Filosofia política – A Voz do Cidadão https://www.avozdocidadao.com.br Instituto de Cultura de Cidadania Tue, 24 Nov 2020 16:47:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.8 Artigo – O que é o conservadorismo, por Mario Guerreiro https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-o-que-e-o-conservadorismo-por-mario-guerreiro/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-o-que-e-o-conservadorismo-por-mario-guerreiro/#respond Tue, 24 Nov 2020 16:46:58 +0000 https://www.avozdocidadao.com.br/?p=39901

                                                         

Apesar este termo ter entrado na teoria e na prática política há três séculos, ainda hoje tem gerado uma série de mal-entendidos. Tentaremos fazer um breve esclarecimento e chegar a um conceito de conservadorismo o mais preciso possível.

Na sua acepção popular, um conservador é um sujeito antiquado, apegado ao passado, avesso às mudanças sociais e políticas, aos novos costumes, etc. Em resumo: um sujeito, na melhor das hipóteses, “quadrado” e na pior, “reacionário”.

No jargão esquerdista, conservador é pejorativamente chamado de “conserva”, contrastando com “progressista”. E o conservadorismo visto como um “retrocesso” em relação às “grandes conquistas sociais” das esquerdas “progressistas”.

Conservador e conservadorismo são termos que tiveram sua origem na linguagem política e não devem ser usados inapropriadamente fora da mesma, a menos que se queira gerar uma grande confusão conceitual.

Tenho razões para pensar que esses termos surgiram na segunda metade do século XVIII, por volta da ebulição de ideias que resultaram na Revolução Francesa (1789).

Isto não subentende que o conservadorismo tenha sido uma dessas ideias fomentadoras dessa Revolução. Ao contrário, geralmente o conservadorismo é contrário a toda e qualquer revolução e, por conseguinte, um crítico acerbo de duas grandes delas: a Revolução Francesa (1789) e a Revolução Russa (1917).

Mas por que é contrário a essas “grandes transformações sociais pelas armas”? Primeiro, porque há outra forma de grande transformação social pacífica levada a cabo por meio de reformas, e esta se mostra mais oportuna. Ser um “reformista” só é motivo de forte reprovação na linguagem dos revolucionários marxistas-leninistas-stalinistas.

Em segundo lugar, porque reformas são coisas planejadas cujas finalidades são conhecidas e aprovadas democraticamente por um Parlamento. Podem cometer erros, mas nada impede que estes sejam corrigidos por outras reformas melhores.

 Já foi dito por alguém, cujo nome não me lembro, que todo mundo sabe como começa uma revolução, mas ninguém sabe como acaba. Daí ela ser considerada um investimento de alto risco, coisa historicamente comprovada pelo fracasso da maioria delas.

Isto não significa dizer que os líderes das revoluções não tenham finalidades a serem alcançadas, mas sim que no curso de uma revolução podem ocorrer fatores imprevistos e mesmo indesejados capazes de desviar a revolução das suas metas.

A Revolução Francesa, por exemplo, tinha em seu lema três ideais:  Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Seus líderes tinham como finalidade instaurar essas três coisas valiosas e admiráveis. Na realidade, um lema maçônico.

Ocorre, no entanto, que determinados fatores imprevistos pelos seus líderes modificaram inteiramente seus propósitos iniciais. Veio a contrarrevolução dos jacobinos e foi implantado O Reino do Terror de Robespierre – o “Rousseau com a guilhotina”, segundo o oportuno epíteto do saudoso embaixador J.O. de Meira Penna.

Apesar de ser muito difícil prever os rumos e o desfecho de uma revolução, um filósofo e político da Casa dos Comuns, Edmund Burke (1729-1797) foi capaz de prever as mazelas e os horrores da Revolução Francesa.

Um ano após a Revolução, quando ela ainda estava na sua primeira fase, Burke publicou um valioso livro: Reflexões sobre A Revolução na França (1790). Nesta obra, ele fez um trabalho semelhante ao de Alvin Toffler em O Choque do Futuro, e de outros analistas de tendências contemporâneos.

Não se trata de dispor de uma bola de cristal, nem de arriscar ousadas previsões históricas, mas sim de avaliar cuidadosamente os fatores mais relevantes de uma particular conjuntura e lançar hipóteses sobre seus prováveis desdobramentos.

E foi exatamente isto que E. Burke fez, como podemos surpreender numa das melhores passagens da referida obra:

 “Posso felicitar esta mesma nação pela sua liberdade? Pelo fato de a liberdade, no seu sentido abstrato, dever ser incluída entre os bens do gênero humano, deverei seriamente cumprimentar um louco furioso, que tivesse escapado da protetora e salutar obscuridade do seu cárcere, pelo fato de ele ter recuperado  a luz e a liberdade? Deverei cumprimentar   um salteador ou um assassino, que tivessem rompido seus grilhões, pelo fato de um ou outro ter recuperado seu direito natural? Isto seria renovar a cena dos remadores das galés e do seu heroico libertador: o metafísico cavaleiro da triste figura. (Reflexões sobre A Revolução na França).

“O cavaleiro da triste figura” é Dom Quixote de La Mancha, tal como ele se autodenominou. Após ter libertado os remadores prisioneiros de uma galé, eles não o agradeceram como ele esperava: queriam comer seu fígado!

E. Burke tem sido considerado o pai do conservadorismo e, por isso mesmo, não podia aprovar uma revolução desejosa de virar o mundo de ponta à cabeça. Como todo bom conservador, ele preconizava reformas mediante uma ação gradualista.

Como membro da Casa dos Comuns e do Partido Whig, ele seria incoerente se fosse contra o regime monárquico constitucional vigente na Inglaterra desde 1690, um ano após a Revolução Gloriosa.

