diário de Comércio de São Paulo – A Voz do Cidadão https://www.avozdocidadao.com.br Instituto de Cultura de Cidadania Mon, 03 Jun 2019 21:30:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.8 Artigo – do Diário de Comércio de São Paulo: “Notícias falsas, pensamentos falsos”, de Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-noticias-falsas-pensamentos-falsos-de-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-noticias-falsas-pensamentos-falsos-de-jorge-maranhao/#respond Sun, 12 May 2019 11:09:48 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br/?p=30580

https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/noticias-falsas-pensamentos-falsos


Nossa grande imprensa, a serviço voluntário ou involuntário de uma visão de mundo esquerdista, exacerba atribuições sociais como as de investigar, denunciar e julgar de instituições típicas de Estado.

Por Jorge Maranhão 11 de Maio de 2019 às 09:13

Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”


Circula nas redes sociais um post interessante que demonstra bem nosso atávico apego pelas contorções do barroquismo mental, pelas falácias da argumentação barroquista e pelo falseamento compulsivo da realidade! Problema mais profundo do que as campanhas contra as alegadas fake news da grande imprensa.  

Trata-se de uma tabela comparativa sobre a média de assassinatos por mil habitantes entre duas cidades americanas, Chicago, onde é proibida a venda e posse de armas, e Houston, onde é liberada.  

No rodapé da tabela, o comentário irônico, não fosse trágica a farsa da argumentação desarmamentista com a qual está comprometida a maior parte de nossa “inteligência”, sobretudo jornalistas, artistas e intelectuais de viés esquerdista.         

Pela ironia da Brilliant conclusion” [conclusão brilhante], não é a legislação que garante o direito de defesa dos cidadãos de Houston, que resulta em menor índice de homicídios por mil habitantes, mas sim a média de temperatura mais fria de Chicago que causa mais homicídios. 

E o que é este falso argumento senão a típica falácia da consequência indevida ou da falsa causa que, dentre tantas que assomam ao debate público demagógico nacional, expressa o nosso barroquista contorcionismo mental.  

Se adoramos retóricas, figuras de linguagem, oratórias discurseiras, caímos frequentemente em falácias.  

Costumo dizer que não salvaremos o Brasil e a civilização latino-americana da estagnação e decadência se, para além de medidas políticas e econômicas, não enfrentarmos a renhida batalha cultural.  

E para aqueles que se apressam em regurgitar a infundada crença de que “cultura não se muda”, aconselho uma reflexão menos rasa sobre o que vem acontecendo com o país desde o advento da Lava Jato. 

Para tanto, temos de recuar aos tempos da descoberta do Brasil, quando a Renascença já não era mais classicista, mas tomada pelo barroco (XVI). E a tal ponto que, visto no seu início como um desvio ou mero ornamento, o barroco passou a ser considerado um novo estilo de época. Se não mesmo uma nova visão de mundo. 

Dois séculos depois, o iluminismo europeu esbarrou no Brasil com a resistência do romantismo, do indianismo e do positivismo! Até mesmo nosso modernismo nas letras, no cinema e na arquitetura é pleno de barroquismo. Vide Guimarães Rosa, Glauber Rocha e Oscar Niemayer e seu gosto inarredável por espirais, volutas, circunlóquios, hipérboles e paradoxos. 

O esquerdismo só foi doença infantil do comunismo na Europa que teve Iluminismo! Na América Latina, por escassez de bom senso, o esquerdismo tem sido a doença senil do barroquismo. Mal de cura muito mais difícil! 

E nossa imprensa, de viés socializante e coletivista, consegue fazer de uma campanha contra  fake news o próprio fake thought em que está irremediavelmente imersa. Pois o que se tratava primordialmente de expedientes tão antigos da luta política que remontam aos tempos de Roma, como calúnia, boataria, rumores, persistiu na idade moderna com as notícias plantadas, a imprensa marrom, os panfletos destruidores de reputações.  

