Diário do Comércio de São Paulo – A Voz do Cidadão https://www.avozdocidadao.com.br Instituto de Cultura de Cidadania Tue, 11 Jun 2019 17:09:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.8 Artigo – do Diário do Comércio de São Paulo: “A privilegiatura e a farsa da República, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-a-privilegiatura-e-a-farsa-da-republica-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-a-privilegiatura-e-a-farsa-da-republica-por-jorge-maranhao/#respond Sat, 08 Jun 2019 00:54:42 +0000 https://www.avozdocidadao.com.br/?p=31913 Ainda com relação à polêmica sobre o texto reproduzido pelo presidente Jair Bolsonaro, que é de autoria de Paulo Portinho, funcionário da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e membro do Partido Novo, a ingovernabilidade do país é devida aos inúmeros sindicatos que tomam conta do orçamento público.

E nem precisa dar nomes aos bois, uma vez que passaram a chover campanhas e vídeos de associações e sindicatos de funcionários públicos nas redes sociais que resolveram vestir a carapuça defendendo seus “direitos adquiridos” contra a reforma da Nova Previdência.

Não tenho nada contra as corporações defenderem suas chamadas prerrogativas diante dos empregados do setor privado, mas não podemos argumentar com falácias barroquistas.

Temos de ter em mente de maneira mais clara possível as diferenças entre prerrogativas e privilégios. E o princípio moral que inibe tais diferenças.

Quando todos puderem, se quiserem, ter um mínimo de saúde, educação e cidadania, tudo bem, que se diferenciem os mais indispensáveis para o bem público dos mais comuns dos mortais. Os detentores de prerrogativas diante dos detentores apenas de direitos.

Mas “direitos adquiridos” me parece abuso de direitos. Pois podem ter sido “adquiridos” por meios ilegítimos, uma vez que nem todas as leis se pautam pelos princípios da moralidade pública.

Seguindo a regra de ouro da tradição moral ocidental, de que tudo que não puder ser minimamente constituído como direito de todos, na verdade, não pode ser concedido como direito de ninguém, temos o próprio fundamento da democracia e da república.

O que implica que todos somos iguais perante a lei, ou que não se pode defender apenas para sua categoria o que não possa ser estendido a todas as demais. A menos que se aceite o inaceitável que é a farsa de uma república torcida nos paradoxos do barroquismo mental.

Uma república que não é de todos, mas cativa de corporações organizadas em verdadeiros sindicatos de defesa de privilégios, simplesmente não é uma república. Mas apenas uma farsa.

Não se trata, portanto, da luta decisiva de um presidente contra a chamada privilegiatura, mas uma luta de todos os cidadãos comuns que querem mudar o Brasil para que este se aproxime mais de uma verdadeira república.

Neste sentido, identificar e dar nomes aos bois dos republicanos de araque, dos farsantes da pátria, dos renitentes contorcionistas da realidade, dos sofistas de plantão, dos retóricos das falácias, barroquistas privilecos, passa a ser dever cívico e moral de todos os cidadãos comuns.

Que devem identificá-los para o escrutínio de todos os demais cidadãos. E segue a lista para o conhecimento público, não apenas dos sindicatos das corporações que privatizam os recursos públicos, mas a lista de seus “direitos adquiridos”.

Que o leitor examine e faça, inclusive, contribuições de acréscimo ou de exclusão se os argumentos lhe parecer convincentes, sempre à luz do princípio moral de que se exija mais dos que têm mais para servir do mínimo os que menos têm:

  1. Liste-se o quanto somam os penduricalhos salariais e benefícios das elites dos agentes públicos como magistrados, promotores, procuradores, auditores fiscais e demais que lhes assemelham. Os “servidores-sindicalistas”, para além dos “sindicalistas de toga”.
  2. Mas que se aproveite e se explicite quem são os “sindicalistas de cátedra e de reitorias”, que acabaram estendendo seus privilégios para os demais cargos da cúpula administrativa e “autônoma” das universidades públicas.
  3. E também os “sindicalistas do regime próprio” da Velha Previdência. Das altas pensões do RPPS que sempre poderão ter a previdência complementar privada como alternativa;
  4. Assim como os empresários estado-dependentes, “sindicalistas de oligopólios” com dinheiro público, “os campeões nacionais”. Os que nadam de braçada nos créditos subsidiados dos bancos públicos para grandes empresas;
  5. Ou os “sindicalistas de tribuna”,da privilegiatura das legislaturas parlamentares, com verbas de  gabinete, auxílios-paletó, moradia, correios e outras espécimes raras;
  6. Ou os “sindicalistas das estatais” que se fartam de aportes do tesouro para mais de 400 empresas que só dão prejuízo para a União, sustentados com os impostos de todos os cidadãos e apadrinhados por políticos que são seus verdadeiros controladores;
  7. Ou os “sindicalistas dos subsídios” ou das desonerações de setores empresariais inteiros cevados de ganhos públicos fáceis, sem se expor a qualquer competitividade;
  8. Ou os “sindicalistas da pelegagem” que vivem dos impostos e contribuições sobre os salários dos trabalhadores, tanto para alimentar sindicatos de pelegos como a jabuticaba da justiça do trabalho que só existe no Brasil;
  9. Ou os“sindicalistas da burocracia federal”, que de federal não tem nada, pois que cuidam para que os orçamentos dos entes da União vivam a passear por Brasília para depois retornar aos estados e municípios em forma de toma lá dá cá.
  10. Por fim, quanto aos “sindicalistas da contra-informação”, que se dê melhor uso aos orçamentos escandalosos de publicidade estatal direcionados às grandes mídias que, a cada dia, perdem mais audiência em face da concorrência dos canais independentes das redes sociais.

Já apresentei em meu último livro (*), inclusive, uma alternativa de legitimação dos orçamentos estatais com a mídia. Não através de campanhas ditas de “marketing” dos entes federados ou da União, mas de um programa de publicização de valores, segmento por segmento, dos orçamentos destinados a sindicatos e corporações e seus privilégios, para que a opinião pública tenha condições de formar seu melhor juízo.

Enfim, que se demonstre publicamente os cortes dos privilégios dos que apostam no fracasso do país, dos que se opuseram e se opõem diariamente, não apenas ao governo legitimamente eleito, mas a um Brasil mais justo, próspero e republicano.

(*)“Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”

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Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: “A arte barroquista de embrulhar”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-a-arte-barroquista-de-embrulhar-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-a-arte-barroquista-de-embrulhar-por-jorge-maranhao/#respond Thu, 14 Mar 2019 13:20:20 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br/?p=30371

Tudo se pereniza como a contínua farsa de que o Estado deve ser provedor universal, o Estado-babá, e não o protetor tão simplesmente da vida, das liberdades e propriedades dos cidadãos


Por Jorge Maranhão 11 de Março de 2019 às 10:31h

É comentário geral da maioria dos sites recordistas de seguidores das redes sociais, que os sucessivos imbróglios do governo Bolsonaro já deram o que tinham de dar e estão sendo usados pelas forças políticas do atraso como manobra diversionista diante da pauta que realmente interessa aos cidadãos sobre as reformas do Estado.

Quando digo que a cultura subjacente e resiliente nos campos da política, justiça e costumes brasileiros é essencialmente barroquista, as críticas acessórias e adjetivas sobre falas infelizes de ministros –sobretudo da trinca Vélez-Araújo-Damares – por parte de uma mídia corporativa e fabiana vem bem a demonstrar esta tese.

