Diário do Comércio – A Voz do Cidadão https://www.avozdocidadao.com.br Instituto de Cultura de Cidadania Tue, 04 Jun 2019 17:39:09 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.5 163895923 Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo, “A grande mídia e o Brasil”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-a-grande-midia-e-o-brasil-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-a-grande-midia-e-o-brasil-por-jorge-maranhao/#respond Sat, 06 Apr 2019 14:48:25 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br/?p=30443

Quando os controladores da grande mídia irão intervir para garantir uma mínima imparcialidade e a própria sobrevivência de seus negócios?

por Jorge Maranhão 05 de Abril de 2019 às 11:00Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”

Durante décadas apostei que a grande mídia no Brasil, pelo peso de sua influência cultural e empatia da população, seria decisiva para promover o desenvolvimento de uma elite política de que o país tanto necessita.
Vendo a transmissão da sessão da CCJ inquerindo o Paulo Guedes nesta semana, no momento em que um desqualificado deputado o chama de Tchutchuca, tive vergonha de ser representado por tamanho baixo clero. Para não dizer baixo nível mesmo!

Senti vergonha de fazer parte de uma elite cultural que fracassou pela sua omissão em participar da vida política de modo a não dar lugar ao circo em que tais sacripantas transformaram as Casas Legislativas brasileiras.

Tenho em todos esses anos defendido a tese de que só escaparemos da armadilha do baixo crescimento, do impasse civilizatório e de nosso atávico complexo de vira-latas se uma elite verdadeiramente cidadã colocar a reconstrução do país acima de seus interesses corporativos por mais legítimos que sejam.

E para além das trincheiras política, social, econômica e judiciária, começar esta revolução cultural na trincheira da mídia. Não apenas pela sua excelência técnica, seja no campo do entretenimento, seja na do jornalismo.

Mas sobretudo por ser a única instância de transformação cultural com escala nacional e capacidade de persuasão quase instantânea. Pois não basta expor o circo ao ridículo. Temos de condená-lo!

Durante décadas apostei que a Globo, por exemplo, poderia ser a nossa Fox Corporation que construiu e unificou o espírito nacional americano a partir da magistral campanha “Crime doesn’t pay” da década de 40.

Sobretudo depois do advento da Operação Lava-Jato, que tem mobilizado o civismo e patriotismo transformador de milhões de cidadãos e cidadãs despertos, enfim, para a verdadeira cidadania política.

Mas uma decisão desta magnitude tem de ser tomada pelos controladores das grandes redes de mídia e não pelos artistas e jornalistas produtores de conteúdo e o quadro de executivos que os transforma em gigantescas máquinas de faturamento. Pois nem tudo pode ser delegado.

Se até hoje nossa maior empresa de mídia se saiu bem nesta equação é de se perguntar porque de uns anos para cá os seus programas, até então merecedores de audiências recordes, não têm conseguido transferir esta admiração para a reputação da própria corporação.

Diante de campanhas vigorosas nas redes sociais que difamam a imagem da Rede Globo, por exemplo, os produtores e executivos de seus programas têm feito a escolha errada ao peitar os produtores de conteúdos independentes das redes sociais e os formadores de opinião da sociedade civil, ao invés de aprender com eles as suas estratégias de argumentação que resultaram no fenômeno de descoberta da face oculta de nosso conservadorismo.

Ao contrário, os globais partiram para uma radicalização que, não apenas atrasa o Brasil, como pode colocar em risco o futuro da própria organização.

Pela primeira vez desde a morte de seu fundador, os seus sucessores terão de fazer uma escolha entre a visão de mundo progressista da maioria de seu quadro de funcionários e o novo imaginário social, conservador na sua essência, que surgiu a partir das megamanifestações de 2013.

Ou seguem a opinião democrática da maioria dos cidadãos a favor do atual governo -que compõe a maior parte de sua audiência -ou as opiniões de seu pessoal interno com relação às pautas em jogo no debate público nacional, como desarmamento geral x permissão de armamento em casos especiais, família tradicional x construção social, feminismo x feminicídio, aborto x luta pró-vida, minorias sexuais x militância LGBT, resgate da honra policial x vitimização de bandido, fatos e versões de registros da história recente do Brasil etc

Tirar a esquerda da educação pública de repente vai ser mais fácil pois o patrão mudou. Mais difícil será tirar da empresa de mídia privada, onde os patrões não mudam e compram a farsa de sempre de seus jornalistas e artistas.

Conversando com um dos mais graduados do jornalismo da emissora, ele me disse que imparcialidade para eles é a socialdemocracia mesmo, que não é nem o petismo desmoralizado pela corrupção nem a extrema direita do bolsonarismo obscurantista! Tentei argumentar que não, mas não adiantou.

São todos “ungidos” e acima da plebe ignara moralista que cometeu a insânia de eleger um governo conservador! É de lascar!

Proponho então, em prol do Brasil, um desafio para os controladores das grandes empresas de mídia: que se faça um daqueles testes ideológicos triviais –que o próprio jornal O Globo já publicou –com os próprios produtores de conteúdo de informação e entretenimento para se verificar a hipótese que levanto.

Teste com questões relativas às próprias pautas dos telejornais e telenovelas: desarmamento, programas assistenciais, cotas raciais, direitos trabalhistas, carga tributária, maioridade penal, pena de morte, migrações, corporativismo e sindicalismo, família tradicional, sexualidade e ideologia de gênero, entre outros.

Verificaremos claramente que a quase totalidade de nossos produtores de conteúdo são de extrema esquerda, de esquerda ou de centro, e jamais de direita!

E aqui a pergunta essencial: imparcialidade jornalística é ser de centro, socialdemocrata, sem incluir a direita para relativizar eventual posições da extrema direita, como incluem a extrema esquerda para relativizar posições de esquerda?

Lamento discordar. A socialdemocracia não é centro ou garantia de imparcialidade. Como diria nosso gênio da raça Roberto Campos, que se confessava de direita e liberal quando a imprensa lhe pespegava o rótulo de extrema-direita, “a socialdemocracia nada mais era do que o socialismo envergonhado”.