Mas ele não foi incoerente colocando-se contra uma revolução que queria derrubar uma monarquia absolutista, a da Luís XVI, em nome de um regime que não se sabia exatamente qual, e que após infindáveis atritos entre seus líderes, acabou gerando o contragolpe dos jacobinos, o Reino do Terror de Robespierre cujo lamentável desfecho foi o Diretório e em seguida a tirania de Napoleão Bonaparte.

Burke não podia ser a favor da Revolução Americana de 1776, como foi de fato seu compatriota Tomas Paine (1737-1809), que participou ativamente da mesma. Como membro da Casa dos Comuns, isto seria considerado um crime de traição, mas Burke foi o político britânico mais sensato ao ouvir as reivindicações de Benjamin Franklin, como representante diplomático das Treze Colônias.

 Como todos os Founding Fathers, em princípio, Franklin não desejava a independência dos Estados Unidos. Queria permanecer como colônia do Império Britânico, pedia apenas maior autonomia das Treze Colônias, a revogação de impostos injustos e outras coisas da mesma natureza.

Se, mais tarde, no Segundo Congresso Continental – assim se chamava a assembleia dos representantes das colônias americanas – ele aderiu à guerra de independência, foi somente após tentar três vezes uma conciliação com a Inglaterra e não conseguir.

Embora não apoiasse abertamente a independência dos Estados Unidos, Burke não só ouviu com atenção as reivindicações de Franklin, como também enviou para a Casa dos Comuns um projeto que elevava as Treze Colônias ao status de Vice-Reino, tendo representantes americanos no Parlamento britânico,  coisa que teria provavelmente sido aceita pelos americanos,

O trágico episódio da Revolução Francesa não são ensejou o crescimento do conservadorismo, como também foi motivo de duas reações contrárias à Revolução, que resultaram em dois tipos de conservadorismo.

Montesquieu, Voltaire, Condorcet e outros pensadores nunca foram contra a monarquia em si mesma, mas sim contra a monarquia absolutista francesa de Luís XV e Luís XVI. Nunca pensaram em fazer uma revolução para depor o monarca, mas sim em reformas, tais como a que revogasse uma monarquia absolutista e instaurasse uma monarquia constitucional, como tinha feito a Inglaterra um século antes da Revolução Francesa com a promulgação da Bill of Rights em 1689.

Burke, por sua vez, pensava o mesmo que os supramencionados iluministas franceses e, por isso mesmo, colocou-se contra a Revolução, mas a favor de uma reforma do trono francês no sentido de uma monarquia constitucional.

No entanto, após a Revolução, pensadores como Joseph De Maistre (1753-1821) queriam uma restauração do trono absolutista. Ele, De Bonald e outros eram conservadores retrógrados, pois queriam o retorno de uma forma monárquica absolutista destruída pela Revolução Francesa.

Mas Burke era conservador do status quo vigente há um século na Inglaterra e vigente até hoje. Neste sentido, Burke rejeitava a Revolução Francesa assim como rejeitava também a restauração proposta por De Maistre e De Bonald. E caso estivesse vivo, certamente rejeitaria a revolução da Comuna de Paris de 1871 e sua netinha o golpe bolchevista que sucedeu a Revolução Russa (1917).

Ambos os conservadorismos, o inglês e o francês, tinham um ponto em comum: a conservação do status quo, com a diferença de que o primeiro queria conservar um  status quo de um estado de direito democrático – o parlamentarismo britânico – mas o segundo queria conservar um status quo tirânico – o absolutismo do ancien régime.

Creio que o conservadorismo francês é que foi o responsável por essa caricatura do conservador como alguém retrógrado, antiquado, avesso às mudanças de costumes e políticas.

E embora o conservadorismo de Burke tenha se disseminado por monarquias constitucionais posteriores – a da Holanda, da Bélgica, dos países escandinavos – à exceção da Finlândia, que é uma república parlamentarista – ambos os conservadorismos continuaram tendo seus adeptos ao longo da História.

Em Portugal, por exemplo, após o fim da Revolução dos Cravos (e Espinhos), de 1974, havia dois partidos monarquistas: um monárquico-constitucional e outro monárquico-absolutista, e isto, pasmem!, em  pleno século XX! Só pode ser um dos ecos da maligna influência francesa,                                   

Mas o conservadorismo, embora tenha nascido na monarquia constitucional britânica, não é uma concepção atrelada à monarquia constitucional, pois nada impede que ele exista numa forma republicana, como de fato existe, não como um partido, como o Conservative Party (Tory) do Reino Unido, mas como uma facção política bastante influente, como por exemplo o Tea Party americano.

[A palavra “party” é ambígua, pois tanto pode significar “partido” como pode significar “festa”, mas no caso do Tea Party, trata-se da Festa do Chá em alusão a um episódio marcante ocorrido em Boston, pouco antes da Revolução Americana e que influenciou os revolucionários da guerra de independência].

Além da preferência pelas reformas e pelo gradualismo, em vez de mudanças bruscas e radicais como são as revoluções, o conservadorismo se caracteriza grande apreço pela experiência histórica e pelas tradições de um povo, pela cautela e moderação na atividade política. Pode-se dizer que Sir Winston Churchill foi a encarnação do conservadorismo britânico.

É mais uma postura ética diante da política do que uma filosofia política, mas carece de uma posição própria em relação à Economia Política, o que leva alguns conservadores a adotar o liberalismo, como são os casos de Churchill e da grande líder pós-guerra do Partido Conservador (Tory): Margaret Thatcher – The Iron Lady, como costumava chamá-la Leônid Brejnev, o Primeiro-Ministro da extinta URSS.

