Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: “É hora de virar a página”, por Jorge Maranhão

Do Diário de Comércio de São Paulo:

O que está em jogo é manter ou excluir governos esquerdistas que, aliados a velhos políticos, assaltaram o Estado no maior escândalo de corrupção sistêmica do mundo Ocidental

Por Jorge Maranhão 11 de Outubro de 2018 Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”


Para além das fulanizações e polarizações ideológicas, estamos a decidir se viramos a página desse capítulo da história do país de legado barroquista, onde uma pena prescrita em lei nada significa para além de recursos infindos e relativistas de atenuantes para os amigos e agravantes para os inimigos, e um outro país, enfim, iluminista onde todos são iguais perante a lei e ninguém pode reivindicar um direito que não possa ser estendido a todos os cidadãos.

Veja-se a título de exemplo, e para além dos tão aclamados direitos sociais ilimitados, sobretudo pelo populismo esquerdista, a desigualdade fiscal com que a União trata os cidadãos pagadores de impostos.

De um lado os mais pobres que pagam uma enormidade de impostos inescapáveis por que embutidos nos produtos do consumo básico. De outro os cidadãos amigos do rei privilegiados com renúncias fiscais por critérios nada republicanos.

Não por outra razão, o Tribunal de Contas da União (TCU) está lançando esta semana o Painel de Renúncias Tributárias Federais, com o objetivo de disponibilizar de forma mais amigável as informações sobre essas renúncias no âmbito federal.

Nestes tempos de crise nas contas públicas, com crescentes déficits fiscais e denúncias de colaboradores sobre favorecimento de grupos empresariais em troca de doações eleitorais, tal iniciativa pode contribuir para uma maior transparência sobre as decisões governamentais dos últimos anos.

O Painel de Renúncias Tributárias Federais evidencia, por exemplo, que, apenas nos últimos seis exercícios, o montante de recursos renunciados atingiu cifra superior a R$ 1,5 trilhão.

Somente a renúncia fiscal do exercício de 2017, projetada em R$ 275 bilhões, equivale a cerca de 2,3 vezes o déficit primário da União registrado naquele ano (R$ -118,4 bilhões). Para 2018, o valor projetado alcançou R$ 283 bilhões, o que equivale a cerca de 21% da arrecadação de receitas tributárias. Você pode conferir aqui.

Como vemos, temos de decidir neste segundo turno sobre este paradoxo barroquista nacional que trata do dever básico de todo cidadão em pagar imposto, não como imposição do Estado para todo e qualquer cidadão, mas apenas para os cidadãos comuns, por que, para os amigos do rei, se trata apenas de sugestão ou convite “não tão imposto assim”.

Trata-se no fundo de decidir entre uma conquista civilizatória como a Lava Jato que tenta tratar todos os cidadãos igualmente diante da lei. Ou deixá-la caminhar para a sua revogação por parte daqueles mesmos que por ela foram capturados.

No mais, não podemos continuar trocando o essencial pelo acessório. O substantivo pelo adjetivo. A figura pelo ornamento. Fingindo que não estamos fartos da farsa.

A máxima farsa de um ex-presidente presidiário que se acha acima lei, governando o país de dentro da cadeia e através de um fantoche.

O paroxismo da inversão barroquista das antigas Casas da Câmara e Cadeia coloniais, onde a Câmara estava situada em cima das cadeias públicas que se localizavam no rés-do-chão do mesmo edifício.

Seria tomado como chiste relatar esta situação da mais hilária torção e distorção barroquistas a qualquer cidadão de outro país minimamente razoável. Pois chegamos ao máximo da desmesura e da farsa.

Trata-se de definir se condenação é condenação ou sua retorção em absolvição. A lenda da lei que não pega. Trata-se, enfim, de decidir se o Congresso Nacional continuará sendo covil de malfeitores, a câmara das leis para todos e não apenas para os amigos do rei.

Ou a nova legislatura federal e estadual, governadores e Presidência serão dos mesmos usufrutuários do foro especial, fugitivos da polícia da Lava Jato, ou de lídimos representantes compromissados com sua consolidação institucional.

Dentro de nossa tradição barroquista de trocar a essência pela aparência, o verso pelo anverso, o direito pelo esquerdo, o conteúdo pelo ornamento, criamos um caldo de cultura extremamente favorável para a inoculação das ideias tortas dos esquerdismos e populismos em nosso imaginário social, tais como “justiça social”, “condições de vida”, “igualdade de direitos”, “poder divino do Estado” etc.