Eu diria que se trata de uma torção barroquista, a farsa de apresentar como imparciais posições de centro quando não acompanhadas de uma posição clara de esquerda e de direita.

É o mesmo que ocorre com nossa crença barroquista na alegada “democracia racial” brasileira, onde somos todos pardos, mais pretos ou mais brancos dependendo da conveniência da situação.

Na verdade, se trata exatamente ao contrário, de parcialidade. Da chamada estratégia das tesouras de alternar o poder entre a esquerda carnívora e a esquerda vegetariana, exatamente o esquema de poder que democraticamente os cidadãos brasileiros repudiaram nas urnas, elegendo um conservador nos costumes e liberal na economia, sem voz no elenco de produtores de conteúdo da grande mídia.

E agora? A grande mídia manterá a farsa barroquista da hipérbole de chamar direita de extrema-direita e a esquerda socialdemocrata de centro? Mesmo batendo de frente com a opinião da maioria dos cidadãos que lhe garante a audiência?

Mesmo perdendo audiência a olhos vistos e, junto com ela, a credibilidade e o faturamento? Ou recuará, convocando produtores de conteúdo de direita legítima para garantir de fato a tão alegada imparcialidade?

No caso da Rede Globo, por exemplo, a decisão que poderá evitar a trajetória de confronto com a opinião pública conservadora que resolveu sair do armário será a de manter ou recuar do editorial de 2013, feito pela sua equipe de produtores de conteúdo, que revisou como erro o apoio dado pelo seu fundador à intervenção militar de 64.

Quando os controladores da grande mídia irão intervir para garantir esta mínima imparcialidade e a própria sobrevivência de seus negócios? Como diria Nelson Rodrigues: “O pênalti é tão importante que tem de ser batido pelo presidente do clube”.

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Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo: “Como superar a farsa da velha política”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-como-superar-a-farsa-da-velha-politica-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-como-superar-a-farsa-da-velha-politica-por-jorge-maranhao/#respond Fri, 08 Feb 2019 12:17:42 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=30194

Como superar a farsa da velha política

Não prosperaram as cenas medonhas de tentativas frustradas da velha política se sobrepor à nova política reclamada pelos cidadãos desde os idos de 2013


Por Jorge Maranhão 04 de Fevereiro de 2019 às 14:10
Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”


Não prosperaram, pois, as cenas medonhas de tentativas frustradas da velha política se sobrepor à nova política reclamada pelos cidadãos desde os idos de 2013.

Cinquenta senadores e senadoras, em sua franca maioriade primeiro mandato, manifestaram em plenário sua preferência pela votação aberta, prerrogativa parlamentar mais do que razoável.

Mas o estertor da velha política comprova a farsa barroquista sob a qual vivemos, desde que o Barroco das artes e das letras do século XVII se extrapolou para a vida jurídica, política e moral de nossa cultura nesses últimos três séculos. Senão, vejamos em três atos exemplares como está vivo o gênero burlesco da farsa onde todos insistem em querer enganar a todos durante todo o tempo:

Primeiro ato: o golpe de tentar sobrepor um artigo do regimento interno do Senado sobre o voto secreto, que protege os parlamentares de uma eventual hipótese de retaliação, sobre o princípio constitucional da publicidade, como norma geral da administração pública, que protege todos os cidadãos eleitores da traição de seus representantes.

Segundo ato: o golpe da imposição de destituição da mesa legitimamente formada pela presidência de um suplente da mesa anterior, que encaminhava à soberania do plenário a decisão de mudança do regime de votação, por recurso externo ao Poder Judiciário, na calada da noite, e pela figura do caricato ministro-plantonista, afrontando a independência dos poderes.

Terceiro ato: o golpe da renúncia do senador Renan Calheiros, como maior representante da velha política fisiológica de conchavos, barganhas e trapaças, como tentativa de tumultuar e anular o processo eleitoral em curso, que acabaria por eleger o candidato da nova política, o senador Davi Alcolumbre.

Mas impressionantes são as “análises” dos comentaristas políticos das grandes redes de televisão que, querendo aparecer mais do que os senadores, tagarelando suas matracas por sobre as falas dos parlamentares, se precipitam em narrativas jurídico-normativas que mais confundem do que esclarecem as inúmeras manobras dos protagonistas.

Como a da ameaça de cassação do mandato dos senadores que abrissem seu voto, declinando o nome de seu candidato e mostrando a cédula de votação, num ato de desobediência à determinação do ministro-plantonista, o mesmo que, de acordo com a conveniência da vez, tanto pode vetar como estimular a intervenção interna corporis no regimento de outro Poder.

Um pequeno intermezzo no ato final da grande farsa da eleição do novo presidente do… “Se nado não me afogo, se me afobo não nado”. Pois é de se perguntar se realmente o torcionismo esquerdista que domina as instituições da república e distorce os valores morais nas últimas décadas, não será mais difícil de se expurgar da vida política do que pensa as trupes de nossos ainda desarticulados conservadores e liberais.

Definidas as direções das casas legislativas, que terão a responsabilidade de tramitar os projetos de reformas de que o país necessita com urgência, resta avaliar as estratégias de argumentação com que o Executivo, particularmente as equipes política e econômica conduzirão o processo de sua aprovação.

Em sua fala de posse o ministro Paulo Guedes foi claro e objetivo. Mas de pouco adianta apontar as corporações dos que legislam, julgam e fiscalizam como inimigos preferenciais, ou culpar “as figuras do pântano, os burocratas corruptos e os empresários piratas do Estado”.

Nem limitar a aliança com a parte sobrevivente dos políticos, os melhores da administração e das instituições públicas e a “mídia que deve ajudar a explicar as medidas”. Por seu viés esquerdista, a mídia tem demonstrado uma profunda má vontade para com o sucesso do governo ignorando seu dever cívico para com o país. E seria ingênuo pensar o contrário.

