesados pelo barroquismo reinante de nossa cultura.

Vejam as transmissões e comentários dos escândalos em série da Lava Jato na grande mídia e, mais recentemente, o show de histrionismo dos julgamentos dos HCs de políticos de alto coturno e a discussão da questão de fundo sobre a prisão em segunda instância.

Parece uma série de humor, mas é coisa séria. O Supremo real transmitido pela TV, a cada dia mais parece com sua caricatura ridicularizada nos programas humorísticos.

Os ministros se escondem por trás daquilo que se chama juridiquês, um idioleto como qualquer outro, como o mediquês ou o engenheirês, linguagens cheias de expressões técnicas herméticas e empoladas para se protegerem da teratologia e valorizar o domínio profissional de cada uma dessas corporações.

E se proteger de que, se não do senso comum, da mínima razoabilidade, da eficiência comunicativa, da participação do cidadão no controle destes poderes setoriais corporativos diante da res publica e do bem comum?

O que vemos são muitos ministros defenderem notórios saberes como se estivessem reunidos numa academia de ciências e letras (barrocas) jurídicas a postular teses em abstrato, e não a produzir votos, sentenças e acórdãos que possam interferir construtivamente na evolução das relações sociais concretas e nos destinos dos cidadãos.

No caso atual de discussão da prisão em segunda instância, se arvoram no poder de reformar decisões de primeira e segunda instâncias, como se nada pudesse haver de sensato e pacificado antes deles, e desmoralizando a base do edifício institucional do judiciário por meras questões de vaidade e inveja, como já se referiu o jornalista Felipe Moura Brasil.

Postulam teses garantistas contra o reclamo geral da nação pelo fim da impunidade defendida pelos consequencialistas, como também já concluiu com argúcia outro jornalista Merval Pereira.

Teses absurdas, fora da realidade do país, sobre um ideal de liberdade de uma autoridade de alto coturno ser levada à prisão como se não fosse na realidade um delinquente qualquer condenado por crimes comuns de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e obstrução da justiça, contra o Estado e o bem-estar dos cidadãos.

Julgam hoje o caso concreto com vistas a eventuais garantias em abstrato e potencialmente violáveis no amanhã.

Na verdade, o impasse entre a velha política barroquista, plena de farsas, burlas, ironias e paradoxos, e a nova política que surge com o clamor da sociedade pelo fim da impunidade e a prevalência de um mínimo de razoabilidade e de pés no chão.

Um impasse civilizatório e de alta cultura. Porque de banalização, populismo, mediocridade, impunidade, vagabundagem e malandragem já estamos todos fartos.

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