A esta trinca ingênua da política, diante dos setores obsessivos contra o governo, como acadêmicos chapa-branca, jornalistas e artistas globais enviesados, e altos burocratas corporativos, que formam a trinca da resistência esquerdista de maneira geral, que veem o Estado como fonte de seus privilégios, se junta a grande maioria de todos os demais setores da vida nacional.

Setores em geral alheios a esta comédia de erros e cultura de farsa renitente, como os trabalhadores privados, o empresariado feito por conta própria, profissionais liberais e prestadores de serviços autônomos, micro, pequenos e médios comerciantesindependentes, enfim, o Brasil que trabalha e produz distante do estado e seus dependentes privilegiados.

Este é o imbróglio que divide a nação entre uma cultura resiliente de legado barroquista e a esperança de entrada numa era iluminista de sensatez e correção geral.

Imbróglio que, em bom italiano, é confusão, torção, trapaça, farsa, trapalhada, a arte de embrulhar, esconder o real conteúdo. Ou como prefere Elio Gaspari, patranha. Um dos termos mais sinonimizados da língua portuguesa.

Em meu novo livro já levantei mais de 100 sinônimos de logro, engano, trambique etc. Nos primórdios do gênero farsesco e burlesco do Barroco literário italiano e espanhol, e logo disseminado para França e Portugal, tratava-se da narrativa de algo que não é o que parece ser ou parece ser o que não é. Como pode ser o que não é e parece ser o que não parece!

Jeux de mots como cultismo do barroco literário. Jeux d’idées como conceptismo do mesmo barroco. Resultado: jogo, sempre jogo, entre o real e o imaginário, fascinação maior da cultura latina e mediterrânea que, no Brasil restou desilustrada e incontida pelo mais raso iluminismo que fosse. E que aportou em nossas enseadas sem o viço cultural suficiente para restabelecer o equilíbrio inter pars.

Tudo para confundir, desviar do caminho a seguir, seduzir, distrair, dissuadir, desvirtuar! Tudo para evitar fazer o que deve ser feito, por carência imanente de sensatez, senso de proporção e razoabilidade! Da tradição iluminista da filosofia clássica, enfim, mitigada pela nossa singular e ofuscante mentalidade barroquista!

Entenda-se o barroquismo no contexto da globalização da catequização e inquisição do século 15 e 16, mas no contexto da globalização da computação e comunicação dos séculos 20 e 21 é simples anacronismo mental, nosso impasse civilizatório de raiz, condenação ao atraso.

Como diz a deputada Janaína Paschoal, em relação aos imbróglios dos laranjais, para evitar desvio de dinheiro público para financiar eleições, o melhor mesmo seria cortar esta jabuticaba pela raiz.

Acabe-se com o fundo partidário e o fundo eleitoral. E reconheçam o direito fundamental às candidaturas avulsas e ao financiamento privado transparente. Assim só quem realmente quer o bem comum vai procurar a política. Simples assim.

Mera questão de bom senso comezinho no trato cotidiano entre cidadãos comuns. Como tenho defendido há anos com o programa dos Agentes de Cidadania nas redes sociais.

Onde todas as propostas dos cidadãos são de simples senso comum, sensatez e senso de proporção, razoabilidade e efetivo interesse público pois, afinal, estamos nos manifestando no espaço público sobre algo de nosso pleno domínio! Caso contrário, o que estará em jogo é nossa reputação. Simples assim.

E eu mesmo complemento agora com outro imbróglio disfarçado de notícia. Para evitar o desvio de dinheiro público da CNI, por exemplo, cuja investigação levou a cúpula da diretoria para o xilindró, que se extinga também essa outra jabuticaba. Pois não é função do estado capacitar a mão de obra das indústrias, e sim educar indiscriminadamente todos os cidadãos.

Se as indústrias precisam investir na capacitação de seus colaboradores para melhor competir no mercado, ótimo! Que o façam com seus próprios recursos! Simples assim.

Como da mesma forma, produções cinematográficas de apologia ao terrorismo, flagrante delito contra dispositivo constitucional, como o filme “Mariguella”, financiado com recursos públicos, que se autofinanciem com dinheiro privado! Outra vez, simples assim.

Por que se não, tudo se pereniza como a contínua farsa de que o Estado deve ser provedor universal, o Estado-babá, e não o protetor tão simplesmente da vida, das liberdades e propriedades dos cidadãos, via suas forças armadas, diplomacia, polícias, tribunais e órgãos de controle.

E apenas isto, que já é muito. Pois quaisquer outros órgãos, autarquias ou empresas que não se enquadrem nessas funções essenciais, que sejam extintas. Outra vez, simples assim.

Para além do que não for simples, se trata de mais uma exibição das torções e distorções barroquistas, dos exageros custosos dos ornamentos, da troca do essencial pelo efêmero, do substantivo pelo adjetivo, do objeto pelo seu adorno, da vida pelas condições de vida, do imprescindível dever cívico pelos tão ilimitados quanto falsos direitos sociais, da essência pela aparência, do gênero pela espécie, do sujeito pela sua circunstância!

Ou da troca das reformas essenciais do próprio Estado, sobretudo as que o obriguem a uma dieta de restrição institucional e funcional, como as da previdência, da segurança e da justiça, que visam a essencial equidade cívico-jurídica entre os cidadãos, pelas rocambolescas trombadas palacianas, obras de nossa cultural geral de farsa barroquista e nosso apego fatal pelo supérfluo, nossa dificuldade mesma em discernir a realidade da imaginação!

Veja mais em https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/a-arte-barroquista-de-embrulhar 

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Artigo – Do Congresso em Foco: “A falta que a cultura faz”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-congresso-em-foco-a-falta-que-a-cultura-faz-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-congresso-em-foco-a-falta-que-a-cultura-faz-por-jorge-maranhao/#respond Thu, 17 Jan 2019 12:36:19 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=30022

Talvez pelo vício de restringir a cultura às suas meras expressões artísticas, intelectuais, folclóricas ou de lazer. Ou às pautas dos suplementos de artes e espetáculos da grande mídia. Esquecendo-se de suas manifestações judiciais, morais, religiosas e ideológicas. E, no máximo, estabelecendo suas relações com a economia, irmã gêmea da política. Quando não insistem em diagnosticar e prever o desenrolar dos fatos políticos em comparação com fatos tidos como semelhantes e ocorridos em tempos passados.

Já os analistas e críticos culturais se obrigam à dura tarefa de estabelecer relações entre os mais variados campos da expressão cultural, incorporando para tal, os recursos conceituais da filosofia da arte e da cultura. Mas não têm a merecida visibilidade por parte da grande mídia dominada pelo imediatismo da cobertura política e econômica, quando não social e criminal.

Para além da proposta de uma nova visão de nossa identidade, trata-se de uma estratégia de argumentação sobre a fadiga da República como nossa maior farsa “progressista”, ao mesmo tempo da descoberta desconcertante de nosso atávico conservadorismo, amor mesmo pelas nossas tradições.

Sobretudo pelo nosso gosto pelas torções, contorções e distorções barroquistas, pura cultura brasileira desastrosamente transbordada para a política, a justiça, a moral e os costumes, sem reconhecimento crítico, mas apenas tomada como nosso “jeito” (ou jeitinho?) de ser.