Tanto para Paulo Guedes como para chefe da articulação política do governo, Onyx Lorenzoni, falta o principal de uma estratégia de argumentação que não pode se limitar aos elementos políticos e econômicos em si.

Falta levar em conta o componente cultural da estratégia, o que verdadeiramente constrói o convencimento argumentativo: o chamamento para a aliança com os mesmos agentes de cidadania que elegeram este governo, os 5 milhões de “marqueteiros” que foram para a rua fazer a campanha de graça na dramática ausência de seu candidato.

Se o chefe da equipe econômica e o articulador político não se municiarem de uma excelente estratégia de argumentação cultural, ficarão nas mãos da grande mídia. Note-se que seus comentaristas políticos tratam o chefe da economia apenas como “um brilhante economista com excelentes ideias”, mas com déficit de capacidade de articulação e trato político com o Congresso.

A guerra é cultural como tenho afirmado aqui e desenvolvi no último capítulo de meu novo livro, quando apresento a proposta de um programa de agentes de cidadania, não apenas nas redes sociais, mas sobretudo numa rede de mídia aberta, nem que seja a própria rede pública, para o engajamento dos cidadãos na crítica e avaliação das políticas públicas e sobretudo nos critérios de cortes do orçamento público de subsídios setoriais e de privilégios das corporações.

Recomento o programa proposto no livro, e já testado nas redes sociais com 323 agentes de cidadania que se dispuseram a identificar uma questão de política pública e, no espaço de 1min e 30seg, apresentar uma proposta de resolução, com vistas à repercussão na grande mídia, sempre intoxicada com a cobertura do poder formal dos políticos.

Pois é ingenuidade privilegiar exclusivamente as redes sociais como se fez na campanha eleitoral e hostilizar a grande mídia no governo como pretendem alguns setores mais “radicais, porém sinceros”.

Pode-se ganhar uma eleição pelas redes sociais, mas não se sustenta um governo se não se buscar aliança com setores da grande mídia. A guerra cultural que acontece no front das redes sociais, não se repete magicamente na grande mídia. Deve-se buscar os representantes do jornalismo mais cívico exatamente para atacar o jornalismo dito “investigativo”, enviesado e intoxicado de gramscismo e demais esquerdismos.

E atacar com uma proposta clara: como os 5 milhões de agentes de cidadania poderão sustentar a política econômica na sua guinada liberal, denunciar as distorções dos valores morais pela esquerda e se manifestar contra os privilégios das corporações, promovendo as reformas independente da guerra ideológica.

Por exemplo, as corporações empresariais: não adianta criticar o Sistema S, mas propor uma aliança com a CACB, a Confederação Nacional das Associações Comerciais, que não depende das tetas do orçamento público, para recrutar os agentes de cidadania que irão arbitrar entre os privilégios corporativos e a farsa dos “direitos sociais” ilimitados do povo.

Com o apoio inicial das redes de TV pública, é fatal que pelo menos uma rede de televisão privada acabe por aderir. E não precisa ser a maior que, por suposto, é a mais infestada pela praga esquerdista, expressa em campanhas comprometidas com “o Brasil que você quer para o futuro” e não com “o Brasil que você constrói no presente”.

A proposta de uma campanha de agentes de cidadania descrita no último capítulo de meu novo livro chama os cidadãos a se pronunciarem sobre a alocação de recursos concretos do orçamento público para cada setor ou corporações envolvidas.

E convida para que elas mesmas abram mão de uma cota parte de seus privilégios para alocação nos serviços públicos que se destinam à grande maioria de cidadãos sem corporação, uma vez que nossos representantes representam mais suas corporações do que a nós mesmos como seus eleitores.

Vejam que a proposta nada mais é do que um embate efetivo no campo simbólico da cultura da retórica barroquista de nossos representantes da velha política, seus burocratas e empresários corruptos, contra o bom senso iluminista dos agentes de cidadania que participam efetivamente da ação política brasileira. Visitem a página de apresentação da tese do livro aqui, bem como aqui a proposta inicial em artigo deste mesmo Diário do Comércio.

Para mais informações acesse https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/como-superar-a-farsa-da-velha-politica

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Como superar a farsa da velha política

Não prosperaram as cenas medonhas de tentativas frustradas da velha política se sobrepor à nova política reclamada pelos cidadãos desde os idos de 2013


Por Jorge Maranhão 04 de Fevereiro de 2019 às 14:10
Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”


Não prosperaram, pois, as cenas medonhas de tentativas frustradas da velha política se sobrepor à nova política reclamada pelos cidadãos desde os idos de 2013.

Cinquenta senadores e senadoras, em sua franca maioriade primeiro mandato, manifestaram em plenário sua preferência pela votação aberta, prerrogativa parlamentar mais do que razoável.

Mas o estertor da velha política comprova a farsa barroquista sob a qual vivemos, desde que o Barroco das artes e das letras do século XVII se extrapolou para a vida jurídica, política e moral de nossa cultura nesses últimos três séculos. Senão, vejamos em três atos exemplares como está vivo o gênero burlesco da farsa onde todos insistem em querer enganar a todos durante todo o tempo:

Primeiro ato: o golpe de tentar sobrepor um artigo do regimento interno do Senado sobre o voto secreto, que protege os parlamentares de uma eventual hipótese de retaliação, sobre o princípio constitucional da publicidade, como norma geral da administração pública, que protege todos os cidadãos eleitores da traição de seus representantes.

Segundo ato: o golpe da imposição de destituição da mesa legitimamente formada pela presidência de um suplente da mesa anterior, que encaminhava à soberania do plenário a decisão de mudança do regime de votação, por recurso externo ao Poder Judiciário, na calada da noite, e pela figura do caricato ministro-plantonista, afrontando a independência dos poderes.

Terceiro ato: o golpe da renúncia do senador Renan Calheiros, como maior representante da velha política fisiológica de conchavos, barganhas e trapaças, como tentativa de tumultuar e anular o processo eleitoral em curso, que acabaria por eleger o candidato da nova política, o senador Davi Alcolumbre.