Além disso, o conservadorismo considera algo impensável a dissociação de ética e política ocorrida na História graças a influência de Maquiavel. Até a publicação de O Príncipe em 1532, o pensamento dominante na civilização ocidental era a visão aristotélica, segundo a qual a política era uma extensão da ética no domínio público.

Não só o caso de Thatcher, mas também do atual Primeiro-Ministro Boris Johnson (Tory), que governa o Reino Unido numa coligação com o Partido Liberal.

Coisa surpreendente é que encontramos a melhor caracterização do conservadorismo num indivíduo não voltado para a vida e/ou a teoria política: “Senhor, dai-me forças para modificar o que deve ser modificado, aceitar o que não pode ser modificado, e saber reconhecer a diferença entre ambos” (São Francisco de Assis).

 Não é preciso ser católico, nem mesmo cristão, nem mesmo religioso, para reconhecer a grande sensatez dessas palavras.

  • Mario Guerreiro, doutor em filosofia pela UFRJ
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Artigo – do DCSP: “Babau! Na terra das fake news ninguém investe!”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-dcsp-babau-na-terra-das-fake-news-ninguem-investe-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-dcsp-babau-na-terra-das-fake-news-ninguem-investe-por-jorge-maranhao/#respond Thu, 17 Sep 2020 13:52:17 +0000 https://www.avozdocidadao.com.br/?p=39880 Como um empreendedor pode tomar alguma decisão sobre investimento, ou mera alocação de recursos, em meio à guerra de narrativas das mídias de massa, do judiciário cativo de ativismo e de uma academia de intelectuais militantes? 



Diante do brain drain nacional, pensei em criar Associação Internacional dos Brasileiros Autoexpatriados, cuja sugestiva sigla poderia ser Babau Brasil. Estando longe, e talvez por isso mesmo, ela possa fazer mais pelo país, antes que os esquerdistas e seus inocentes úteis acabem de vez com nossas parcas esperanças.

Pois a visão de fora deve ser mais fidedigna do que a visão de dentro, dos que permanecem cativos das grandes redes de desinformação da extrema imprensa.

Mesmo os autoexilados do Brasil profundo, o rico agrobusiness que do interior sustenta a vagabundagem urbana, alheios à bolha progressista dos grandes centros urbanos, se informam pela mídia internacional setorizada e na realidade concreta dos maiores importadores de alimentos do mundo!

E não caem na bavardage estéril dos comentaristas de bastidores dos podres poderes de Brasília.

Apesar da vergonha internacional de nosso Supremo Jeitinho, que persegue com censura, mandados de busca e apreensão e até mesmo de prisão inúmeros cidadãos comentaristas de nossa miséria política e cultural, ainda não conseguiu calar a boca de nossos comentaristas que falam do exterior.

Acompanho algumas dezenas deles e é impressionante a diferença do Brasil que narram, do Brasil que nos apresentam os jornalistas “profissionais” da grande imprensa extrema, corporativista e esquerdalhada. E a cada dia que passa, mais e mais cidadãos cancelam suas assinaturas da grande mídia e passam a seguir e assinar nossos comentaristas espontâneos de centenas de blogs e canais que já não tenho tempo de acompanhar tantos.

Todavia, há exceções numa pequena trincheira de grandes nomes do jornalismo profissional independente com colunas em alguns veículos de porte médio como Alexandre Garcia, Augusto Nunes, Guilherme Fiúza, J. R. Guzzo, Caio Coppolla, Diogo Mainardi, Felipe Moura Brasil, José Nêumane Pinto, Luiz Ernesto Lacombe e alguns outros.

Mas o fenômeno impressionante mesmo é dos próprios cidadãos dos mais variados setores profissionais botando a cara nas redes sociais para opinar sobre a cena política: além de jornalistas independentes, advogados, promotores, juristas de renome, economistas, historiadores, filósofos, cientistas sociais, pesquisadores, cientistas, médicos e até mesmo alguns empresários comprometidos em monitorar e vigiar os desmandos e desvarios de Brasília.

Proponho apenas que nos reunamos todos na Babau Brasil para nos manifestar em coro e em torno de uma pauta estratégica de consolidação das conquistas da aliança entre conservadores e liberais, desde 2013 a 2018, sobretudo para impedir que a esquerdalha retorne em 2022 com seu populismo e enganação geral. E o país, que já foi de cem milhões de técnicos de futebol, passe a ser agora uma barreira de cem milhões de cidadãos políticos.

Evidentemente que uma pauta estratégica deve priorizar não apenas uma desratização das instituições de estado, do executivo, legislativo e judiciário, tomadas por mistificadores e contorcionistas nos últimos 30 anos de governos esquerdistas, como também as instituições da sociedade civil de educação, representação empresarial, imprensa, entretenimento, sindicatos e igrejas. 

Sobretudo na imprensa que reverbera, não apenas a “barulhenta e vibrante democracia brasileira”, no dizer de Paulo Guedes, como a guerra maior da desinformação maliciosa de jornalistas que permanecem nos bunkers da grande mídia para solapar o governo com a maior torção que já tivemos notícia em nossa história: o sentido mesmo das alegadas fake news.

Pois é bom lembrar que não se trata de um fenômeno novo nem sequer brasileiro, pois boatos sempre existiram desde que se disputa poder político na história da humanidade. Na sua versão contemporânea, todavia, o uso do termo foi um alerta da campanha de Donald Trump contra a mídia convencional que sustentou até o último minuto que ele não ganharia as eleições americanas.

Caso semelhante ocorreu no Brasil no embate de Bolsonaro contra poderosas organizações de mídia como Rede Globo e Folha de São Paulo. E nem por isso, seus jornaleiros botam a mão na consciência, como a petralhada bandida, para se retratar com a opinião pública.