Tenho trabalhado nos últimos anos – sobretudo a partir das megamanifestações de 2013 de uma emergente classe de cidadania política – com a hipótese de esgotamento de nosso legado cultural barroquista e com a promessa, enfim, de inauguração de uma era iluminista de nossa cultura.

Nesse sentido, tenho defendido a tese de que talvez estejamos vivendo o momento histórico de superar definitivamente a hegemonia barroquista em que estamos enredados há quatro séculos. Mas talvez não estejamos percebendo.

Todavia, todo cuidado é pouco, pois se o iluminismo europeu, impregnado de romantismo, denunciou o esquerdismo como a doença infantil do comunismo, o nosso legado barroco, manco de Renascença e Iluminismo, só agora, depois de um século de defasagem e desastroso transbordamento cultural, está a denunciar nosso esquerdismo como a doença senil do barroquismo.

Nenhum de nossos maiores ficcionistas, sábios ou profetas poderia imaginar essa verdadeira reviravolta dada por nossa cultura política nos últimos anos. Chamaria mesmo de radical torção, um verdadeiro cavalo de pau de nosso legado contorcionista.

Mesmo os grandes intérpretes do Brasil – dentre os mais de 50 que inventariei em meu novo livro – denunciaram causas e fenômenos singulares de nossas raízes históricas e culturais, como o patrimonialismo e o corporativismo, o familismo e o cunhadismo, o coronelismo e o patriarcalismo, o fisiologismo e o bacharelismo.

Mas nenhum culminou no fenômeno mais abrangente, e causa última a meu ver, de todo o complexo cultural brasileiro como o barroquismo, do qual esses outros lhe seriam meros caudatários ou mesmo de incidência setorial nos âmbitos da vida social, familiar, artística, econômica, política ou moral, com suas características mais gerais de gosto pela retórica da farsa, do paradoxal, da ironia, alegoria, paródia e hipérbole.

Para além da proposta de uma nova visão de nossa identidade, trata-se de uma estratégia de argumentação sobre a fadiga da República como nossa maior farsa progressista, ao mesmo tempo da descoberta desconcertante de nosso atávico conservadorismo, amor mesmo pelas nossas tradições, e sobretudo nosso gosto pelas torções, contorções e distorções barroquistas. Nosso libidinal gozo com o arrocho das volutas da cultura nas fartas espirais da natureza.

Aliás, neste meu novo livro, faço um vasto inventário de nossos costumes barroquistas, em todos os campos da expressão cultural nacional para além das artes e das letras barrocas, e que podem ser simbolizados pelas figuras centrais das volutas e espirais barrocas, sobretudo como figuras de representação retórica do paradoxo, da farsa, da ironia e da hipérbole.

Redobradas e desdobradas volutas como formas de se ir para a direita pelo sentido da esquerda e para a esquerda pelo sentido da direita. Torções, retorções, contorções e distorções em campos tão insuspeitos como os registros históricos, os feitos empresariais, os processos judiciais, políticos, culturais e sobretudo morais.

Somos assim mesmo, o estilo da arte barroca do século XVI, sem a mediação e temperança da boa forma e da justa medida da Renascença que lhe antecedeu, nem tampouco da prudência e do equilíbrio da cultura iluminista que lhe sucedeu, desde o século XVII e XVIII, transbordou para todo o complexo cultural brasileiro, nossa chamada mentalidade barroquista, nosso apego à uma visão de mundo moldada em torções, contorções e distorções da realidade.

Enfim, nosso espírito hiperbólico, irônico, alegórico, paradoxal, parabólico, farsesco e burlesco, com que vemos, nos inserimos e tratamos tudo em nossa volta. E reviravoltas.

Meio a nosso barroquismo moral pleno de relativismo, os recursismos de nosso Judiciário plenos de atenuantes e agravantes e a farsa, para não dizer a burla, de nossa política que quer a todos enganar por todo o tempo, eis que um capitão imbuído dos valores da ordem, da disciplina e hierarquia aprendidos no Exército, se empenha em levar ao cenário central de nosso barroquismo político, o Congresso Nacional, o bom senso e a clareza do senso comum, tal qual a fábula O rei está nu, de Hans Christian Andersen.

Só não ouviram os que não quiseram ouvir a voz do capitão que representava a indignação de milhões de cidadãos desde as megamanifestações de 2013 em repúdio aos desmantelos e esbulhos de nossa cínica classe política.

A partir daí, tem sido definitivo o exercício de outro valor muito caro aos militares, a humildade de reconhecer seus próprios limites e se cercar dos melhores de cada área em que terão de atuar.

Assim, o capitão está a convocar os melhores da alta cultura brasileira para pôr em prática políticas públicas plenas de razoabilidade e efetividade, o que pode resultar numa oportunidade histórica de passarmos para uma era iluminista de afirmação do bom senso e do senso de proporção, de desapego, enfim, pelo adjetivismo, ornamentalismo e as desmesuras da vã retórica barroquista.

Para além de um novo governo, o que vemos no Brasil é um grande embate entre duas grandes tradições culturais do Ocidente, o iluminismo e o barroquismo em que temos vivido imersos todos esses séculos, por não conseguirmos reunir verdadeiras elites para empreender, enfim, a mudança do paradigma cultural da vã retórica populista para a ordem da razão no trato da coisa pública.

Nesse sentido, é um equívoco extinguir o equipamento público de maior garantia de transformação cultural contra a hegemonia da revolução cultural na área da mídia privada que teve vigência nos últimos governos petistas.

Para além do desaparelhamento esquerdista nas áreas da educação, da Justiça e das artes, se faz urgente não apenas um Ministério da Cultura, mas sobretudo uma rede de televisão pública. Assim como uma campanha pelo senso comum do cidadão comum.

Aliás, uma única rede pública não pesa no orçamento se for gerida harmônica e independentemente pelos três poderes da República, extinguindo-se esta jabuticaba barroquista de três redes para cada um dos três poderes chamarem de sua, e apenas fazerem propaganda corporativa de seus feitos, uma prova de quão desarmônicos e dependentes são de suas desmesuras.

Sobretudo uma única rede pública, como a BBC, mantida pela assinatura de seus usuários voluntários, os cidadãos, e os compulsórios, com parte ínfima do orçamento publicitário astronômico que empresas e autarquias federais destinam às redes privadas de conteúdo duvidoso.

Manter uma única rede de televisão pública até mesmo como reguladora da pluralidade cultural, ideológica e doutrinária e na conservação de nossas tradições e costumes, que deveria haver na mídia privada, mas não há, é uma oportunidade única de garantir a restauração dos valores morais da tradição ocidental judaico-cristã anunciada pelos ministérios da Educação e Relações Exteriores, uma vez que é a cultura a determinante estratégica do próprio sucesso das políticas econômicas e sociais a serem implementadas.