Mas impressionantes são as “análises” dos comentaristas políticos das grandes redes de televisão que, querendo aparecer mais do que os senadores, tagarelando suas matracas por sobre as falas dos parlamentares, se precipitam em narrativas jurídico-normativas que mais confundem do que esclarecem as inúmeras manobras dos protagonistas.

Como a da ameaça de cassação do mandato dos senadores que abrissem seu voto, declinando o nome de seu candidato e mostrando a cédula de votação, num ato de desobediência à determinação do ministro-plantonista, o mesmo que, de acordo com a conveniência da vez, tanto pode vetar como estimular a intervenção interna corporis no regimento de outro Poder.

Um pequeno intermezzo no ato final da grande farsa da eleição do novo presidente do… “Se nado não me afogo, se me afobo não nado”. Pois é de se perguntar se realmente o torcionismo esquerdista que domina as instituições da república e distorce os valores morais nas últimas décadas, não será mais difícil de se expurgar da vida política do que pensa as trupes de nossos ainda desarticulados conservadores e liberais.

Definidas as direções das casas legislativas, que terão a responsabilidade de tramitar os projetos de reformas de que o país necessita com urgência, resta avaliar as estratégias de argumentação com que o Executivo, particularmente as equipes política e econômica conduzirão o processo de sua aprovação.

Em sua fala de posse o ministro Paulo Guedes foi claro e objetivo. Mas de pouco adianta apontar as corporações dos que legislam, julgam e fiscalizam como inimigos preferenciais, ou culpar “as figuras do pântano, os burocratas corruptos e os empresários piratas do Estado”.

Nem limitar a aliança com a parte sobrevivente dos políticos, os melhores da administração e das instituições públicas e a “mídia que deve ajudar a explicar as medidas”. Por seu viés esquerdista, a mídia tem demonstrado uma profunda má vontade para com o sucesso do governo ignorando seu dever cívico para com o país. E seria ingênuo pensar o contrário.

Tanto para Paulo Guedes como para chefe da articulação política do governo, Onyx Lorenzoni, falta o principal de uma estratégia de argumentação que não pode se limitar aos elementos políticos e econômicos em si.

Falta levar em conta o componente cultural da estratégia, o que verdadeiramente constrói o convencimento argumentativo: o chamamento para a aliança com os mesmos agentes de cidadania que elegeram este governo, os 5 milhões de “marqueteiros” que foram para a rua fazer a campanha de graça na dramática ausência de seu candidato.

Se o chefe da equipe econômica e o articulador político não se municiarem de uma excelente estratégia de argumentação cultural, ficarão nas mãos da grande mídia. Note-se que seus comentaristas políticos tratam o chefe da economia apenas como “um brilhante economista com excelentes ideias”, mas com déficit de capacidade de articulação e trato político com o Congresso.

A guerra é cultural como tenho afirmado aqui e desenvolvi no último capítulo de meu novo livro, quando apresento a proposta de um programa de agentes de cidadania, não apenas nas redes sociais, mas sobretudo numa rede de mídia aberta, nem que seja a própria rede pública, para o engajamento dos cidadãos na crítica e avaliação das políticas públicas e sobretudo nos critérios de cortes do orçamento público de subsídios setoriais e de privilégios das corporações.

Recomento o programa proposto no livro, e já testado nas redes sociais com 323 agentes de cidadania que se dispuseram a identificar uma questão de política pública e, no espaço de 1min e 30seg, apresentar uma proposta de resolução, com vistas à repercussão na grande mídia, sempre intoxicada com a cobertura do poder formal dos políticos.

Pois é ingenuidade privilegiar exclusivamente as redes sociais como se fez na campanha eleitoral e hostilizar a grande mídia no governo como pretendem alguns setores mais “radicais, porém sinceros”.

Pode-se ganhar uma eleição pelas redes sociais, mas não se sustenta um governo se não se buscar aliança com setores da grande mídia. A guerra cultural que acontece no front das redes sociais, não se repete magicamente na grande mídia. Deve-se buscar os representantes do jornalismo mais cívico exatamente para atacar o jornalismo dito “investigativo”, enviesado e intoxicado de gramscismo e demais esquerdismos.

E atacar com uma proposta clara: como os 5 milhões de agentes de cidadania poderão sustentar a política econômica na sua guinada liberal, denunciar as distorções dos valores morais pela esquerda e se manifestar contra os privilégios das corporações, promovendo as reformas independente da guerra ideológica.

Por exemplo, as corporações empresariais: não adianta criticar o Sistema S, mas propor uma aliança com a CACB, a Confederação Nacional das Associações Comerciais, que não depende das tetas do orçamento público, para recrutar os agentes de cidadania que irão arbitrar entre os privilégios corporativos e a farsa dos “direitos sociais” ilimitados do povo.

Com o apoio inicial das redes de TV pública, é fatal que pelo menos uma rede de televisão privada acabe por aderir. E não precisa ser a maior que, por suposto, é a mais infestada pela praga esquerdista, expressa em campanhas comprometidas com “o Brasil que você quer para o futuro” e não com “o Brasil que você constrói no presente”.

A proposta de uma campanha de agentes de cidadania descrita no último capítulo de meu novo livro chama os cidadãos a se pronunciarem sobre a alocação de recursos concretos do orçamento público para cada setor ou corporações envolvidas.

E convida para que elas mesmas abram mão de uma cota parte de seus privilégios para alocação nos serviços públicos que se destinam à grande maioria de cidadãos sem corporação, uma vez que nossos representantes representam mais suas corporações do que a nós mesmos como seus eleitores.

Vejam que a proposta nada mais é do que um embate efetivo no campo simbólico da cultura da retórica barroquista de nossos representantes da velha política, seus burocratas e empresários corruptos, contra o bom senso iluminista dos agentes de cidadania que participam efetivamente da ação política brasileira. Visitem a página de apresentação da tese do livro aqui, bem como aqui a proposta inicial em artigo deste mesmo Diário do Comércio.

