A saúde pública no filme Sicko

Com a saúde pública no Brasil em xeque, e casos e mais casos de ineficiência, desperdício e a mais rala política se amontoando nos veículos de informação, vale a pena conferir um filme que entrou em cartaz somente este ano no Brasil, embora tenha estreado em maio do ano passado no Festival de Cannes.

Estamos falando de Sicko, $O$ Saúde, do controvertido diretor americano Michael Moore. Pode-se discutir em grande parte as razões e a sensatez das teses expostas nos documentários de Michael Moore, de Fahrenheit 9/11 até Tiros em Columbine, mas não se pode negar seu enorme talento para a militância de cidadania ativa e participativa, usando com eficiência a mídia de massa.

Este seu último documentário é o mais perfeito exemplo da força e coragem com que empreende a missão de fazer o cidadão comum americano pensar e atuar. Pois, como sempre dizemos aqui, não há possibilidade de plena cidadania sem que a consciência de direitos resulte necessariamente em atuação política.

Neste Sicko, $O$ Saúde, é evidente que o documentarista carrega nas tintas! Basta ver a troca panfletária do S pelo $ no próprio título do documentário. O sistema nacional de saúde pública inglês ou francês, e muito menos o canadense, não são absolutamente essas maravilhas que ele quer mostrar, nem tampouco o sistema totalmente privatizado norte-americano é um mergulho no próprio inferno. Muito embora, e de maneira bastante hábil, Moore trabalhe com fatos reais, quando nos escandaliza com a frieza do cruel abandono de doentes nas ruas quando não tiveram como saldar suas despesas em hospitais privados ou tiveram seus planos de saúde negados por estes. Assim como manipuladora é toda a seqüência do atendimento do grupo de doentes americanos pelas equipes solícitas e competentes do sistema de saúde estatal cubano.

Mas o fato mais relevante do trabalho deste grande agitador e propagandista é sua cruzada pelo desenvolvimento de uma já sólida tradição de cultura de cidadania nos EUA contra a demagogia e a farsa dos governantes. É só visitar o site oficial do cineasta, o www.michaelmoore.com. Nele, mais da metade do conteúdo não é apenas sobre as fichas técnicas de seus filmes, o making-off ou críticas favoráveis da imprensa e dos festivais, mas de ferramentas e campanhas de mobilização de cidadania. Como as páginas do “que você pode fazer” bem como, no caso de Sicko, as propostas concretas de reforma do sistema de saúde norte-americano. Michael Moore luta claramente pela atuação do cidadão comum junto aos mandatos de parlamentares e chefes de governos, bem como pelo fortalecimento de agências reguladoras cada vez mais independentes dos governos de ocasião.

Basta ver esta declarada manifestação sobre a fundamental importância da justiça civil para o empoderamento da cultura de cidadania colocada na página de abertura de seu site oficial: se amar a justiça civil é errado, eu não quero estar certo!

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