4 meses, 3 semanas e 2 dias
Hoje vamos comentar uma história exemplar de cidadania que nos chega do Leste Europeu e que mostra como diferentes organizações de Estado podem influenciar as liberdades mais íntimas dos cidadãos.
Estamos falando do belo filme 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, do romeno Christian Mungiu e que foi o grande vencedor do Prêmio da Crítica do Festival de Cannes de 2007. Depois do reconhecimento internacional, o filme se tornou plataforma para os ativistas contra e a favor do aborto em todo o mundo. Os contrários argumentam sobre o sofrimento das duas jovens, enquanto os adeptos afirmam que nada de mal aconteceria se fosse uma medida legalizada num país livre. A exemplo de Portugal, que comemorou agora em fevereiro um ano de aprovação de sua lei que permite o aborto.
Pois na Romênia de 1987, o regime comunista exercia poder despótico sobre os cidadãos. Para além da recessão econômica que fixava hipócritamente uma taxa de câmbio paritária entre o dólar e o lei, a moeda local, o turista poderia trocar um dólar por até 100 lei. A recessão e a corrupção fazia com que muitos romenos optassem por trabalhar no mercado negro, vendendo produtos de primeira necessidade como sabonetes ou pasta de dentes contrabandeados e oferecendo o que fosse para comprar uma calça jeans de um turista ocidental e revendê-la de forma clandestina. Neste cenário encardido, numa pobre república de estudantes, duas jovens se preparam a arriscada experiência de se submeter a um aborto, pois uma delas está grávida de 4 meses, 3 semanas e 2 dias.
Se comparamos este situação com a vivida pela personagem principal do filme Juno que comentamos há duas semanas atrás, temos uma interessante possibilidade de reflexão sobre as liberdades civis que, por estarem consolidadas no mundo ocidental há tantos séculos, não nos ocorre o seu devido valor na vida cotidiana. Em comparação com Juno, que trata de tema semelhante, podemos ter uma noção precisa dos limites que podem nos impor, ou não, as diferentes organizações de Estado, se mais autoritário, quando quer legislar sobre tudo, ou mais democrático por respeitar as escolhas dos cidadãos e tratá-los como seres adultos com plena consciência de seus atos.
Aqui propomos que comparem a moral das duas histórias e a conseqüência final das diferentes escolhas existenciais das duas adolescentes grávidas.
4 meses, 3 semanas e 2 dias. Assim como Juno, um filme que não podemos deixar de ver e refletir.