Para mais informações acesse https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/como-superar-a-farsa-da-velha-politica

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Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo – As fakenews e nosso cansaço nacional, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-as-fakenews-e-nosso-cansaco-nacional-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-as-fakenews-e-nosso-cansaco-nacional-por-jorge-maranhao/#respond Mon, 13 Aug 2018 16:34:04 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29132

  Por Jorge Maranhão 09 de Agosto de 2018   | Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão


Nunca vi tanta contorção do jornalismo global para encarar um fato: não dá para fazer campanha de massa contra o fenômeno das fakenews e ao mesmo tempo praticá-las como ficou patente no episódio de a jornalista Miriam Leitão terminar e não terminar o programa de entrevistas ao vivo do candidato Bolsonaro na última sexta-feira (3/08), rebater a afirmação do candidato de que o presidente fundador do Grupo Globo declarou apoio editorial ao regime militar, enquanto vivo, sendo contraditado por seus sucessores jornalistas, depois de morto, de que fora um erro histórico tal apoio.  

Resultado: uma tempestade nas redes sociais de cidadãos cumprindo o conselho da campanha das fakenews: pondo em dúvida a correção da correção desastrada da jornalista desmentindo o candidato entrevistado.  

O fato é que o Brasil cansou de ser barroco. Não o Brasil analfabeto funcional que vive preso no imaginário barroco sem ter consciência disso. Mas o Brasil letrado, as verdadeiras elites que leem e acompanham o noticiário político dos jornais e televisões. E se manifestam nas redes sociais como nunca dantes.  

Se somos 20 perante 200 milhões, não importa. Importa é que passamos a ter consciência de que queremos mudar nossa cultura política. Só não sabemos como, por que não sabemos que ela já começou a mudar exatamente por que aprendemos a nos manifestar nas ruas e nas redes sociais.  

E se soubermos mais um pouco, que estivemos cativos da visão de mundo barroca durante tantos séculos, mudaremos a cultura política muito mais rápido.  

Porque em todas as sociedades humanas, o que faz mudar a cultura e os costumes é o imaginário social projetado na mídia por verdadeiras elites. Das imagens riscadas nas paredes rochosas das cavernas neolíticas às imagens em movimento alucinante das telas de televisões e computadores.  

Se cinco milhões de nós já foram às grandes manifestações de ruas, quatro vezes mais preferiram protestar nas redes sociais.  

Se os velhos políticos não nos representam, os que frequentam as investigações da PF e o noticiário criminal da mídia, os novos estão a pipocar em todo o país.  

Estamos a mudá-los porque nos cansamos de ser enganados por eles. Cansamos de farsas, pantomimas, paradoxos e exageros.  

O barroco era só artes no século XVII e XVIII, sermões, sonetos, pinturas e esculturas sacras e as volutas das arquiteturas das igrejas. Mas foi arrebatando de tal sorte nosso imaginário, que dominou nossos costumes, valores morais, a política e a justiça sem nenhuma resistência cultural de nossas elites.  

Conservamos o barroquismo em nossas almas até mesmo quando fomos árcades, românticos e modernos! Se hoje posso identificar a exuberância das narrativas barrocas sobre nossa abundância de recursos naturais, posso identificar a resistência cultural ao Iluminismo, uma vez que nos descobriram passada a Renascença clássica, em pleno vigor do Barroco europeu. E na luta entre as duas culturas, nos coube a prevalência renitente do barroquismo diante de nossa rarefeita razão, nosso incipiente bom senso. 

As principais características da cultura barroca brasileira, e para além da expressão da arte que todos consagraram, são as figuras da ambiguidade, para além das do exagero, embora estas últimas não deixem de resultar em ambivalência também.  

Para além da hipérbole do ver, a ironia do tratar, a farsa do relatar e o paradoxo do pensar que dominam nosso universo barroco. No ato de ver, no trato com o outro, no relato do feito, no objeto do contrato. Respectivamente. Figuras retóricas que, sobremaneira, distorcem valores.  

Como diz a professora de português Cíntia Chagas, do programa Pânico da Jovem Pan, nossa educação política começa com as hiperbólicas promessas dos políticos em campanhas de eleições e termina com os eufemismos de sempre ao descrever o péssimo desempenho de seus governos.  

São mais de século, desde o Império, que os cidadãos passaram a ser céticos com relação aos seus representantes. 

Se os recursos retóricos do barroco são cativantes e enternecedores nas artes, está a nos cair a ficha de que são desastrosos, nefastos e estarrecedores na moral, na cívica, na justiça e na política!  

Todavia, os intérpretes da cultura e da história do país passam ao largo desta questão que considero central! E quando se referem ao barroco, é sempre en passant e limitados à perspectiva estética, artística ou, no máximo, no campo da antropologia cultural.  

Sobretudo os doutrinados e doutrinantes progressistas e engajados nas reformas sociais! Não há pensamento liberal brasileiro fora da economia e da política. Como não há conservador fora da caixinha dos costumes.

Pelo menos na tradição de nossos pensadores mais conservadores e liberais como José Bonifácio de Andrade e Silva, Hipólito da Costa, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Armando de Sales Oliveira, Oliveira Viana, Meira Penna, Roberto Campos e alguns outros citados por Antonio Paim na História do liberalismo brasileiro, que vem de ser relançado pelo LVM Editora e que recomendo.  

O que iria neste percurso, J. G. Merquior, morreu muito cedo antes de fazer esta inferência do campo das artes para a cultura política e moral.  

Pois eu tenho me dedicado a este estudo, que sairá em livro proximamente, para tentar suprir esta lacuna, embora sem tamanho talento, nem tampouco engenho!  

Sérgio Paulo Rouanet ainda se ocupa de nosso irracionalismo cultural mas permanece no campo da filosofia e da crítica da cultura e da arte. Por que, para além do campo da produção cultural das artes e dos costumes, a questão é que estes principais recursos do barroquismo dominam nosso modo de pensar e agir em campos cruciais para o desenvolvimento da civilização brasileira, como a política, a cívica e a moral.  

