“Arranged”
Hoje vamos comentar um belo filme que acabou de entrar em cartaz nas salas pelo Brasil. É “Arranged – Alguém que me ame de verdade”. Apesar da tradução do título, que dilui em lirismo romântico a dimensão política e social do argumento, vale a pena ver este filme até mesmo por uma única cena que talvez nem tenha sido considerada a mais importante pelo próprio roteirista e diretor que colocam em primeiro plano a amizade entre as duas moças, uma judia ortodoxa e outra muçulmana. Ambas enfrentam as pressões familiares e suas tradições religiosas por casamentos arranjados.
As duas lecionam numa escola primária no bairro do Brooklyn da Grande Nova York, um bairro da maior diversidade étnica e cultural desta cidade que já é em si um grande melting pot do mundo todo. Independentemente dos diferentes credos religiosos, as duas moças se tornam bastante amigas e passam a empreender uma luta comum pelos seus direitos civis de manutenção das tradições religiosas, quaisquer que elas sejam, como aspecto fundamental da democracia americana, enfrentando até mesmo posições libertárias.
Mas a cena que vale a pena chamar a atenção aos estudiosos da cidadania é aquela em que as duas amigas propõem uma atividade de grupo entre alunos tão diversos: o jogo do círculo em que um deles se manifesta sobre algum tema e é julgado pelos demais para permanecer ou não no grupo, sob pena de, uma vez fora da roda, reconsiderar ou convencer os demais sobre sua posição discordante. Uma questão das mais controversas desde os tempos imemoriais em que se inaugurou a filosofia política na antiguidade, onde a liberdade de pensamento é prioritária até mesmo diante da de ação. E que afirma a importância do debate público como uma das armas da plena cidadania.
O site oficial do filme abre com a afirmação de que a amizade não tem nenhuma religião, mas consideramos que, do ponto de vista da educação política, da seriedade com que a educação primária americana leva a cabo a socialização dos futuros cidadãos, esta razão é insuficiente. Trata-se na verdade de uma reivindicação por direitos civis e políticos de liberdade de escolha, de credo, de opinião e de associação, e não só religiosa ou afetiva, mas sobretudo da plena cidadania civil e política.
Vale a pena assistir e fazer seu próprio juízo. Clique aqui na Voz do Cidadão para acessar o site ofical de “Arranged” e assistir ao trailler do filme dos diretores Diane Crespo e Stefan C. Schaefer.