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Livro – “Destorcer o Brasil”, um trecho para degustação do leitor do Diário do Comércio de São Paulo https://www.avozdocidadao.com.br/livro-destorcer-o-brasil-um-trecho-para-degustacao-do-leitor-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo/ https://www.avozdocidadao.com.br/livro-destorcer-o-brasil-um-trecho-para-degustacao-do-leitor-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo/#respond Tue, 11 Dec 2018 14:41:45 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29854 Aqui você pode degustar um trecho de meu livro dirigido sobretudo ao mundo dos negócios. Um dos cinco campos da expressão cultural brasileira em que nosso barroco artístico se transbordou em valores e figuras de estilo. Produtos do mundo do empreendedorismo que legaram as mesmas características do barroquismo onipresente no espírito brasileiro: o gosto pela farsa, pelo exagero, pela mistura e meio termo. Aprecie com ou sem moderação.

Em: https://dcomercio.com.br/pre-visualizar-publicacao/na-terra-da-lei-de-gerson

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Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo: “Ao ocaso de nosso barroquismo, a aurora do bom senso”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-ao-ocaso-de-nosso-barroquismo-a-aurora-do-bom-senso-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-ao-ocaso-de-nosso-barroquismo-a-aurora-do-bom-senso-por-jorge-maranhao/#respond Sat, 08 Sep 2018 00:13:19 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29414 Do Diário de Comércio de São Paulo:

A queima da memória nacional no último dia 2 de setembro foi tão danosa para a civilização ocidental como a derrubada das torres do World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001


  Por Jorge Maranhão 06 de Setembro de 2018 às 20:42  | Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão


Que falta fazem duas vozes de nossos raros expoentes liberais: José Osvaldo de Meira Penna, o psicólogo social do Brasil, e seu contemporâneo e colega Roberto Campos, o guerreiro do bom senso.

Sobretudo neste grave momento em que temos de decidir de vez os rumos deste imenso e ainda tosco país. Ou retomamos o rumo da sensatez, prudência e responsabilidade ou permaneceremos nesta doença infantil do esquerdismo que nos levará ao mesmo destino do horror bolivariano.

A queima da memória nacional no último dia 2 de setembro foi tão danosa para a civilização ocidental como a derrubada das torres do World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001.

Só que fomos atacados por inimigos internos, a esquerdalha que segue a cartilha de Gramsci sobre a destruição da “sociedade burguesa” pela destruição de seus valores constitutivos como a história, as tradições, a família, a religião, a democracia, a justiça e a propriedade privada.

Como circula nas redes sociais, não basta se indignar com a generalização da responsabilidade, típico sofisma esquerdista de diluir a culpa pessoal para toda a sociedade.

Temos a obrigação cívica de questionar o MPF: se em danos ao patrimônio público por gestores privados cabe a denúncia de gestão temerária e negligência, como na tragédia de Mariana, por que a mesma denúncia não cabe quando os gestores são agentes públicos, como no caso agora do Museu Nacional?

Reitores, decanos e diretores de instituições universitárias e de museus públicos estão acima da lei por que se acham monopolistas das virtudes sociais e filiados a partidos de esquerda?

É em seu livro “Em berço esplêndido, ensaios de psicologia coletiva” , reeditado em 1999, que o grande diplomata e pensador José Osvaldo de Meira Penna (1917 – 2017), lançando mão dos instrumentos de análise da psicologia social junguiana, faz uma das melhores e argutas sínteses do caráter do brasileiro, quando o define como “homo eroticus”, ou “homo ludens” da tradição da Europa mediterrânea, em contraposição ao ”homo logicus” ou “homo sapiens” da tradição norte-européia.

Em “Da moral em economia”, reeditado em 2002, o autor explica os impasses de nosso desenvolvimento econômico pela visão moral dominante no país, o esforço catequético jesuíta de idealizar os pobres e condenar os ricos a priori, como a “opção preferencial pela pobreza”, lema romântico esquerdista da CNB do B, como satirizava, e que irá contraditar numa outra obra, a “opção preferencial pela riqueza” da tradição calvinista dos países saxãos.

Meira Penna chega a diagnosticar nossas dificuldades culturais diante de não termos experimentado o Iluminismo do século XVIII europeu nem tampouco a tradição do pensamento utilitarista inglês, barrados pela nossa tradição contra reformista católico-barroca. Mas não aprofunda este componente da determinação barroquista como causa de nossa aversão pelo bom senso e a razoabilidade.

Sabemos que o puritanismo protestante veio prover a sociedade norte americana de valores morais condicionantes do progresso econômico capitalista, como honra a contratos, palavra empenhada, apreço ao trabalho e ao mérito, respeito incondicional às liberdades civis e à propriedade privada, aversão à mentira e à farsa.

Mas não sabemos bem por que, ou mesmo como, o catolicismo jesuíta travou nosso desenvolvimento econômico e social, questão a que me dedico há anos e que chamo de nossa predileção incontida pela farsa e seus sucedâneos: torções, retorções, contorções e distorções barroquistas.

Meira Penna exemplifica nossa atitude diante da vida com o padrão de conduta no trânsito, arguta percepção de nossa psicologia social de trocarmos meio de transporte por meio de armamento. E que sintetizei um dia na legenda: “Diga-me como teu povo se comporta no volante, ao dirigir seus automóveis nas ruas e estradas, e eu te direi a que grau de civilização ele pertence”.

Mais a síntese definitiva que faz de nosso caráter, aquilo que melhor nos caracteriza, é quando compara os quatro padrões culturais mundiais com o modo de o povo se relacionar com as leis.

A mais avançada, segundo o autor é “o padrão inglês, onde tudo é permitido, salvo aquilo que é proibido. Menos perfeito que o inglês, temos o padrão suíço, onde tudo é proibido, menos aquilo que é permitido. O terceiro tipo é dos países totalitários, como Cuba, Coréia do Norte, China, onde tudo é proibido, mesmo aquilo que é especificamente permitido. O quarto padrão é de países anárquicos, carnavalescos e antinômicos como o Brasil, onde tudo é permitido, mesmo aquilo que é proibido”.

Não tenho visto melhor análise psicológica de nosso caráter do que a de nosso grande diplomata, pensador e escritor J.O. de Meira Penna, que tanta falta nos faz, juntamente com seu contemporâneo, nascido no mesmo ano, amigo e confrade liberal, nosso maior economista, Roberto Campos (1917 – 2001).

Nosso guerreiro do bom senso, Roberto Campos escreveu uma coletânea de ensaios na década de 80 que é válida até os dias de hoje. Em Antologia do Bom Senso, reeditada em 1996, retoma o tema da doutrina liberal que não entrou na cabeça de nenhum de nossos governantes socialistas e social democratas dos últimos 30 anos.

Embaixador de carreira como Meira Penna, ensaísta, político e estadista, Roberto Campos se diferenciou do pensamento dominante de esquerda de toda uma geração de intelectuais brasileiros do século XX, pois foi um dos poucos que assumiu na trincheira política uma posição doutrinária francamente liberal. De temperamento menos recatado do que Meira Penna, sacrificou uma obra intelectual tão consistente como a dele para travar os embates mais rudes da política.

Como parlamentar constituinte, foi extremamente crítico em relação à Constituição de 1988, denunciando como demagogia o que deveria ser a consolidação das instituições do Estado democrático de direito e o fortalecimento da cidadania, identificando-a como um perigoso expediente de ingovernabilidade do país, na medida em que oferece inúmeros intitulamentos sem as correspondentes provisões.