Mais recentemente se tornou libelo de acusação de Trump contra uma grande mídia de viés esquerdista, que insiste em lhe rotular as pechas as mais negativas. Com o advento das redes sociais como ferramenta de luta política, a grande mídia passou a fazer campanha contra o fake news por uma alegada imparcialidade em face da blogosfera.  

Mas a grande mídia progressista, seja a liberal americana ou esquerdista populista latino-americana, mesmo excluindo deliberadamente os atores políticos conservadores de seu noticiário, sempre acaba por deixar à mostra seu rabo preso ao facciosismo tendencioso do esquerdismo 

Com uma agenda decidida a priori da própria cobertura de qualquer fato social, atesta que pior do que o fenômeno do fake news é o fenômeno do fake thoughts que o fundamenta. 

Senão, vejamos a agenda esquerdista, progressista, desarmamentista, abortista, anti-família, gaysista, sexista, feminista, estatista, banditista, vitimista etc, que toma como verdade absoluta termos e expressões que só revelam a defesa da mesma  

Como por exemplo a de definir como “Golpe de 64”, bem como a “ditadura militar” que lhe seguiu, como versão definitiva inquestionável   sobre o período histórico, quando correntes cada dia mais representativas de historiadores conservadores estão a defender abordagens as mais diferenciadas.  

Ou a de se referir ao filósofo Olavo de Carvalho como “guru ou “ideólogo” do novo governo sem sequer avaliar a grandeza de sua obra, se apegando aos impropérios do personagem que o próprio escritor resolveu assumir nas redes sociais e inexistem na sua obra filosófica.  

Aliás, se o filósofo é seguido por centenas de milhares de leitores e frequentadores de seu curso, os grandes ativistas do novo conservadorismo brasileiro que saiu do armário e elegeu um presidente, a despeito de todos os prognósticos da imprensa, isto não significa nada? 

É mesmo curioso que as estrelas do jornalismo político brasileiro não admitam seus erros da mesma forma como os próceres petistas condenados não admitem os seus. 

Ou quando veiculam pesquisas “científicas” de “especialistas” e ongs ativistas do desarmamento que associam a posse e porte de armas como “causas” da escalada de homicídios como desmascarado na tabela acima.  

Ou quando assacam contra a fé religiosa e os valores morais da tradição judaico-cristã da maioria da população brasileira com expressões do tipo “viúva de uma mulher mortaou “marido de outro homem. 

Quando falseiam o debate público conotando negativamente como de direita ou de extrema direita legítimos argumentos conservadores contra os argumentos de esquerda sempre enaltecidos. Quando a etimologia dos termos sempre foi exatamente o contrário na tradição da  sinonímia de direita com “direito” e esquerda com “sinistro ou canhoto”.  

Quando bombardeiam os noticiários com notícias de “feminicídios”, novilíngua criada por movimentos feministas mundiais, apelando para a falácia de amostragem e testemunhos escolhidos. 

Quando falam de “cortes no orçamento das universidades públicas”, omitindo que são no custeio e que o mesmo é para realocar recursos para o ensino fundamental.  

Quando apelam para motes retóricos do tipo “meu corpo, minhas regras”, sugerindo que um atributo de natureza possa justificar uma propriedade humana indevida. 

Quando abusam de metonímias tomando um princípio geral como a liberdade de expressão como licença para assaques à reputação alheia. 

Quando abusam das figuras de generalização diluindo a responsabilidade individual penal para o coletivo inimputável da sociedade.   

Enfim, nossa grande imprensa, a serviço voluntário ou involuntário de uma visão de mundo esquerdista, exacerba atribuições sociais como as de investigar, denunciar e julgar de instituições típicas de Estado como o Ministério Público e a própria Justiça, num flagrante barroquista de contorção do fake thoughts em fake news [pensamentos falsos em notícias falsas]. 