Ao contrário, com a campanha do “Fato ou fake”, a Rede Globo sequestrou o sentido e inverteu a acusação que, se
originalmente era de políticos conservadores contra a infiltração esquerdista da grande mídia, passou a ser o combate contra os cidadãos conservadores e liberais que dão sustentação ao presidente eleito – o que acabou arrastando membros do legislativo e do Pretório Excelso do Supremo Corte para a aventura desmoralizante do “Inquérito do fim do mundo”.

E esse é o ponto que temos todos de entrar em consenso. Pois a fake news surgiu exatamente como uma denúncia de uma voz vitoriosa conservadora do mundo contra uma hegemonia progressista da imprensa que fica distorcendo a realidade.

Quando a própria tentativa de progressistas em eliminar os conservadores se torna uma contradição em termos, uma vez que não se pode verificar progresso sem o ponto de partida conservador. Quando, hoje se sabe, conservadores não são contra o progresso, se não quando às custas de valores da tradição humanista, o que na verdade é regresso.

Sobretudo para nós, desprovidos de alta cultura e senso de discernimento, imersos em nossa mentalidade barroquista miserável: o que era uma denúncia de um conservador contra os progressistas, que sempre colocaram a farsa acima do fato, se contorciona numa arma dos progressistas contra os conservadores com o novo rótulo de fake news. O máximo da torção que pode existir e que é típica da cultura barroquista brasileira.

A partir de agora, se trata de consolidar o que promete ser o início de uma era iluminista, enfim, cuja oportunidade e responsabilidade só cabe a nós. Pois o iluminismo, desde a Renascença europeia, que não nos alcançou devido o assalto barroquista, não se iludam, não foi feito apenas de grandes ideias de grandes artistas, filósofos e cientistas. Mas sobretudo de empresários que as financiaram na prática.

Por isso proponho que tenhamos uma pauta mínima comum de pensamento e ação diante desta guerra de narrativas por que passa a cultura política, jurídica e social brasileira, iniciada a partir das megamanifestações de 2013, com vistas a se consolidar ou dispersar em 2022.

Quando da passagem de dois séculos de barroquismo mental brasileiro teremos a oportunidade histórica de completar a primeira década de relativo e impúbere iluminismo, com a resistência do mestre de todos nós, o filósofo Olavo de Carvalho, ele próprio um autoexilado e sem nenhuma dúvida nosso maior exemplo de brain drain.

Como lema da associação, lanço a sugestão: “antes de cuspir na terra que te pariu, pergunte o que ganhas com isto e o que tens feito para ajudar o Brasil a superar seu impasse civilizatório”?

Por que está cada dia mais claro que, ou saímos desta, juntos, ou estaremos todos condenados a mais algumas décadas de crescimento do tipo marcha-soldado e, pior, com as esquerdas tendo “tomado o poder”, no dizer de seu guru ideológico, para perpetuar a cultura da barbárie do “quanto pior, melhor”, típica retórica do paradoxo barroco-esquerdista.

E conclamo sobretudo nossos empreendedores para o enfrentamento dos dez segmentos boicotadores do crescimento nacional como já me referi aqui em artigo anterior. Através de grupos de discussão mais aprofundada das causas do impasse brasileiro e suas possíveis saídas.

Pois, como um empreendedor ou investidor pode tomar alguma decisão sobre investimento, ou mera alocação de recursos, meio à guerra de narrativas das mídias de massa, o dito jornalismo profissional progressista, um judiciário também cativo de ativismo judicial, uma academia de intelectuais militantes de ideologias esquerdistas hegemônica?

Este é o impasse brasileiro, em conluio com a privilegiatura da alta burocracia, dos políticos fisiológicos, artistas e onguistas mamadores das tetas do Tesouro: impasse cultural, de uma resiliente cultura barroquista que habita nosso imaginário! Que tudo falseia, escamoteia, torce e distorce, retorce e contorce, como na tese de meu livro que você pode conhecer aqui. E que servirá de roteiro para nossos grupos de cidadania corporativa. 

Exemplo? Quando o presidente nos questiona e diz para nos compararmos a Israel, tudo que eles não têm e o que tanto fazem de tão pouco, e tudo o que nós temos de riqueza natural e o tão pouco que somos, e não dá a resposta, eu ouso dá-la: somos cativos de uma narrativa hegemônica de três séculos quando achamos “que Deus provê”, “em se plantando tudo dá” (nosso sucesso real, por sinal), não desfazemos as narrativas imaginárias, fantasiosas, da “segunda realidade quixotesca”, da mentalidade revolucionária denunciada por Olavo de Carvalho, da paralaxe cognitiva, quando queremos crer que a realidade se constitui de nossas crenças.

A ideologia esquerdista materialista é a nossa maior desgraça cultural pois filha dileta e expressão da resiliência secular de nosso barroquismo mental. E para superar este impasse temos de nos conscientizar minimamente da guerra de narrativas e estabelecer o consenso sobre algumas poucas prioridades estratégicas, uma única pauta viável para o país superar a armadilha do baixo desenvolvimento. Como tenho dito:

1. Influenciando de todos os meios possíveis para que os dirigentes e editores das grandes redes de mídia passem a contratar jornalistas e produtores de conteúdo liberais e conservadores para compensar a hegemonia esquerdista das últimas décadas e restabelecer a qualidade do debate público, consolidando a virada iluminista iniciada em 2013, o que já tem ocorrido em algumas poucas redes, como Jovem Pan, Gazeta do Povo, O Antagonista e centenas de canais das redes sociais;

2. Exigindo dos parlamentares o compromisso de mudança do atual sistema de indicação política de ministros das cortes superiores, com o fim de despolitizar a justiça – pois o Supremo Jeitinho hoje nada mais é do que o puxadinho de nanicos partidos de oposição esquerdistas incompetentes eleitorais e legislativos. Além de pressionar pela retomada da tramitação dos processos de impeachment de alguns sinistros do atual Supremo;

3. Exigindo dos políticos a retomada da reforma política com voto distrital puro, voto facultativo, impresso e cláusula de barreira e de desempenho (recall);

4. Exigindo a mudança do sistema de indicação de reitores para as universidades públicas, restabelecendo gestão por desempenho, o critério de mérito e garantindo a pluralidade de ideias;

5. Exigindo a abertura do sistema de produção, gestão e de incentivo cultural para a participação equânime de agentes produtores de conteúdo conservadores e liberais ao lado de progressistas, e só eleger congressistas com compromisso firmado com essa e as quatro medidas anteriores.

