Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: “A arte barroquista de embrulhar”, por Jorge Maranhão

Tudo se pereniza como a contínua farsa de que o Estado deve ser provedor universal, o Estado-babá, e não o protetor tão simplesmente da vida, das liberdades e propriedades dos cidadãos


Por Jorge Maranhão 11 de Março de 2019 às 10:31h

É comentário geral da maioria dos sites recordistas de seguidores das redes sociais, que os sucessivos imbróglios do governo Bolsonaro já deram o que tinham de dar e estão sendo usados pelas forças políticas do atraso como manobra diversionista diante da pauta que realmente interessa aos cidadãos sobre as reformas do Estado.

Quando digo que a cultura subjacente e resiliente nos campos da política, justiça e costumes brasileiros é essencialmente barroquista, as críticas acessórias e adjetivas sobre falas infelizes de ministros –sobretudo da trinca Vélez-Araújo-Damares – por parte de uma mídia corporativa e fabiana vem bem a demonstrar esta tese.

A esta trinca ingênua da política, diante dos setores obsessivos contra o governo, como acadêmicos chapa-branca, jornalistas e artistas globais enviesados, e altos burocratas corporativos, que formam a trinca da resistência esquerdista de maneira geral, que veem o Estado como fonte de seus privilégios, se junta a grande maioria de todos os demais setores da vida nacional.

Setores em geral alheios a esta comédia de erros e cultura de farsa renitente, como os trabalhadores privados, o empresariado feito por conta própria, profissionais liberais e prestadores de serviços autônomos, micro, pequenos e médios comerciantesindependentes, enfim, o Brasil que trabalha e produz distante do estado e seus dependentes privilegiados.

Este é o imbróglio que divide a nação entre uma cultura resiliente de legado barroquista e a esperança de entrada numa era iluminista de sensatez e correção geral.

Imbróglio que, em bom italiano, é confusão, torção, trapaça, farsa, trapalhada, a arte de embrulhar, esconder o real conteúdo. Ou como prefere Elio Gaspari, patranha. Um dos termos mais sinonimizados da língua portuguesa.

Em meu novo livro já levantei mais de 100 sinônimos de logro, engano, trambique etc. Nos primórdios do gênero farsesco e burlesco do Barroco literário italiano e espanhol, e logo disseminado para França e Portugal, tratava-se da narrativa de algo que não é o que parece ser ou parece ser o que não é. Como pode ser o que não é e parece ser o que não parece!

Jeux de mots como cultismo do barroco literário. Jeux d’idées como conceptismo do mesmo barroco. Resultado: jogo, sempre jogo, entre o real e o imaginário, fascinação maior da cultura latina e mediterrânea que, no Brasil restou desilustrada e incontida pelo mais raso iluminismo que fosse. E que aportou em nossas enseadas sem o viço cultural suficiente para restabelecer o equilíbrio inter pars.

Tudo para confundir, desviar do caminho a seguir, seduzir, distrair, dissuadir, desvirtuar! Tudo para evitar fazer o que deve ser feito, por carência imanente de sensatez, senso de proporção e razoabilidade! Da tradição iluminista da filosofia clássica, enfim, mitigada pela nossa singular e ofuscante mentalidade barroquista!

Entenda-se o barroquismo no contexto da globalização da catequização e inquisição do século 15 e 16, mas no contexto da globalização da computação e comunicação dos séculos 20 e 21 é simples anacronismo mental, nosso impasse civilizatório de raiz, condenação ao atraso.

Como diz a deputada Janaína Paschoal, em relação aos imbróglios dos laranjais, para evitar desvio de dinheiro público para financiar eleições, o melhor mesmo seria cortar esta jabuticaba pela raiz.

Acabe-se com o fundo partidário e o fundo eleitoral. E reconheçam o direito fundamental às candidaturas avulsas e ao financiamento privado transparente. Assim só quem realmente quer o bem comum vai procurar a política. Simples assim.

Mera questão de bom senso comezinho no trato cotidiano entre cidadãos comuns. Como tenho defendido há anos com o programa dos Agentes de Cidadania nas redes sociais.

Onde todas as propostas dos cidadãos são de simples senso comum, sensatez e senso de proporção, razoabilidade e efetivo interesse público pois, afinal, estamos nos manifestando no espaço público sobre algo de nosso pleno domínio! Caso contrário, o que estará em jogo é nossa reputação. Simples assim.

E eu mesmo complemento agora com outro imbróglio disfarçado de notícia. Para evitar o desvio de dinheiro público da CNI, por exemplo, cuja investigação levou a cúpula da diretoria para o xilindró, que se extinga também essa outra jabuticaba. Pois não é função do estado capacitar a mão de obra das indústrias, e sim educar indiscriminadamente todos os cidadãos.

Se as indústrias precisam investir na capacitação de seus colaboradores para melhor competir no mercado, ótimo! Que o façam com seus próprios recursos! Simples assim.

Como da mesma forma, produções cinematográficas de apologia ao terrorismo, flagrante delito contra dispositivo constitucional, como o filme “Mariguella”, financiado com recursos públicos, que se autofinanciem com dinheiro privado! Outra vez, simples assim.

Por que se não, tudo se pereniza como a contínua farsa de que o Estado deve ser provedor universal, o Estado-babá, e não o protetor tão simplesmente da vida, das liberdades e propriedades dos cidadãos, via suas forças armadas, diplomacia, polícias, tribunais e órgãos de controle.

E apenas isto, que já é muito. Pois quaisquer outros órgãos, autarquias ou empresas que não se enquadrem nessas funções essenciais, que sejam extintas. Outra vez, simples assim.

Para além do que não for simples, se trata de mais uma exibição das torções e distorções barroquistas, dos exageros custosos dos ornamentos, da troca do essencial pelo efêmero, do substantivo pelo adjetivo, do objeto pelo seu adorno, da vida pelas condições de vida, do imprescindível dever cívico pelos tão ilimitados quanto falsos direitos sociais, da essência pela aparência, do gênero pela espécie, do sujeito pela sua circunstância!

Ou da troca das reformas essenciais do próprio Estado, sobretudo as que o obriguem a uma dieta de restrição institucional e funcional, como as da previdência, da segurança e da justiça, que visam a essencial equidade cívico-jurídica entre os cidadãos, pelas rocambolescas trombadas palacianas, obras de nossa cultural geral de farsa barroquista e nosso apego fatal pelo supérfluo, nossa dificuldade mesma em discernir a realidade da imaginação!

Veja mais em https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/a-arte-barroquista-de-embrulhar 

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.