Se um candidato diz o óbvio: que o mercado de trabalho não reconhece iguais remunerações entre homens e mulheres, que bandido não pode ser tratado com os mesmos direitos humanos do cidadão comum, que a militância elegebetista e sexista não tem o direito de impor a ideologia de gênero como matéria dos currículos das escolas públicas, que o dinheiro público não pode ser usado para financiar ditaduras esquerdistas de terceiro mundo afora, pronto!: é o suficiente para a união de ativistas de toda espécie, de artistas, jornalistas e intelectuais esquerdistas, cevados por subsídios públicos, irem às ruas radicalizar discursos e condutas beligerantes.

Quando o que está em jogo é se devemos manter ou excluir governos esquerdistas que, aliados a velhos políticos fisiológicos, assaltaram o Estado no maior escândalo de corrupção sistêmica do mundo Ocidental.

Esta é a essência, o conteúdo mesmo do que deve ser julgado nesse segundo turno, simbolizado pelo fenômeno da Lava Jato. O resto é diversionismo barroquista! Penduricalhos de ornamentação que, se cativante nos campos das artes e das letras, é deletério nos campos da justiça, da política e da moral.

A propósito desta lamentável investida esquerdo-barroquista do #EleNão, por exemplo, de não olhar para o essencial de um dos candidatos que se posiciona claramente contra a sistêmica corrupção política brasileira dos últimos governos e o outro que se cala e tergiversa com promessas de “um Brasil feliz de novo”, o que vemos é que teremos de decidir entre um passado demagógico já conhecido e um futuro que não conhecemos, mas podemos supor que não será pior do que já experimentamos.

Teremos de decidir entre o essencial governante que prioriza a luta contra a corrupção política do país, e encare de frente os verdadeiros problemas do país em crise de gestão, de desemprego, de segurança, de saúde e educação, e outro encenador de farsas que priorizam lutas por políticas afirmativas de ditas minorias sociais, entre as quais o ativismo feminista.

A questão continuará sendo a de decidirmos entre o essencial e o acessório. De superar nosso legado barroquista e inaugurar uma era de razoabilidade, de bom senso, enfim, na política nacional.

Suponhamos que o candidato que luta pelo combate à corrupção seja efetivamente eivado de preconceitos misóginos e antifeministas.

E o outro, embora politicamente correto, seja de fato complacente com a roubalheira dos últimos governantes, inclusive de seu partido. É isso que deveremos decidir nessas eleições.

O que é mais relevante para o país hoje? Sobre qual dos dois é mais fácil para o cidadão comum lidar, vigiar e exercer sua cidadania: o transgressor dos novos bons costumes, do politicamente correto, ou o preposto do comandante em chefe da maior organização criminosa já havida na política nacional?

Por oportuno, vale acessar aqui um dos mais recentes vídeos da Praeger University sobre a provocativa argumentação do antifeminismo, racionalmente defendido pelo autor bestseller americano Andrew Klavan e tirem vocês mesmos suas conclusões.

Por que o feminismo na verdade é uma cortina de fumaça para enganar incautos acerca da verdadeira luta ideológica globalista da revolução cultural marxista contra as instituições da família, da crença religiosa, da razoabilidade humana, do respeito à hierarquia social dos mais velhos, do princípio da humildade e da honra pelos valores morais da tradição judaico-greco-cristã.

Por fim, cabe cobrar da grande mídia o verdadeiro retrato do que o Brasil está querendo enfrentar com essas eleições, se não o fruto maior de nossa tradição barroquista que assaltou a República a partir da revolução de 30 com a onda esquerdista socialista, muitas das vezes travestida de socialdemocrata, no dizer genial de Roberto Campos “dos socialistas envergonhados”.

Vale a cobrança de sua alegada “imparcialidade” jornalística quando não esconde sua parcialidade socialdemocrata, sobretudo acerca da busca da convergência centrista da esquerda, ao contrário de uma posição assumidamente conservadora, e que há anos busca elucidar as meias verdades dos socialistas envergonhados.

Pois o Brasil está cansado do barroquismo da ironia, da hipérbole, da ambiguidade, do paradoxo e da mistificação ou mestiçagem ideológica. Quando a estratégia barroquista da socialdemocracia insiste apresentar a “imparcialidade” jornalística como “centrismo”, mistificação centrista da esquerda na sua luta “abnegada” contra a “extrema direita”.

A farsa barroquista da ambiguidade, da ironia, do eufemismo e demais figuras retóricas que negam a verdade x a falsidade com as meias-verdades de sempre.

Quando os cidadãos estão manifestando sua preferência por enxergar a realidade com suas verdadeiras tintas: o que é ou não verde-e-amarelo, o limite conservador dos valores morais como necessária cautela para o açodamento progressista.

O que se chama numa palavra de bom senso e inaugura, enfim, mesmo que atrasados dois séculos nossa possível entrada na ordem da razoabilidade iluminista.

 

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