Não há nada mais estratégico. Mas se você discorda, nos escreva para o nosso e-mail: [email protected]. E participe de nossos grupos de agentes de cidadania, do curso de cidadania corporativa cujo programa você pode acessar aqui, e nos convença de uma outra agenda mais estratégica. O tempo urge e o que está em jogo é você poder legar no Brasil o patrimônio que construiu aqui para seus filhos e netos, sem ter de engrossar o quadro da Babau Brasil.  


Jorge Maranhão  | Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”.
Email: [email protected]

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Filosofia política – boa chance de se aprender a diferença entre militância e adesão a uma liderança https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-boa-chance-de-se-aprender-a-diferenca-entre-militancia-e-adesao-a-uma-lideranca/ https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-boa-chance-de-se-aprender-a-diferenca-entre-militancia-e-adesao-a-uma-lideranca/#respond Tue, 17 Sep 2019 14:26:40 +0000 https://www.avozdocidadao.com.br/?p=39500 Mais uma vez o professor Olavo de Carvalho é motivo de polêmica nas redes sociais sobre suas observações a cerca do cenário político brasileiro contemporânea e as prioridades de ação dos cidadãos mais atuantes da política nacional. Acompanhe e compartilhe!

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Educação política – Entendendo conceitos como direita x esquerda por conservadores x progressistas https://www.avozdocidadao.com.br/educacao-politica-entendendo-conceitos-como-direita-x-esquerda-por-conservadores-x-progressistas/ https://www.avozdocidadao.com.br/educacao-politica-entendendo-conceitos-como-direita-x-esquerda-por-conservadores-x-progressistas/#respond Mon, 06 May 2019 16:56:17 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br/?p=30558 Há muitos que negam este debate, sempre tão barrocamente distorcido no Brasil, mas até para negar e alegar o anacronismo de conceitos usuais como direita x esquerda, é importante pensar na tensão entre conceitos como conservadorismo x progressismo!

Acompanhe o canal do professor Icles Rodrigues e se ilustre mais sobre estes e outros importantes conceitos da teoria política.

“Atualmente, os conceitos de direita e esquerda no Brasil (ainda que não apenas aqui) estão entre aqueles que são mais distorcidos de forma leviana com fins políticos e ideológicos, a ponto de algumas pessoas distorcerem a própria História por conta dos equívocos gerados pela falta de entendimento a respeito das definições clássicas desse conceito. Isso cria graves problemas de ordem moral, que apenas pioram um contexto social já bastante polarizado, no qual vivemos e que nos afeta diretamente em nossas relações sociais. O vídeo de hoje tenta colocar algumas coisas em seus devidos lugares.”

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Artigo – Do Vespeiro: “Democracia direta: a verdadeira e a ‘fake'”, por Fernão Lara Mesquita https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-vespeiro-democracia-direta-a-verdadeira-e-a-fake-por-fernao-lara-mesquita/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-vespeiro-democracia-direta-a-verdadeira-e-a-fake-por-fernao-lara-mesquita/#respond Tue, 12 Mar 2019 14:25:41 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br/?p=30365

A capacidade de adaptação às mudanças sempre foi o fator decisivo de sobrevivência das espécies. Nas sociedades humanas também. A velocidade de resposta das instituições à mudança é o fator decisivo de sucesso.

Os Estados Unidos só viraram o que são hoje porque ao longo de todo o século 20 tiveram um quase monopólio da flexibilidade institucional que a vida como ela é requer. O resto dos países europeus, dos quais o Brasil é um prolongamento, não nasceram democráticos como eles. Foram obrigados a se ir democratizando, de confronto em confronto, pelos oprimidos do absolutismo que conheciam do novo sistema inventado na América e os encantava pelos efeitos que produzia pouco mais que ecos.

Foi esse desconhecimento que permitiu que tantos adotassem da democracia o discurso mas mantivessem do absolutismo a essência. Os portugueses foram os mestres dessa arte. No “sistema corporativo” que inventaram, a “cabeça” (antes o Imperador e depois da Republica o Judiciário, o poder não eleito que herdou as prerrogativas dele) reserva a cada parte do “corpo” o “direito especial” que houver por bem lhe outorgar.

Esse “especial” e o poder de distribui-lo ao seu belo prazer, a exata negação da essência da democracia cuja base é a igualdade de direitos, é o que nos mantém, a eles no poder, e a nós na servidão semi-feudal de que nunca saímos. Da “direita” ou da “esquerda”, com ou sem “revoluções”, eles vêm sempre dos 5% da população que recheiam as corporações que controlam o estado, as estatais e o poder de se auto-atribuir privilégios.

O círculo não foi rompido com o advento do governo Bolsonaro. O que ele representa é um movimento de subversão da hierarquia interna do “sistema” obtido com o recurso às redes sociais num momento em que a crise do estado levou o antigo caminho das urnas a um desmonte parcial. O governo eleito vem do “baixo clero”, sim, mas da mesma “nobreza” de detentores de privilégios em que o país continua dividido desde que foi arrancado de sua “americanidade” pela invasão do Rio de Janeiro pela corte portuguesa em 1808.

