Flip, Gilberto Freyre e a identidade nacional

Começa amanhã e vai até domingo, dia 8, no sul do estado do Rio de Janeiro, a aguardada Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. Esta será a oitava edição do evento, que sempre conta com grandes autores nacionais e internacionais.

Para este ano, estarão presentes nomes como Salman Rushdie, Isabel Allende, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, e muitos outros. Ao todo, serão 200 eventos, dentre debates, shows, exposições, oficinas, exibições de filmes e apresentações de escolas.

Este ano o tema é de especial interesse para a cidadania. O homenageado em 2010 será o mestre Gilberto Freyre, autor de uma das grandes obras sobre o Brasil: Casa Grande & Senzala. Ao lado de Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Ariano Suassuna, Gilberto Freyre é um dos grandes intérpretes da brasilidade, cuja obra e pensamento são fundamentais para conhecermos nossas origens e compreendermos nossa identidade cultural, primeiro passo para transformar nossa cultura de impunidade e ilegalidade numa verdadeira cultura de cidadania. E sobretudo superar a miséria de nossa representação política que a duras penas estamos revertendo nesta nossa ainda jovem democracia.

Freyre foi o primeiro que estuda o hibridismo entre as três principais etnias que formam a nossa chamada brasilidade: o indígena, o português e o escravo negro. Casa Grande & Senzala, obra-prima de nossa identidade cultural, examina as relações de convivência e influência que sobredeterminaram as relações de dominação dos senhores de engenho sobre os negros africanos. Ao contrário do que ocorre na América Hispânica, onde os países foram feitos pela Espanha e pela Igreja, o Brasil foi feito pela família patriarcal.
Portugal e a Igreja aqui ficaram submetidas à pátria família dos escravocratas. Daí as dicotomias estudadas por Gilberto Freyre: Casa grande & Senzala, Sobrados & Mocambos, Ordem & Progresso e o inconcluso Jazigos & Covas Rasas.

Gilberto Freyre teve ainda uma ativa participação política, tendo sido membro constituinte de 1946 e deputado federal.

Uma dica para a Flip deste ano é a presença, dentre os autores, do pernambucano Edson Nery da Fonseca, um dos maiores estudiosos da obra de Gilberto Freyre. E também um pesquisador privilegiado, pois conviveu por quase 50 anos com o autor, chegando a fazer inclusive um “dicionário”, “Gilberto Freyre de A a Z” . Para Nery da Fonseca, uma das características mais marcantes de Freyre eram as suas idéias originais para a formação brasileira, um pensador à frente de seu tempo que “procurou entender o Brasil de uma forma global”.

Aqui na Voz do Cidadão preparamos um link especial para a programação completa da Flip deste ano. Para quem tiver a chance de participar, esta será uma grande aula de cidadania brasileira.

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