Xingu e a busca pela identidade brasileira

Xingu e a busca pela identidade brasileira

Quinta passada, 19 de abril, as comemorações pelo Dia do Índio infelizmente não receberam a atenção devida pela sociedade. Mais que lembrar as nações que aqui viviam antes da colonização, a data na verdade é um convite à reflexão sobre quem somos e como se formação a nossa identidade.

Hoje gostaríamos de recomendar o filme Xingu, que conta a impressionante história dos irmãos Villas-Bôas e a saga em meados do século XX que culminou com a criação do Parque Nacional do Xingu. Na época, o maior parque nacional do mundo, maior que países como a Bélgica. Uma história de amor ao bem comum, e de respeito ao país, em tempos que ainda não se ouvia falar em meio ambiente, ecologia e sustentabilidade.

Assistir a Xingu é ainda mais oportuno neste momento em que os cidadãos mais conscientes e atuantes repudiam com veemência o estigma do jeitinho brasileiro e da cultura da impunidade, que vemos nas ruas centenas de marchas contra a corrupção e pelo julgamento urgente e rigoroso dos crimes do mensalão.

Hoje, buscamos nossa verdadeira identidade, que não é aquela do brasileiro malandro e que só quer levar vantagem em tudo, nem que se seja ao arrepio da lei. Somos os milhares brasileiros das manifestações reais e das redes sociais, os milhões que pressionaram os políticos pela Lei da Ficha Limpa, e que aplaudiram de pé filmes como “Tropa de Elite”, “Cidadão Boilesen”, “Jogo de Cena”, “Lixo Extraordinário”, “Utopia e Barbárie”, este “Xingu” e tantos outros.

E somos também os brasileiros, índios, que se reúnem agora em grandes redes internacionais criadas para discutir de igual para igual com os governos os seus temas de interesse. Estes, sim, talvez os maiores perdedores e que agora começam a ser reconhecidos como eficientes guardiães de nossa biodiversidade.

Que o Dia do Índio deste ano não tenha sido apenas mais uma data folclórica. Ou, como bem disse, o senador Cristovam Buarque em artigo recente, “um dia de simples lembrança de que temos ainda sobreviventes indígenas”. Principalmente depois que esta etnia – que era dona da Terra Brasilis, uma nação de quase 6 milhões de indivíduos – se viu reduzida a 810 mil pessoas; indivíduos que guardam segredos da nossa rica biodiversidade e tradições de manejo de florestas que podem ser a própria salvação da humanidade.

Assistir Xingu é refletir sobre como, aos poucos, os brasileiros começam a se ver como plenos cidadãos, detentores de direitos e deveres, sim. Mas, também, de uma grande responsabilidade política de fiscalizar mandatos e orçamentos públicos e de cobrar dos governantes o devido grau de moralidade, ética e transparência.

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