Daí vem a nossa ironia para com a lei, a administração e o poder público, nossa sonsa admissão dos paradoxos como uma fatalidade histórica, nosso gosto pela farsa onde tudo que é pode não parecer que é, ou tudo que não é pode passar a parecer que é.  

Parecer ou aparecer, assim é se lhe parece. Nosso compromisso cultural é muito mais com a obscuridade barroca do que com a clareza classicista.

Não é à toa que as principais figuras da retórica barroca como o paradoxo, a ironia, a hipérbole, a metáfora, a metonímia, o eufemismo, a antítese, a ambiguidade, e outras, torcem, retorcem, contorcem e distorcem sentidos basicamente. Pois vivemos o mundo das emoções, não bastasse o locutor de futebol a nos massacrar com “a pura emoção”, “o nome da emoção” e outras disformes pérolas barroquistas.  

Seja no ver, seja no pensar, no sentir ou no agir. E a farsa, que era uma versão da comédia clássica com o necessário fim moral para a formação do cidadão, a chamada “moral da estória”, se reduz a mera burla, artimanha, ardil, onde o Lobo Mau se faz passar por Vovozinha, para comer o bobo espectador identificado com Chapeuzinho. O bobo cidadão que nos sentimos diante da política, da justiça e da conduta moral dos oligarcas dominantes, todos espertos, como relata a mídia. 

A farsa é nosso gênero predileto. Não é de hoje que trocamos a figura da paródia, onde não se pretende negar a origem da citação, pelo mero pastiche, onde se tenta passar como pensamento próprio uma sentença alheia.  

É o caso, por exemplo, do lema do liberalismo americano, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, cuja autoria atribuída tanto ao orador irlandês John Philpot Curran (1750-1817) quanto ao político americano Patrick Henry (1736 – 1799), de tanto usada pelo founding father Thomas Jefferson (1743 – 1826), acabou apropriada como sua pelos seus biógrafos.  

No entanto, a sentença foi rapidamente apropriada no Brasil pela UDN – União Democrática Nacional, desde a década de 40, talvez mais pelo desejo sincero de realmente lutar contra a facilidade de usurpação do poder político na República, do que propriamente pelo sucesso em consegui-lo na realidade.  

Agora, emblemática e fatídica mesmo é a máxima atribuída a Abraham Lincoln (1809 – 1865) “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” 

Como prova de que a cultura americana, diferentemente da cultura brasileira, foi bafejada pelo iluminismo reformista de anglicanos e calvinistas, ao contrário de nossa contra-reformista e hegemônica influência barroco-jesuítica, este lema traz em si a ideia clara do bom senso e da razoabilidade, princípios fundadores do classicismo.   

No entanto, na linha da farsa como gênero de nossa predileção e de nosso legado barroquista, o que vemos no Brasil, na chamada Constituição Cidadã, é exatamente a ausência total de razoabilidade, de proporção e de bom senso mesmo. Quando se prescreve 74 vezes a palavra “direitos” sem sequer meia dúzia de citações de sua forçosa contrapartida “dever”, observação ferina de um de seus próprios constituintes, o liberal Roberto Campos, em franca minoria na Assembleia denunciando que a “conta não iria fechar”. Como não fecha até hoje. 

O que vemos como o maior problema nacional: a ilusão de que o orçamento público é uma vaca leiteira de produção inesgotável, a ideia esquerdista e demagoga por excelência de que o Estado é provedor-mor de todos, como um Leviatã de burras infindas.  

Para efeito desta minha tese, é fundamental entendermos por que chegamos a esta falsa conclusão de que todos podem viver de um subsídio, incentivo ou isenção fiscal, uma bolsa disso ou daquilo.  

É como se vertêssemos a citação clássica americana para uma tradução cultural brasileira, a máxima e fatídica farsa nacional: “Pode-se enganar a todos durante todo o tempo”. 

E, voltando à introdução do tema: por que não conseguimos simplesmente dizer que apoiamos, sim, a revolução de 64, exatamente para nos livrar de uma outra revolução em curso armado pela facção esquerdista? E simplesmente, mudamos de opinião. Uma vez que conhecendo, depois, o quanto se exagerou na intervenção militar.

O que absolutamente podemos falar que foi um erro por parte de quem declarou o apoio, até por que não está mais vivo para poder se pronunciar.  

Pois, como tenho dito, é farsa. Muito antes do advento das fakenews, o nome disso sempre foi farsa, como já afirmou Karl Marx com relação à história, que se se repete a primeira vez como tragédia, a segunda se repete como farsa.

Farsa tão farsante no jornalismo quanto chamar farsa de fake. Pois não seria tão mais próprio e sugestivo, em bom português, chamar a campanha mesma contra as fakenews simplesmente de Farsa&fato?

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Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: “As desrazões do barroquismo”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-as-desrazoes-do-barroquismo-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-as-desrazoes-do-barroquismo-por-jorge-maranhao/#respond Sat, 12 May 2018 15:55:41 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28532

Com o advento da redemocratização, o que vemos é o surgimento de um irracionalismo renitente na expressão de um antielitismo cultural implícito no populismo cultural esquerdista.

https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/as-desrazoes-do-barroquismo

Diante da permanência de fatos tão desrazoados no cenário político nacional, tão ao gosto do contrassenso barroco, parodio no título deste artigo nosso grande ensaísta e filósofo Sérgio Paulo Rouanet que escreveu um belíssimo livro sobre “As razões do Iluminismo”.

Mais do que o fato histórico da “Ilustração”, o “Siècle des Lumières” havido na França setecentista, como movimento filosófico e político promovido pelos filósofos racionalistas Voltaire, Diderot, Montesquieu, Rousseau e outros, o iluminismo se espalhou mais pela Europa setentrional, como “Die Aufkrärung” alemão e “The Enlightenment” inglês.

Já a Illustrazioni ou Ilustración, nos países meridionais da Europa, como Itália e Espanha, não fosse pura ironia, seriam mais um tipo de desenho do que propriamente um evento filosófico. Daí o campo aberto para a formação do rodamoinho barroco.