Tiradentes foi o último episódio realmente revolucionário do Brasil. Sendo a unica revolução real da humanidade a que decorre da “iluminação” da conquista da autonomia na busca da verdade que só a educação proporciona, a manutenção da sombra da ignorância é, como sempre foi, a arma essencial do status quo. Com o recrudescimento da censura, depois do enforcamento do alferes, a toda referência que não fosse européia que a Republica não conseguiu romper, quem sonha com mudanças no Brasil sonha com os efeitos de um processo cuja mecânica o país inteiro desconhece quase absolutamente, e que é fruto de uma tecnologia de construção de instituições cheias de sofisticadas sutilezas. É nisso que reside a nossa maior dificuldade. O que se pode reformar, para colher lá na frente esta ou aquela mudança real de rumo de uma sociedade, são as instituições. Mas muito maior que a dificuldade de saber como conseguir abrir a porta a mudanças tem sido a de formular quais mudanças, exatamente, é preciso fazer para colher a democratização que todos desejam.

A História tem seus caprichos. Bolsonaro não é a revolução mas chega no momento em que ela se tornou inevitável. Uma vez no poder, deu-se conta, por meio de um eficiente trabalho intensivo de informação de sua equipe econômica, da urgência e da gravidade terminal da crise da previdência. Conduzido por ela, vai bater na barreira de sempre. O medo de cair no vácuo venezuelano levou a uma supervalorização da constituição antes da definição da sucessão pelas redes sociais. Mas o fato é que, na ausência do “direito divino”, ela foi transformada no congelador de privilégios da hora. E tem sido brandida como antes brandia-se a heresia para impedir avanços.

A verdade é a unica arma capaz de romper essa barreira. A reforma de Paulo Guedes, por mais próxima que chegue da profundidade com que foi desenhada, apenas abrirá a porta a um processo de ajustes permanentes em que o Brasil terá de se engajar daqui por diante, dadas as mudanças na extensão da vida humana, nas relações de trabalho, nos costumes, em tudo, enfim, que até aqui descrevia a condição humana. A previdência, assim como tudo o mais na ordem institucional brasileira e mundial passa a ser um processo em permanente evolução que vai requerer retoques em velocidade alucinantemente crescente. Se nunca fez sentido enfiar privilégios previdenciários na constituição, portanto, agora faz menos ainda. Desconstitucionalizar a previdência é, portanto, um objetivo absolutamente prioritário.

A forma como a vida nacional já vem sendo decidida através das redes, contornando instituições esclerosadas, proporciona uma sensação de alívio neste primeiro momento de “vingança” dos “sem voz”, mas não passa de uma reprodução perigosamente tosca do que os suíços vêm praticando ha 729 anos e os americanos de lá importaram ha cerca de 120. Como toda ferramenta esse expediente serve, porém, a quem quer que recorra a ele, para o bem ou para o mal. O que tira desse sistema o seu potencial venenoso é a construção de um modelo confiável de representação do país real no país oficial. Não ha mal nenhum em que o povo encurte os caminhos das suas relações com o governo desde que seja para REFORÇAR a representação aumentando o poder de cada representado sobre O SEU representante. Isso só se consegue com eleições distritais puras. Desde que se saiba exatamente qual representante representa cada conjunto de brasileiros, não ha mal nenhum, muito ao contrário, em que a relação entre eles seja a mais direta possível, para fazer ou desfazer leis, para encurtar ou encompridar mandatos. Mas se esse encurtamento partir do governo, o resultado é opressão.

Nesse sentido, os Bolsonaro vêm “acertando no errado”, o que lhes tem rendido  poder, aquela coisa que corrompe sempre e corrompe absolutamente quando é absoluto. Por isso é bom não esquecer jamais. Não existe democracia sem representação.

Fernão | 12 de março de 2019 às 06:47

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Filosofia – Pouco antes das eleições, o filósofo Olavo de Carvalho explica o sentido de toda a sua obra https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-pouco-antes-das-eleicoes-o-filosofo-olavo-de-carvalho-explica-o-sentido-de-toda-a-sua-obra/ https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-pouco-antes-das-eleicoes-o-filosofo-olavo-de-carvalho-explica-o-sentido-de-toda-a-sua-obra/#respond Sun, 18 Nov 2018 15:30:33 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29736 Vale a pena ouvi-lo, não apenas pela sua influência para com o presidente eleito e seus mais próximos seguidores, mas como um roteiro do que pode se transformar o Brasil nesta torção cultural ao pensamento conservador. Vale a pena ver como o próprio filósofo, independente da consideração de sua maior ou menor simpatia pessoal que muitos questionam, classificar ele próprio a sua obra entre a que ele realmente quer construir como crítica às raízes do pensamento ocidental judaico-cristão, e a que ele teve de se dedicar por exigência do momento histórico brasileiro. Acompanhe e compartilhe.

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Filosofia política – Nunca foi tão oportuno para o Brasil de hoje entender o significado da Revolução Francesa https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-nunca-foi-tao-oportuno-para-o-brasil-de-hoje-entender-o-significado-da-revolucao-francesa/ https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-nunca-foi-tao-oportuno-para-o-brasil-de-hoje-entender-o-significado-da-revolucao-francesa/#respond Sat, 15 Sep 2018 17:07:40 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29491 Veja um trecho do seminário do prof. Olavo de Carvalho sobre o significado da Revolução Francesa diante da situação política brasileira de acirramento entre “girondinos e jacobinos”, direita e esquerda.