Constituição dita “cidadã, onde o termo direitos é citado 76 vezes contra apenas 4 vezes é citado o termo deveres. Defensor de Collor no embate com Lula nas eleições de 1998, ficou emblemática, todavia, no final de sua vida, já em cadeiras de rodas, a sua decisão de comparecer à sessão de votação do impeachment do presidente por corrupção, demonstrando, com seu exemplo, que a cidadania está acima de quaisquer interesses.

Seu diagnóstico sobre nossa patologia cultural enumerava cinco grandes doenças dos “ismos”, como chamava: a degradação do valor do patriotismo pelo nacionalismo; a degradação da democracia pela demagogia, ou populismo; o estruturalismo econômico da teoria da dependência cepalina; o protecionismo tarifário que resulta em ineficiência; e o estatismo que vicia a todos a fugir da concorrência. O que nos leva sempre à “vanguarda do atraso”, mesmo diante de países de nosso porte.

Se passados 30 anos e permanecemos com as mesmas “doenças dos ismos” que atravancam nosso crescimento e nos infelicitam a todos, temos de concluir que é chegado o momento, enfim, de um novo pacto pelo bom senso, pelo equilíbrio e pela prudência.

E entender que, mesmo aos trancos e barrancos, podemos superar estas doenças de tudo carnavalizar, torcer e retorcer, contorcer e distorcer, cuja matriz maior não é outra se não a resiliência de nosso barroquismo no inconsciente coletivo, no imaginário social brasileiro, extrapolado das artes e letras do século XVII para os mais variados campos da nossa expressão cultural, como nossa extravagante política, nossa contorcionista justiça e nossa farsante conduta moral e cívica.

Para mais acesse: https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/ao-ocaso-de-nosso-barroquismo-a-aurora-do-bom-senso

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Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo – As fakenews e nosso cansaço nacional, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-as-fakenews-e-nosso-cansaco-nacional-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-as-fakenews-e-nosso-cansaco-nacional-por-jorge-maranhao/#respond Mon, 13 Aug 2018 16:34:04 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29132

  Por Jorge Maranhão 09 de Agosto de 2018   | Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão


Nunca vi tanta contorção do jornalismo global para encarar um fato: não dá para fazer campanha de massa contra o fenômeno das fakenews e ao mesmo tempo praticá-las como ficou patente no episódio de a jornalista Miriam Leitão terminar e não terminar o programa de entrevistas ao vivo do candidato Bolsonaro na última sexta-feira (3/08), rebater a afirmação do candidato de que o presidente fundador do Grupo Globo declarou apoio editorial ao regime militar, enquanto vivo, sendo contraditado por seus sucessores jornalistas, depois de morto, de que fora um erro histórico tal apoio.  

Resultado: uma tempestade nas redes sociais de cidadãos cumprindo o conselho da campanha das fakenews: pondo em dúvida a correção da correção desastrada da jornalista desmentindo o candidato entrevistado.  

O fato é que o Brasil cansou de ser barroco. Não o Brasil analfabeto funcional que vive preso no imaginário barroco sem ter consciência disso. Mas o Brasil letrado, as verdadeiras elites que leem e acompanham o noticiário político dos jornais e televisões. E se manifestam nas redes sociais como nunca dantes.  

Se somos 20 perante 200 milhões, não importa. Importa é que passamos a ter consciência de que queremos mudar nossa cultura política. Só não sabemos como, por que não sabemos que ela já começou a mudar exatamente por que aprendemos a nos manifestar nas ruas e nas redes sociais.  

E se soubermos mais um pouco, que estivemos cativos da visão de mundo barroca durante tantos séculos, mudaremos a cultura política muito mais rápido.  

Porque em todas as sociedades humanas, o que faz mudar a cultura e os costumes é o imaginário social projetado na mídia por verdadeiras elites. Das imagens riscadas nas paredes rochosas das cavernas neolíticas às imagens em movimento alucinante das telas de televisões e computadores.  

Se cinco milhões de nós já foram às grandes manifestações de ruas, quatro vezes mais preferiram protestar nas redes sociais.  

Se os velhos políticos não nos representam, os que frequentam as investigações da PF e o noticiário criminal da mídia, os novos estão a pipocar em todo o país.  

Estamos a mudá-los porque nos cansamos de ser enganados por eles. Cansamos de farsas, pantomimas, paradoxos e exageros.  

O barroco era só artes no século XVII e XVIII, sermões, sonetos, pinturas e esculturas sacras e as volutas das arquiteturas das igrejas. Mas foi arrebatando de tal sorte nosso imaginário, que dominou nossos costumes, valores morais, a política e a justiça sem nenhuma resistência cultural de nossas elites.  

Conservamos o barroquismo em nossas almas até mesmo quando fomos árcades, românticos e modernos! Se hoje posso identificar a exuberância das narrativas barrocas sobre nossa abundância de recursos naturais, posso identificar a resistência cultural ao Iluminismo, uma vez que nos descobriram passada a Renascença clássica, em pleno vigor do Barroco europeu. E na luta entre as duas culturas, nos coube a prevalência renitente do barroquismo diante de nossa rarefeita razão, nosso incipiente bom senso. 

As principais características da cultura barroca brasileira, e para além da expressão da arte que todos consagraram, são as figuras da ambiguidade, para além das do exagero, embora estas últimas não deixem de resultar em ambivalência também.  

Para além da hipérbole do ver, a ironia do tratar, a farsa do relatar e o paradoxo do pensar que dominam nosso universo barroco. No ato de ver, no trato com o outro, no relato do feito, no objeto do contrato. Respectivamente. Figuras retóricas que, sobremaneira, distorcem valores.  

Como diz a professora de português Cíntia Chagas, do programa Pânico da Jovem Pan, nossa educação política começa com as hiperbólicas promessas dos políticos em campanhas de eleições e termina com os eufemismos de sempre ao descrever o péssimo desempenho de seus governos.  

São mais de século, desde o Império, que os cidadãos passaram a ser céticos com relação aos seus representantes. 

Se os recursos retóricos do barroco são cativantes e enternecedores nas artes, está a nos cair a ficha de que são desastrosos, nefastos e estarrecedores na moral, na cívica, na justiça e na política!  

Todavia, os intérpretes da cultura e da história do país passam ao largo desta questão que considero central! E quando se referem ao barroco, é sempre en passant e limitados à perspectiva estética, artística ou, no máximo, no campo da antropologia cultural.  

Sobretudo os doutrinados e doutrinantes progressistas e engajados nas reformas sociais! Não há pensamento liberal brasileiro fora da economia e da política. Como não há conservador fora da caixinha dos costumes.

Pelo menos na tradição de nossos pensadores mais conservadores e liberais como José Bonifácio de Andrade e Silva, Hipólito da Costa, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Armando de Sales Oliveira, Oliveira Viana, Meira Penna, Roberto Campos e alguns outros citados por Antonio Paim na História do liberalismo brasileiro, que vem de ser relançado pelo LVM Editora e que recomendo.  

O que iria neste percurso, J. G. Merquior, morreu muito cedo antes de fazer esta inferência do campo das artes para a cultura política e moral.  

Pois eu tenho me dedicado a este estudo, que sairá em livro proximamente, para tentar suprir esta lacuna, embora sem tamanho talento, nem tampouco engenho!  

Sérgio Paulo Rouanet ainda se ocupa de nosso irracionalismo cultural mas permanece no campo da filosofia e da crítica da cultura e da arte. Por que, para além do campo da produção cultural das artes e dos costumes, a questão é que estes principais recursos do barroquismo dominam nosso modo de pensar e agir em campos cruciais para o desenvolvimento da civilização brasileira, como a política, a cívica e a moral.  