]]>
https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-noticias-falsas-pensamentos-falsos-de-jorge-maranhao/feed/ 0
Artigo – Do Diário de Comércio de São Paulo: “O despertar do gigante”, por Jorge Maranhão https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-o-despertar-do-gigante-por-jorge-maranhao/ https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-o-despertar-do-gigante-por-jorge-maranhao/#respond Sun, 25 Nov 2018 12:30:04 +0000 http://www.avozdocidadao.com.br//?p=29767 O que vemos no Brasil é um grande embate entre duas grandes tradições culturais do Ocidente, o iluminismo e o barroquismo, por não conseguirmos reunir verdadeiras elites para empreender, enfim, a mudança do paradigma cultural da vã retórica populista para a ordem da razão no trato da coisa pública.


Por Jorge Maranhão – 24 de Novembro de 2018 às 12:06 

Todo cuidado é pouco para superar de fato nosso impasse civilizatório e vislumbrar uma nova era de efervescência cultural iluminista, que nunca vivemos, pois nosso esquerdismo tem sido a doença senil do barroquismo, e resistido como imaginário social o mais longevo a nos dominar a mente.

Nenhum de nossos maiores ficcionistas, profetas, sábios ou prestidigitadores, poderia imaginar esta verdadeira reviravolta dada por nossa cultura política nos últimos anos. Chamaria mesmo de radical torção, um verdadeiro cavalo de pau de nosso legado contorcionista.

Mesmo os grandes intérpretes do Brasil –e aqui enumero todos que inventariei em meu novo livro – como José Bonifácio, Joaquim Nabuco, Capistrano de Abreu, Euclydes da Cunha, Paulo Prado, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Viana Moog, Caio Prado Junior, Guimarães Rosa, Meira Penna, Roberto Campos, Darcy Ribeiro, Raimundo Faoro, Roberto DaMatta, José Murilo de Carvalho, Affonso Romano de Sant’Anna e outros, denunciaram causas e fenômenos singulares de nossas raízes culturais, como o patrimonialismo e o corporativismo, o familismo e o cunhadismo, o coronelismo e o patriarcalismo, o fisiologismo e o bacharelismo

Mas nenhum culminou no fenômeno mais abrangente, e causa última a meu ver, de todo o complexo cultural brasileiro como o barroquismo, do qual estes outros lhe seriam meros caudatários ou mesmo de incidência setorial nos âmbitos da vida social, familiar, artística, econômica, política ou moral, com suas características mais gerais de gosto pela retórica da farsa, do paradoxal, da ironia, alegoria, paródia e hipérbole.

Aliás, neste meu novo livro, faço um vasto inventário de nossos costumes barroquistas, em todos os campos da expressão cultural nacional para além das artes e das letras barrocas, e que podem ser simbolizados pelas figuras centrais das volutas e espirais barrocas, sobretudo como figuras de representação retórica do paradoxo, da farsa, da ironia e da hipérbole.

A começar pelo “rolo”, de onde deriva “enrolar”, como dobrar algo em torno de sua própria matéria, demonstro que a farsa, como mentira, é um dos vocábulos de maior sinonímia da língua portuguesa falada no Brasil, chegando a quase uma centena de ocorrências.

Cito apenas as mais folclóricas para o leitor checar seu próprio conhecimento: burla, farsa, mentira, caô, rolo, enrolação, broma, trapaça, fraude, falcatrua, fajuto, golpe, mutreta, treta, engodo, embuste, patifaria, ardil, cilada, troça, tribofe, bilontra, brinca, manobra, tapeação, tramoia, lorota, enredo, ludibrio, embromação, trama, aldrabice, dolo, deboche, galhofa, bufonaria, balela, fábula, lenda, conto, peta, patranha, pulha, moca, lesa, peraltice, potoca, maranha, embrulho. Todavia, a mais significativa de todas é “logro” (do latim lucru) que sustenta a ambivalência moral de nosso próprio caráter entre lucrar e lograr, lucro e logro.