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Filosofia política – Para Roberto Romano, a mudança na cultura política brasileira está mais nas mãos dos cidadãos do que na Lava Jato. Veja por que https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-para-roberto-romano-a-mudanca-na-cultura-politica-brasileira-esta-mais-nas-maos-dos-cidadaos-do-que-na-lava-jato-veja-por-que/ https://www.avozdocidadao.com.br/filosofia-politica-para-roberto-romano-a-mudanca-na-cultura-politica-brasileira-esta-mais-nas-maos-dos-cidadaos-do-que-na-lava-jato-veja-por-que/#respond Mon, 11 Jun 2018 14:55:27 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28659 Vejam a excelente entrevista que o filósofo da ética pública brasileiro deu à revista Veja desta semana. Uma lição de cidadania para que não tenhamos vãs e infundadas expectativas.

“A Lava-Jato trabalha com as consequências, não com as causas dos nossos problemas”, diz o filósofo. Para solucioná-los, será preciso empreender discussões árduas, que abranjam desde a responsabilidade do próprio cidadão em monitorar seu município até a criação de uma nova Constituição.

https://veja.abril.com.br/revista-veja/a-solucao-somos-nos/

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Valores morais – Nada mais adequado para o Brasil de hoje: Lord Bertrand Russel explica o que significa o amor https://www.avozdocidadao.com.br/valores-morais-nada-mais-adequado-para-o-brasil-de-hoje-lord-bertrand-russel-explica-o-que-significa-o-amor/ https://www.avozdocidadao.com.br/valores-morais-nada-mais-adequado-para-o-brasil-de-hoje-lord-bertrand-russel-explica-o-que-significa-o-amor/#respond Sun, 03 Jun 2018 14:52:37 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28608 É na república que chegamos ao auge a crise de valores morais que a cultura barroquista nacional acumulou desde a Colônia.  A propósito deste célebre pronunciamento de Lord Bertrand Russel sobre o que gostaria de transmitir às futuras gerações, podemos entender o valor da sabedoria e da tolerância contra a nossa vã pretensão voluntarista. Assim como o verdadeiro sentido do amor, que os positivistas de nossa república farsante fizeram questão de excluir da bandeira. Pois não entenderam o sentido clássico do amor como justiça, como o ágape devido ao povo pelos seus verdadeiros líderes. Nada mais apropriado para a omissão de verdadeiras elites do Brasil de hoje, onde todos parecem querer impor a irracionalidade de que todos podem enganar a todos durante todo o tempo, parodiando o célebre preceito de Abraham Lincoln. Onde teremos, queiramos ou não, de enfrentar a realidade de que os pretensos direitos, que na verdade são privilégios absurdos, não cabem em nenhum orçamento público. Quanto mais numa constituição que mais parece vilã do que cidadã.

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Livros – Uma filosofia política: argumentos para o conservadorismo, por Roger Scruton https://www.avozdocidadao.com.br/livros-uma-filosofia-politica-argumentos-para-o-conservadorismo-por-roger-scruton/ https://www.avozdocidadao.com.br/livros-uma-filosofia-politica-argumentos-para-o-conservadorismo-por-roger-scruton/#respond Sun, 01 Apr 2018 16:53:55 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28349 O que torna especialmente importante a leitura do maior pensador conservador britânico da atualidade, Roger Scruton, sobretudo no Brasil, é que entre nós foi banida a doutrina conservadora do espectro político no debate público, com a hegemonia esquerdista da “inteligência” nacional nos últimos 50 anos.

A começar pela tradução de “conservatism” por “conservadorismo”, e não “conservantismo” como existe na língua portuguesa, expressando e conotando mais a doutrina em si, política e filosófica, de conservar como visão de mundo, do que a atitude em si de reagir contra o progresso, e não contra o progressismo. Uma vez que o progresso é inevitável na história da humanidade, mas não e necessariamente às custas dos valores morais humanistas da tradição judaico-cristã. Se liberalismo é a causa do liberal, socialismo do socialista, monarquismo do monarquista, por que não é o conservantismo a causa dos conservantistas, ao invés daqueles que reagem ao progressismo e não ao progresso, o que seria desrazoável? Se existe algo que não advoga um conservantista é exatamente as torções do olhar, as retorções da conduta, as contorções do sentir, as distorções do pensar. Seu compromisso é exatamente com a destorção do mundo das impressões, dos sentidos, das emoções, da tolerância e relativismo humanos.

Mas não criemos ruídos desnecessários na fácil comunicação de Scruton para com os cidadãos providos ao menos de bom senso. Deixemos a discussão sobre a corrupção dos valores morais que sempre está por trás do que ele chama de novilíngua em homenagem a seu conterrâneo Orson Welles de 1984.  Depois retomaremos este ponto, pois não há rupturas linguísticas que não comprometam o compartilhar das ideias. E o limite das licenças poéticas que pode suportar uma língua é sua eficácia funcional de comunicação.

Os 11 capítulos são originários de ensaios, artigos, palestras e conferências singulares, mas sempre com o fio condutor da visão cética dos conservadores e sua necessária contraposição aos ideais esquerdistas que, na experiência da história recente, levaram a humanidade a tantos impasses, desde a atuação dos jacobinos na Revolução Francesa, até os bolchevistas na Revolução comunista russa, o nazismo alemão e o maoismo chinês.

A partir de temas precisos e variados, que estão presentes nas discussões cotidianas – como patriotismo versus nacionalismo, ambientalismo versus sustentabilidade, respeito aos animais e vegetarianismo, aborto e apropriação do corpo, suicídio assistido, o matrimônio como rito de passagem, diversidade de gênero e sexo, novilíngua como corrupção de valores e da própria língua, religiosidade e secularismo –, Scruton oferece uma visão coesa da política, fundada no respeito às tradições e no cuidado pela cultura local.