Daí vem a nossa ironia para com a lei, a administração e o poder público, nossa sonsa admissão dos paradoxos como uma fatalidade histórica, nosso gosto pela farsa onde tudo que é pode não parecer que é, ou tudo que não é pode passar a parecer que é.  

Parecer ou aparecer, assim é se lhe parece. Nosso compromisso cultural é muito mais com a obscuridade barroca do que com a clareza classicista.

Não é à toa que as principais figuras da retórica barroca como o paradoxo, a ironia, a hipérbole, a metáfora, a metonímia, o eufemismo, a antítese, a ambiguidade, e outras, torcem, retorcem, contorcem e distorcem sentidos basicamente. Pois vivemos o mundo das emoções, não bastasse o locutor de futebol a nos massacrar com “a pura emoção”, “o nome da emoção” e outras disformes pérolas barroquistas.  

Seja no ver, seja no pensar, no sentir ou no agir. E a farsa, que era uma versão da comédia clássica com o necessário fim moral para a formação do cidadão, a chamada “moral da estória”, se reduz a mera burla, artimanha, ardil, onde o Lobo Mau se faz passar por Vovozinha, para comer o bobo espectador identificado com Chapeuzinho. O bobo cidadão que nos sentimos diante da política, da justiça e da conduta moral dos oligarcas dominantes, todos espertos, como relata a mídia. 

A farsa é nosso gênero predileto. Não é de hoje que trocamos a figura da paródia, onde não se pretende negar a origem da citação, pelo mero pastiche, onde se tenta passar como pensamento próprio uma sentença alheia.  

É o caso, por exemplo, do lema do liberalismo americano, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, cuja autoria atribuída tanto ao orador irlandês John Philpot Curran (1750-1817) quanto ao político americano Patrick Henry (1736 – 1799), de tanto usada pelo founding father Thomas Jefferson (1743 – 1826), acabou apropriada como sua pelos seus biógrafos.  

No entanto, a sentença foi rapidamente apropriada no Brasil pela UDN – União Democrática Nacional, desde a década de 40, talvez mais pelo desejo sincero de realmente lutar contra a facilidade de usurpação do poder político na República, do que propriamente pelo sucesso em consegui-lo na realidade.  

Agora, emblemática e fatídica mesmo é a máxima atribuída a Abraham Lincoln (1809 – 1865) “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” 

Como prova de que a cultura americana, diferentemente da cultura brasileira, foi bafejada pelo iluminismo reformista de anglicanos e calvinistas, ao contrário de nossa contra-reformista e hegemônica influência barroco-jesuítica, este lema traz em si a ideia clara do bom senso e da razoabilidade, princípios fundadores do classicismo.   

No entanto, na linha da farsa como gênero de nossa predileção e de nosso legado barroquista, o que vemos no Brasil, na chamada Constituição Cidadã, é exatamente a ausência total de razoabilidade, de proporção e de bom senso mesmo. Quando se prescreve 74 vezes a palavra “direitos” sem sequer meia dúzia de citações de sua forçosa contrapartida “dever”, observação ferina de um de seus próprios constituintes, o liberal Roberto Campos, em franca minoria na Assembleia denunciando que a “conta não iria fechar”. Como não fecha até hoje. 

O que vemos como o maior problema nacional: a ilusão de que o orçamento público é uma vaca leiteira de produção inesgotável, a ideia esquerdista e demagoga por excelência de que o Estado é provedor-mor de todos, como um Leviatã de burras infindas.  

Para efeito desta minha tese, é fundamental entendermos por que chegamos a esta falsa conclusão de que todos podem viver de um subsídio, incentivo ou isenção fiscal, uma bolsa disso ou daquilo.  

É como se vertêssemos a citação clássica americana para uma tradução cultural brasileira, a máxima e fatídica farsa nacional: “Pode-se enganar a todos durante todo o tempo”. 

E, voltando à introdução do tema: por que não conseguimos simplesmente dizer que apoiamos, sim, a revolução de 64, exatamente para nos livrar de uma outra revolução em curso armado pela facção esquerdista? E simplesmente, mudamos de opinião. Uma vez que conhecendo, depois, o quanto se exagerou na intervenção militar.

O que absolutamente podemos falar que foi um erro por parte de quem declarou o apoio, até por que não está mais vivo para poder se pronunciar.  

Pois, como tenho dito, é farsa. Muito antes do advento das fakenews, o nome disso sempre foi farsa, como já afirmou Karl Marx com relação à história, que se se repete a primeira vez como tragédia, a segunda se repete como farsa.

Farsa tão farsante no jornalismo quanto chamar farsa de fake. Pois não seria tão mais próprio e sugestivo, em bom português, chamar a campanha mesma contra as fakenews simplesmente de Farsa&fato?

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Artigos – Do Diário do Comércio de São Paulo: “Mas vem cá! E aí?”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigos-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-mas-vem-ca-e-ai-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigos-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-mas-vem-ca-e-ai-por-jorge-maranhao/#respond Thu, 26 Jul 2018 13:25:03 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28836 São Paulo, 4 de julho de 2018

Duas notícias recentes de fatos de nossa vida política que mais parecem ficção: o presidiário Lula questiona na Justiça se não pode fazer campanha de pré-candidato de dentro da própria cela. Penso com meus botões: tem cabimento?

Ou, na segunda notícia, faz sentido o Supremo determinar um deputado presidiário, que daqui a pouco já será uma bancada tenha o direito a despachar durante o dia no Congresso e se recolher ao seu domicílio na Papuda à noite? 

Notícias que remetem a outros casos esdrúxulos de nosso Supremo Jeitinho. Como o do ex-presidente do Senado que, por ser réu e não querer abandonar o cargo, teve declarada suspensa pelo Supremo “apenas” a sua intrínseca prerrogativa de sucessão à Presidência da República.

Ou uma ex-presidente, cassada por crime contra a administração pública, que manteve seus plenos direitos políticos e agora é candidata ao Senado.  

A instituição maior do Judiciário está caindo de podre. Perdeu totalmente a dignidade e o respeito da cidadania brasileira. Basta entrar em qualquer rede social, milhares de memes fazem chacota com o Excelso Pretório.  

Como já disse Nelson Rodrigues, “subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos”. Toda vez que na política brasileira aparecer algo estranho, grotesco como uma pérola barroca, ou a dita jabuticaba que só existe no Brasil, pergunte se passou pelo crivo do simples bom-senso do cidadão comum. E se teria cabimento em qualquer outro país do mundo.  

Se o caso em exame ofender o princípio básico da razoabilidade do direito civil, o mais abrangente de todos os direitos desde o Corpus Iuris Civilis justiniano, ou o senso comum da chamada tradição dos usos e costumes de qualquer comunidade, não tenha dúvida de que você está diante de um barroquismo cultural, uma torção ou distorção típica da retórica barroca, que deve ser imediatamente questionada.   

Há explicações a dar com o pau para nossas mazelas, de ordem histórica, política, econômica, social e o escambau. Mas sou dos que apostam nas razões mais profundas de nossas origens culturais.

Em todos os campos da atividade humana, podemos ser razoáveis ou desrazoáveis. Depende da permissão social da cultura dominante.