No que toca ao Brasil, caudatário dos valores europeus meridionais, o autor nos contempla com um ensaio sobre “O novo irracionalismo brasileiro” que localiza a partir do golpe de 64 e torna cativa a razão como mera “razão econômica” ou, pior, como “razão de Estado”.

Com o advento da redemocratização, o que vemos é o surgimento de um irracionalismo renitente na expressão de um antielitismo cultural implícito no populismo cultural esquerdista.

O que vejo de nosso recente irracionalismo, prefiro atribuir aos resquícios de barroquismo que guardamos na alma. Pois tudo o que é barroco no Brasil, não é arte e literatura dos séculos XVII e XVIII, e está transposto para outros campos da expressão cultural fora das artes e das letras, é barroquismo.

Como a justiça beletrista e a política patrimonialista, assim como a moral leniente e os costumes devassos do povo, na verdade é barroquismo, manifestações do espírito barroco, resquícios das torções, retorções, contorções e distorções próprias das volutas barrocas, de nossa paixão pela farsa, burla e ironia, nosso gosto pela ambiguidade do paradoxo.

Voluta como símbolo maior do barroco, representada numa espiral em volume que, a partir de um ponto central, segue um movimento no sentido da esquerda para a direita que retorna na segunda volta da direita para a esquerda.

E assim por diante: o que é, parece ser, mas não é. O que não é, acaba sendo. E vendo melhor, não é. Amamos assistir a razão tombada pela mais pura emoção. Pela farsa e pelo paradoxo.

Há anos que observo e recolho exemplos das mais variadas manifestações de nosso espírito barroquista fora das artes e da literatura, mas nos campos da política, da justiça, da moral e dos costumes de nossa cultura, num livro que já tem mais de 280 páginas. Até agora.

Assistindo à tortura da irresolubilidade e até mesmo inutilidade das decisões vindas das altas cúpulas dos poderes de Brasília, chego à conclusão que estes senhores estão cegos diante da indignação dos cidadãos brasileiros!

Brasília é uma completa Versailles! Distante e de costas para as demandas dos cidadãos! E a Lava Jato, a cada dia que passa, exibindo as vísceras dos poderes corrompidos sem medida, correndo o risco de ser sabotada por estes inúmeros Luízes que ocupam as altas cúpulas de Brasília!

Abrimos os jornais, ligamos as tvs e só dá notícias escabrosas de delações sem fim. Tentam abafar, estancar a sangria, mas a enxurrada de denúncias de falcatruas de toda sorte não para de jorrar!

Fico a pensar nos antecedentes da Revolução Francesa, na luta monumental entre o barroco rococó dos Luízes e a ascensão iluminista dos enciclopedistas!

A lapidar citação de Montesquieu na sua luta iluminista contra o ápice do barroquismo rococó de Luiz XV: “as leis inúteis enfraquecem as leis necessárias”.

Nosso Supremo Jeitinho está tão embarrocado que não percebe a total ausência de resolubilidade e efetividade de suas decisões! Não fazem justiça, fazem teatro. E mais uma vez a farsa nos constitui!

Pela primeira vez, desde que foi promulgada, estamos a experimentar os princípios da impessoalidade e publicidade da administração pública fixados no Art. 37 da Constituição cidadã. E descobrimos que ainda não entendemos as diferenças entre legalidade e moralidade!

Quanto à eficiência, ou efetividade das resoluções públicas, ainda estamos por entender, imersos que estamos no cipoal de figuras retóricas do beletrismo jurídico nacional como circunlóquios, eufemismos, hipérboles, paradoxos e ironias sem fim!

Como, de resto, toda classe da velha política profissional que não percebe a sua inutilidade, imersa no lodaçal das procrastinações e da burla que constitui nossa alma e moral barroquistas.

Teremos de chegar a uma ruptura institucional para que vejam o tamanho de suas inutilidades? Não percebem que se mexerem na Lava-Jato poderão ter uma Bastilha em Brasília?

Não. Não percebem. Preocupados apenas em salvar as próprias peles não podem se ocupar em ver que a onda iluminista da consciência nacional dos cidadãos despertou, aflorou enfim, e não tem mais volta!

Não há mais espaço para a manutenção do dogma do irracionalismo barroquista no qual tivemos imersos nos últimos três séculos!

O país aportou na razão, na supremacia clássica do racionalismo sobre o irracionalismo barroco depois de três séculos de atraso.

A cidadania despertou irreversível deste sono dogmático do berço esplêndido! Chega de relativismo moral da suposta inexistência da antinomia dos valores absolutos de que não há certo ou errado, morte nem vida, noite ou dia, quente ou frio, preto ou branco, masculino ou feminino, direita ou esquerda!

Chega! Não se pode conceber o morno sem a noção de quente ou frio. Pois são categorias imanentes da razão.

Não se pode conceber o meio termo sem a premissa dos extremos. E assim por diante, só podemos entender o cinza por que sabemos o que é preto e branco.

Só mesmo a arrogância do relativismo moral esquerdista pode achar que escolhemos o gênero sem o dado prévio da definição do sexo! Dado pelo dom de Deus e no âmbito da Natureza, e não da cultura do homem caído do pecado da soberba!

Com três séculos de atraso, nos defrontamos, enfim, com a oportunidade de experimentar o Iluminismo, o bom senso, a razoabilidade de que o gênero humano foi munido desde a queda do Paraiso!

É chegada a hora de a cultura barroquista brasileira, sucedida por séculos de seus correlatos, como idealismo, romantismo, positivismo, esquerdismo e anarco-sindicalismo, ceder à vez ao Iluminismo que já tentamos por tantas vezes ensaiar e não conseguimos! O momento é este. 2018 é nossa exaustão do barroquismo cultural! Da “pura emoção”, como grita o locutor desesperado da tevê!