O conservadorismo defendido por Scruton implica na superioridade cultural do direito consuetudinário inglês sobre o direito positivo continental, quando aquele é mais baseado no discernimento e responsabilidade das escolhas individuais dos cidadãos do que na douta exegese da lei de um magistrado singular ou na interminável cultura recursista do direito positivo dos tribunais. Vide o Brasil de hoje.

A definição de conservantismo, tal como entende Scruton, implica na manutenção da ecologia social, na conservação dos recursos sociais, materiais, econômicos e espirituais da humanidade. O patriotismo é a expressão da lealdade à pátria contra o nacionalismo que implica na xenofobia.  A soberania dos cidadãos sobre a organização das repúblicas é que sustenta a legitimidade dos parlamentos – sobretudo os monárquicos que dividem a representação de governos e Estados independentes das nações, sempre prioritárias diante das decisões de ordem de organizações multinacionais ou multiculturais.

Não a “oikofobia” reinante da doutrina gramsciana de sobrevalorização da “cidadania planetária”, um mito infundado pois impossível de fomentar o controle social efetivo dos cidadãos sobre organismos multinacionais (quem são os “cidadãos europeus” a quem presta contas o Parlamento europeu?), e hegemônica no pensamento esquerdista e socialdemocrata mundial que desvaloriza a lealdade nacional da tradição dos costumes políticos da história humana.

Muito embora prefira falar de novilíngua para explicar a corrupção da língua e dos valores, na verdade Scruton está a se referir implicitamente à hegemonia da revolução cultural gramsciana que domina o mundo do pensamento das elites nacionais europeias a partir do pós-guerra. Como a aceitação leniente do casamento gay como evento simplesmente civil sobre a tradição do casamento heterossexual como sacramento e rito de passagem da tradição judaico-cristã. Como a relativização do valor da vida decorrentes do aborto à mudança cirúrgica de sexo, sob a falsa alegação de propriedade do corpo pelo indivíduo contra a doutrina religiosa do dom divino.

A crítica fecunda que faz dos pensadores esquerdistas do último século destaca os pensadores franceses da revolução cultural de 68 que se intitulam pós-modernistas, ou estruturalistas, que na verdade estavam a questionar a “ordem burguesa” através de seu relativismo moral secularista e gramsciano, sem uma proposta do que colocar no lugar das instituições sociais que antecedem mesmo a “ordem burguesa”, sem, no entanto, abrir mão de valores como o estado do bem-estar social, a segurança jurídica e estabilidade de emprego, a segurança pública dos próprios aparelhos de repressão do Estado, a propriedade privada, o consumismo e as liberalidades de expressão individuais. Veja-se, cita Scruton, o paradoxo de Nietszche sobre a verdade que, para ele, não passa de interpretações de época, o que só pode ser verdade se não for verdade obrigatoriamente.

Além de eleger o pós-modernismo como trincheira da luta conservadora, Scruton passa ao largo de seus antecedentes do romantismo ao barroquismo, talvez por este último ter sido quase inexistente na cultura saxã ou mesmo absorvido na tradição romântica e modernista inglesa. Mas é sem dúvida na reação barroquista ao iluminismo da Renascença a origem da hegemonia da crença sobre a ciência, das emoções individuais sobre os costumes morais. Como sempre dizemos, o que é o romantismo se não a recidiva do Barroco? E o modernismo se não o último grito do romantismo, antes de sua subjugação secularista e pós-moderna? Scruton cita Unamuno: “Perdemos o sentido trágico da vida”, que meu destino é inexoravelmente determinado pelos deuses e desta verdade não posso e nem me cabe escapar.

Se na cultura pós-modernista vivemos o secularismo da profanação do sagrado e do sacramental, contra a presença simbólica de Deus no ensino religioso e na educação moral das escolas, nos tribunais dos países ocidentais e até mesmo nas cédulas do dinheiro, é porque sucedemos a soberba da tentação do romantismo de um homem senhor de seu destino, assim como o Barroco inaugurou o relativismo moral de um homem glorificado por outros homens.

Mas o ponto alto da argumentação de Scruton é a desconstrução do marxismo com a sua glorificação do Estado autônomo da soberania do cidadão, o que resultou no terrorismo institucional da Revolução Francesa, no holocausto bolchevista, leninista, stalinista e comunista, culminando com a banalidade do mal nacional-socialista alemão. E este último foi o precursor do recurso da novilíngua que inverteu o significado do mal como capitalismo. Assim como a Eurolíngua distorce a concepção de autonomia nacional pela contorção da noção de subsidiariedade.  A língua oficial e perversa da burocracia supranacional da União Européia, prenhe de retórica vã, de eufemismos, expressões cultistas e floreadas para enganar o senso comum dos cidadãos. Correspondente aos idioletos dos médicos e dos causídicos apenas para lhes justificar a indispensabilidade de seu douto saber, seus interesses corporativistas e seus altos honorários. Cita para tanto a autora francesa Françoise Thom, em sua deliciosa tese sobre La langue de bois, cujo propósito da novilíngua comunista ou da eurolíngua supra-nacionalista europeia nada mais é do “proteger a ideologia  dos ataques maliciosos realizados pelas coisas reais.” Nada mais ironicamente bem achado. 

O que nos remete imediatamente à realidade brasileira, cujas velhas política e justiça são prenhes da arqui-língua barroquista da farsa, ironia, paradoxo e circunlóquios que sufocam o surgimento de uma nova política.

Veja mais em http://www.erealizacoes.com.br/produto/uma-filosofia-politica—argumentos-para-o-conservadorismo

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