Como defendo que a nossa alma coletiva ainda é barroquista, ou encharcada de seus resquícios, disto decorre sermos retóricos, darmos nó em pingo d’água, abusarmos dos supostos direitos sem qualquer contrapartida de dever moral, cívico ou político.  

É a distorção da realidade do senso comum para justificar um interesse escuso, a torção do interesse público para escamotear um interesse privado, a apologia da farsa e da burla como fato costumeiro e natural, o abuso das figuras de retórica, que tem sido a prevalência da cultura barroquista da torção, contorção e distorção da realidade, tomada como insuportável pelo nosso desejo frustrado de resistir à evidência e à convivência com o outro.  

Depois de quatro séculos ainda presos ao labirinto barroquista, que dominou e perdurou em nossa cultura sem a necessária contraposição iluminista, estamos ficando exaustos da desrazão geral, esgotados da insensatez cotidiana, emergindo em nossas consciências pelo trabalho diário e incansável de nossos jornalistas, que, para se contrapor ao sanatório geral de nossos governantes, insistem em perguntar: – mas, vem cá! E aí?!  

A ausência da dialética clássico-barroca em nossas terras – não apenas por impossibilidade histórica, mas pela vicissitude da negligência e omissão cívico-política de nossas elites – foi de arrasar! Só restou o bla-bla-blá, o nhem-nhem-nhém, a que se refere a imprensa com frequência.  

Esta, a pergunta que todos os agentes de cidadania estão a responder nas redes sociais a partir de uma simples questão: – E aí? Sempre na perspectiva de uma proposta para sanar uma distorção de política pública que tenta escamotear um interesse privado.

Pois, para argumentar para um público desconhecido, estando em jogo nossa autoestima básica, sobre fato de nosso pleno domínio, todos acabamos forçados a ser apenas razoáveis. Pois um novo paradigma se apresenta para além da campanha global “do Brasil que eu quero para o futuro”: o Brasil que eu posso ajudar a construir hoje. 

Pois vamos aos vídeos, cidadãos! 

*As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio 


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Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo, “Infundadas incertezas”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-infundadas-incertezas-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-infundadas-incertezas-por-jorge-maranhao/#respond Thu, 31 May 2018 13:33:27 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28601

Do Diário do Comércio de São Paulo, 27 de maio de 2018

Diante do grave momento vivido pela nação, é importante se ter em conta o perigo de ruptura institucional em que a cidadania foi jogada por esta casta de políticos irresponsáveis e corruptos!

Acompanhando os movimentos de cidadania das redes sociais, fica claro que uma greve de caminhoneiros está evoluindo para mais uma megamanifestação como as havidas em 2013 e 2015, onde pode sobressair a tentação totalitária de uma minoria, com consequências imprevisíveis para o país.

Por outro lado, pesquisas responsáveis e imparciais, elaboradas por grupos de investidores independentes, como esta da XP Investimentos, demonstram que nas eleições presidenciais de 2018, mantendo o quadro institucional vigente, não prevalecerão opções heterodoxas ou de outsiders, como se tem especulado na grande mídia.

A questão de fundo é: será que as instituições político-eleitorais permitirão a devida e substantiva renovação da representação política tal qual a cidadania está a exigir?

Diante dos mais exaltados intervencionistas e os mais moderados conservadores, temos de ter muito cuidado nesta hora!

Sobretudo os cidadãos mais experientes que já viveram momentos decisivos da história do país e têm o dever cívico de liderar o processo político em curso!

As alegadas incertezas do chamado mercado, este ente imperscrutável para os simples mortais, me parecem meras especulações. Até agora, as instituições têm funcionado a contento da cidadania.

Como gostam de chamar os mais doutos economistas, quais seriam de fato os fundamentos macroeconômicos para a instabilidade, a subida do dólar e a correspondente gangorra da queda da Bolsa e suas consequências?

Se alguns economistas, se esquecendo de que sua ciência faz parte da política, vêm a público apontar a incerteza das eleições, que me digam se algum processo eleitoral é previsível em alguma superior democracia do mundo. Foram previsíveis as eleições dos EUA? E as da França? E as da Áustria?

A mesma boca que amaldiçoa a política, na verdade não gosta é do burburinho buliçoso de controvérsias da custosa democracia. Se não contra as inseguranças políticas, costumam vociferar também contra as inseguranças jurídicas.

Neste campo, devo dizer que, por mais que se critique o foco número um de instabilidades institucionais brasileiras, o STF, que deveria ter a compostura de instituição máxima e exemplar da justiça, mas leva quinau de qualquer juiz federal de primeira instância, sequer se entende como instituição, com 11 ministros jogando cada um por si, supremos e vaidosos ministros de um time absurdo de 11 goleadores.

Mas parece que, ao contrário da promessa de posse da meritíssima Cármen Lúcia, a justiça anda, devagar, mas anda, apesar de nosso supremo jeitinho, para além dos costumes sociais enraizados em nossa alma barroquista.

Não há bom senso que sobreviva a tamanhas farsas, o prende-solta, o solta-prende, o é-que-não-é, o pode-ser-que-não-seja.

O pão-de-queijo contra o pão-pão-queijo-queijo!

Quanto às demais instituições brasileiras, estão funcionando muito bem, obrigado. Poderiam funcionar melhor, é verdade, se não fossem exatamente as cúpulas carcomidas dos três poderes.

A conivência com grande parte da classe política apodrecida, a velha política esperneando para tentar abortar o nascimento da nova política.

Assim ocorre com as cúpulas do Legislativo e do Executivo.

Mas a do Judiciário, a questão maior é a fogueira das vaidades, e a inveja pura e simples da minoria sempre vencida estar sendo achincalhada nas redes sociais em face da eficiência de jovens juízes de primeiro grau celebrados pela opinião pública.

O que resulta no esperneio da criança malcriada que, mais birra faz quanto mais ciúmes sente do elogio da mãe ao irmão que se comporta bem.

Senão, vejamos: ressalvadas as cúpulas amorais, nunca funcionaram tão bem as demais instituições da República, como o Ministério Público, a Polícia Federal, a Advocacia Geral, os Tribunais de Contas, a Defensoria Pública etc. Algo de sério a reclamar?

Até mesmo as instituições parlamentares vão bem, apesar de suas cúpulas e graças a seus quadros funcionais estáveis e concursados. Apesar de grande parte de seus chefes estarem comprometidos com as investigações da Lava Jato, as instituições seguem servindo aos cidadãos. Ou não?

Assim como os órgãos técnicos até mesmo do Poder Executivo, alheios ao comprometimento de seu chefe maior, dão prova de que as instituições, como Banco Central, Receita Federal, Forças Armadas, Relações Exteriores, e até mesmo muitas instituições de ministérios como da Saúde, Educação, Defesa e outros, mesmo que tenham tido injunções políticas nas nomeações de suas cúpulas, vão de bem a melhor. Ou não?

Mas a visão de mundo desastrada, estreita e anacrônica do barroquismo nacional, e seus sucedâneos como o romantismo, o positivismo, o anarco-sindicalismo e esquerdismo, de uma intelectualidade parasita da burocracia estatal, e uma mentalidade patrimonialista de nossas ditas elites sociais, têm sido hegemônicas no Brasil, o avesso ao racionalismo do mais elementar bom senso, a grande farsa de que todos podem enganar a todos durante todo o tempo.