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Artigo – do Diário do Comércio de São Paulo: “Lava Jato cerebral”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-lava-jato-cerebral-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-lava-jato-cerebral-por-jorge-maranhao/#respond Fri, 30 Mar 2018 17:15:12 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28334
Imagem: óleo de Paolo de Matteis, de 1715, “O triunfo da Imaculada”.
22 de Março de 2018 às 20:09

Do Diário do Comércio de São Paulo: https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/lava-jato-cerebral

O site 342, originariamente criado para pedir a cassação de Temer no ano passado pela fina flor de nossos artistas e intelectuais militantes dos direitos humanos, passou a fazer campanhas de todo tipo e independente do interesse público.

Desde que contrárias a qualquer ato do governo, da demarcação de terras de reserva indígenas ou minerais, até as reformas da previdência ou trabalhista.

A última campanha se intitula “intervenção é farsa”, pois o próprio Temer teria se referido à intervenção como “uma jogada” segundo os depoentes do vídeo.

Mas a pergunta que se impõe é se, a despeito da farsa do eventual comentário infeliz, a intervenção militar não é uma política necessária diante do descalabro a que chegou a segurança pública no Rio, pelo desgoverno do Estado.

Intervenção, por sinal, apoiada pela maioria da população, segundo recentes pesquisas. Além do que, será que as Forças Armadas se prestariam a este papel de coadjuvantes da farsa?

Um dos depoimentos da campanha é da vereadora recentemente assassinada, bem como de seu companheiro Marcelo Freixo do PSOL, pré-candidato esquerdista nas próximas eleições, e engajados na doutrinação antimilitar.

Aliás, o site Antagonista fez um levantamento nesta semana dos eleitores da vereadora e concluiu que ela não foi eleita majoritariamente pelos favelados pretos e pobres que defende, sobretudo das zonas faveladas em que nasceu e cresceu, mas pelos eleitores mais abastados da zona sul da cidade.

De quem seria a farsa, afinal? Da campanha dos artistas globais e intelectuais da esquerda caviar ou das autoridades responsáveis pela intervenção?

Penso que a campanha em si é mais uma demonstração de oportunismo farsesco e burlesco de nosso esquerdismo apresentando argumentos típicos do barroquismo mental de nossas elites, que de nossas artes plásticas e de nossas letras, desde o século XVII, extrapolou o estilo e a visão de mundo barroca para decisivos campos da vida nacional.

Farsesco pela ausência do sentido moral da comédia clássica e burlesco pela mera situação ridícula e vergonhosa.

Desde a magistratura da bela retórica garantista tirada dos alfarrábios júris-idealistas, que apenas procrastina o dever de uma sentença efetiva, aos políticos que burlam a representação dos eleitores pela de seus próprios interesses corporativos.

Além dos próprios cidadãos, sobretudo das elites, que sempre confundem cidadania com direitos sociais e quase nunca com deveres cívicos.

Resultado: estamos aprisionados numa armadilha barroquista, e sua visão de mundo mais da aparência do que da essência, mais da ironia do que do rigor, mais da fantasia do que da realidade, onde quase nunca afloram o bom senso e a razoabilidade clássicas experimentadas na Renascença e no Iluminismo.

A primeira por que inexistíamos ao tempo do advento da Renascença, uma vez que fomos descobertos na vigência do Barroco. O segundo por que totalmente desconsiderado pelo romantismo de nossas elites fundadoras da pátria.

O barroquismo como resíduo inexpelível de nossas mentes, a estrutura mesma de nosso inconsciente coletivo, a parcial e torta perspectiva através da qual vemos o mundo, o repertório pelo qual pensamos a realidade do país e escolhemos agir sobre ela.

Sobretudo quando transpomos para os campos da moral, da cívica e da política as figuras máximas da retórica barroca: a hipérbole do ver e do relatar, a ironia no tratar e a farsa e a burla no contratar uns com os outros na realidade da vida social.

Estas últimas sobretudo, se são comédias que nos ensinam sobre os valores morais, a não acreditar ingenuamente nas boas faculdades e intenções humanas, a conhecida “moral da estória”, apresentando como verdadeiro o que é falso, e o falso como verdadeiro, transpostas para a vida política e social concretas, é um atraso ou completo desastre civilizatório.

E quando se eternizam no esquerdismo cultural das mentes como relativismo moral, é mais desastroso ainda, sinal de que o país perdeu a guerra para a revolução cultural marxista e anacrônica.

Quando a esquerda, ignorante do mofo barroquista cuja humidade lhe encharca a mente, tenta mudar a substância dos nomes com as contorções das adjetivações em excesso ou simplesmente distorcendo o real significado dos substantivos.

Como justiça, que vira “justiça social”, como vida que se distorce  em “condições de vida”, ou liberdade que se retorce em libertinagem, ou sexo que se torce em gênero, propriedade que se exagera em ganância, trabalho que se generaliza em exploração, autoridade que se falseia em  autoritarismo, patriotismo em nacionalismo, Estado em providência divina e direitos sociais se arvoram a franquias ilimitadas.

Se não, vejam a pérola do barroquismo da campanha: os psolistas argumentam que o Rio precisa mais da intervenção “dos lápis do que dos fuzis”! É de se perguntar o que fiofó tem a ver com os fundilhos das calças. O fuzil não está em oposição ao lápis.

O Brasil precisa de muita educação, sim, e de alta qualidade para tirar os jovens do circuito do crime institucionalizado, desde os que correm nos corruptos palácios de Brasília até os que grassam nos corrompidos presídios dos estados.

E precisa também, em momentos de crise, de intervenção das forças de segurança com apoio e presença das Forças Armadas, como prescreve a Constituição em casos de incontrolável desordem pública.

Utilizar-se do oportunismo de uma farsa para denunciar outra farsa, figuras de comparação de coisas de natureza diversa, não se trata apenas de retórica sofismática ou pura desonestidade intelectual, mas demonstração cabal da lavagem cerebral barroco-esquerdista de nossas elites “pensantes”.

Haja Lava Jato para dar conta de tanto anacronismo! De lavar a jato o cerebelo de tantos oportunistas e demagogos esquerdistas!

Jorge Maranhão, mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão

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