Por outro lado, quantas cornucópias, quantas espirais e volutas, habitam em nossas mentes depois de cinco séculos de barroquismo legado de nossas artes e letras para nosso imaginário social, nosso inconsciente coletivo e mesmo nossa identidade cultural?

Não foi à toa que, entre figuras como anomitas, chifre de cabra, shoffar, trompa, cabos de violinos, caracóis, caramujos, tranças indígenas, gavinhas florais, labirintos, torres de Babel, capitéis de colunas jônicas, baldaquino e escadarias do Vaticano, propostas como capa de meu novo livro, preferi esta figura insólita de uma caveira humana com o cérebro retorcido em forma de espiral. Redobradas e desdobradas formas de se ir para a direita pelo sentido da esquerda e para a esquerda pelo sentido da direita.

Somos assim mesmo, o estilo da arte barroca do século XVI, sem a mediação e temperança da boa forma e da justa medida da Renascença que lhe antecedeu, nem tampouco da prudência e do equilíbrio da cultura iluminista que lhe sucedeu, desde o século XVII e XVIII, transbordou para todo o complexo cultural brasileiro, nossa chamada mentalidade barroquista, nosso apego a uma visão de mundo moldada em torções, contorções e distorções da realidade. Enfim, nosso espírito hiperbólico, irônico, alegórico, paradoxal, parabólico, farsesco e burlesco, com que vemos, nos inserimos e tratamos tudo em nossa volta. E reviravolta.

Meio a nosso barroquismo moral pleno de relativismo, os recursismos de nosso judiciário plenos de atenuantes e agravantes e a burla e a farsa de nossa política que quer a todos enganar por todo o tempo, eis que um capitão imbuído dos valores da ordem, da disciplina e hierarquia aprendidos no Exército, se empenha em levar ao cenário central de nosso barroquismo político, o Congresso Nacional, o bom senso e a clareza do senso comum, tal qual a fábula “O rei está nu”, de Hans Christian Andersen.

Só não ouviram os que não quiseram ouvir a voz do capitão que representava a indignação de milhões de cidadãos desde as megamanifestações de 2013 em repúdio aos desmantelos e esbulhos de nossa classe política.

A partir daí, tem sido definitivo o exercício de outro valor muito caro aos militares, a humildade de reconhecer seus próprios limites e se cercar dos melhores de cada área em que terá de atuar.

Assim, o capitão está a convocar os melhores generais para a defesa, a infraestrutura e a segurança institucional, um dos melhores pesquisadores para a ciência e tecnologia, um dos melhores economistas para a economia, um dos melhores diplomatas para a chancelaria e um dos melhores magistrados para a justiça.

E o que pode significar isso se não o esforço definitivo de passamento de nosso barroquista imaginário de salvadores da pátria, reencarnações sebastianistas de falsos profetas, líderes carismáticos de baba de quiabo de que sempre fomos vítimas? Senão a oportunidade histórica de passarmos para uma era iluminista de afirmação do bom senso e da justa medida, de desapego, enfim, pelo adjetivismo, ornamentalismo e as desmesuras da vã retórica?

Para além de um novo governo, o que vemos no Brasil é um grande embate entre duas grandes tradições culturais do Ocidente, o iluminismo e o barroquismo em que temos vivido imersos todos esses séculos, por não conseguirmos reunir verdadeiras elites para empreender, enfim, a mudança do paradigma cultural da vã retórica populista para a ordem da razão no trato da coisa pública.

Em que pese o sono esplêndido, não podemos deixar escapar tamanha oportunidade de despertar o gigante.

Jorge Maranhão, mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”

 

 


]]>
https://www.avozdocidadao.com.br/artigo-do-diario-de-comercio-de-sao-paulo-o-despertar-do-gigante-por-jorge-maranhao/feed/ 0