Veja mais em https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/infundadas-incertezas 

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Artigo – Do Diário do Comércio de São Paulo: O impasse barroquista de nossa cultura, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-o-impasse-barroquista-de-nossa-cultura-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-do-comercio-de-sao-paulo-o-impasse-barroquista-de-nossa-cultura-por-jorge-maranhao/#respond Sun, 22 Apr 2018 13:31:53 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=28434

Não sairemos do buraco para cumprir nosso destino, de estar entre as top ten economias mundiais até 2050, sem uma contrarrevolução cultural de viés liberal-conservantista

22 de Abril de 2018 às 02:50

Lamento informar aos incautos de nossa cambaleante alta cultura, ou o que sobrou dela depois desses trinta anos de hegemonia esquerdista, que está chegando ao fim a alternância de poder entre o socialismo fabiano da social democracia brasileira e o socialismo anacrônico e desastrado do lulopetismo.

Não sairemos do buraco para cumprir nosso destino, já previsto pela consultoria Pricewaterhouse & Coopers, de estar entre as top ten economias mundiais até 2050, sem uma contrarrevolução cultural de viés liberal-conservantista, com o resgate de nossa identidade nacional, valores e crenças de nossa tradição judaico-cristã.

Até para enriquecer a qualidade do debate público, escaparmos da fulanização na escolha de governantes e passarmos a discussão e adesão a propostas efetivas.

Esse impasse cultural e civilizacional só pode ser superado com a atuação decisiva de uma seleta elite de jornalistas e produtores de conteúdo da grande mídia que nos ajude a resgatar o senso-comum e a razoabilidade mínimas de um iluminismo que pouco tivemos a chance de ter com a hegemonia cultural barroquista de nossas elites, e sucedida pelo idealismo e romantismo das monarquias e positivismo e anarco-sindicalismo das repúblicas.

Pois só a cultura pode realmente corrigir a rota civilizatória. Não adiantam propostas de cunho econômico, social ou político se não fizermos o dever de casa cultural, para além de expressões de arte e entretenimento, do conjunto de manifestações simbólicas, de valores morais e crenças de nosso imaginário social.

Um novo imaginário social que nos livre da espiral descendente em que nos encontramos há décadas, com o advento da expressão barroquista do romantismo, do positivismo e do esquerdismo reinantes, e que nos impedem de vislumbrar o horizonte e retomar nosso destino.

Vejam a omissão da alta (?) cúpula do Judiciário em fazer justiça e sua intromissão na política. Já disse em outra oportunidade que nossos poderes simplesmente não podem, pois barrocamente roubam o poder uns dos outros.

O executivo, que mal executa os mandados do judiciário e as leis do legislativo, prefere a disfunção do poder de legislar. O legislativo, que mal legisla, prefere o poder julgar. E o judiciário que mal julga prefere o poder de legislar, quando não o de executar.

Não se dão o limite de suas atribuições constitucionais, por não se conterem no decoro, ignorarem tradição e valores, exagerarem no pensar e agir, negarem os bons costumes da moralidade pública para além da legalidade. Por ignorância conceitual ou imersão no sono profundo do dogmatismo ideológico.

Resultado: só nos resta uma justiça anacrônica, tardia, omissa, inadministrável, pois viciada e eivada de paradoxos, circunlóquios e ironias da mais pura farsa barroquista.

Vide a representação de nosso imaginário social de barbárie, cotidiana violação legal gerando crescente violência social, a farsa da justiça com as próprias mãos, como “a grande vingança” exibida na atual telenovela das 9h, a vanguarda do atraso civilizatório brasileiro retroagido à lei de Talião!

As únicas instituições que ainda não se deixaram seduzir pelo barroquismo reinante, e que, exatamente por isso, ainda podem salvar o Brasil da estagnação cultural das últimas décadas, são o mercado empresarial e as Forças Armadas, onde ainda prevalece a razoabilidade mínima nas tomadas de decisões, porque pura questão de sobrevivência institucional.

O primeiro movido pela ação inescapável da concorrência que sempre faz vencer o melhor e a tudo aprimora. A segunda pela imposição da disciplina e hierarquia sem as quais nega sua própria razão de ser.

Nas demais áreas de nossas instituições públicas, como a política, a justiça, a burocracia, as artes e a academia, prevalecem as torções, retorções, contorções e distorções de valores, símbolos e crenças de nosso recalcitrante barroquismo travestido de idealismo, romantismo, positivismo e esquerdismo.

A resultante deste embate histórico entre a hegemonia das duas expressões culturais e simbólicas de nossas instituições está sendo decidido no âmbito do espaço público da mídia. E a despeito mesmo de uma massa de produtores de conteúdo claramente enviesados pelo barroquismo reinante de nossa cultura.

Vejam as transmissões e comentários dos escândalos em série da Lava Jato na grande mídia e, mais recentemente, o show de histrionismo dos julgamentos dos HCs de políticos de alto coturno e a discussão da questão de fundo sobre a prisão em segunda instância.

Parece uma série de humor, mas é coisa séria. O Supremo real transmitido pela TV, a cada dia mais parece com sua caricatura ridicularizada nos programas humorísticos.

Os ministros se escondem por trás daquilo que se chama juridiquês, um idioleto como qualquer outro, como o mediquês ou o engenheirês, linguagens cheias de expressões técnicas herméticas e empoladas para se protegerem da teratologia e valorizar o domínio profissional de cada uma dessas corporações.

E se proteger de que, se não do senso comum, da mínima razoabilidade, da eficiência comunicativa, da participação do cidadão no controle destes poderes setoriais corporativos diante da res publica e do bem comum?

O que vemos são muitos ministros defenderem notórios saberes como se estivessem reunidos numa academia de ciências e letras (barrocas) jurídicas a postular teses em abstrato, e não a produzir votos, sentenças e acórdãos que possam interferir construtivamente na evolução das relações sociais concretas e nos destinos dos cidadãos.

No caso atual de discussão da prisão em segunda instância, se arvoram no poder de reformar decisões de primeira e segunda instâncias, como se nada pudesse haver de sensato e pacificado antes deles, e desmoralizando a base do edifício institucional do judiciário por meras questões de vaidade e inveja, como já se referiu o jornalista Felipe Moura Brasil.

Postulam teses garantistas contra o reclamo geral da nação pelo fim da impunidade defendida pelos consequencialistas, como também já concluiu com argúcia outro jornalista Merval Pereira.

Teses absurdas, fora da realidade do país, sobre um ideal de liberdade de uma autoridade de alto coturno ser levada à prisão como se não fosse na realidade um delinquente qualquer condenado por crimes comuns de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e obstrução da justiça, contra o Estado e o bem-estar dos cidadãos.

Julgam hoje o caso concreto com vistas a eventuais garantias em abstrato e potencialmente violáveis no amanhã.

Na verdade, o impasse entre a velha política barroquista, plena de farsas, burlas, ironias e paradoxos, e a nova política que surge com o clamor da sociedade pelo fim da impunidade e a prevalência de um mínimo de razoabilidade e de pés no chão.

Um impasse civilizatório e de alta cultura. Porque de banalização, populismo, mediocridade, impunidade, vagabundagem e malandragem já estamos todos fartos.

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