Quem está agredindo as instituições não é só o Black Bloc

Quem está agredindo as instituições não é só o Black Bloc

Tema de boa parte dos noticiários sobre as manifestações que acontecem desde junho, o grupo Black Bloc acaba nos trazendo involuntariamente uma outra questão, esta sim mais perigosa: o risco do mau uso e da fragilização das instituições.

Claro que a atitude de predar o patrimônio público é absolutamente condenável. Diariamente vemos nos noticiários análises e críticas sobre a história, as motivações, as táticas e o background político do grupo que usa a violência como forma de militância política.

O que gostaríamos de comentar hoje é o outro lado da moeda, sem querer justificar as ações do grupo; longe disso. O roteiro é até bem conhecido. (Quem lembra do triste “agit prop” marxista-leninista que apostava numa crise das instituições?) Se as manifestações deixam de ser pacificas, viram agitação. Se a agitação não é reprimida, torna-se agitação continuada, que pode levar a uma convulsão social. Nesse caso, o Exército tem de sair às ruas para garantir a ordem, as garantias individuais são suspensas e o risco de guerra civil passa a ser real.

Mas o que também temos visto aqui é o mau uso das instituições por parte dos próprios governantes. Se vemos na mídia quem são os integrantes “BBs” que aparecem em entrevistas e fotos – e até seus “currículos” e suas inspirações teóricas oriundas dos longínquos anos setenta – o que impede as instituições de polícia de trabalhar com seus setores de inteligência para prender quem quebrou o patrimônio público e privado? Se a imprensa sabe, as instituições de inteligência sabem muito mais. Evitaríamos assim que novos conflitos aconteçam e que sejam preservados direitos fundamentais da Constituição Federal, garantidos a todos, como os direitos de ir e vir, de se manifestar, de se reunir, de ter propriedade privada, e por aí vai.

Ao invés disso, nossos governantes têm dado mostras seguidas de que não usam as instituições corretamente – por má-fé ou ignorância – preferindo aprovar reação com balas de borracha, sprays de pimenta e escudos. É a repressão prevalecendo sobre a inteligência.

Essa situação nos leva – como quase sempre – à questão da má qualidade de nossa representação política, em especial no poder Executivo, quando aciona a política errada e agride os cidadãos, ao invés de proteger e garantir seus direitos. Afinal, grave não é a população não saber usar as instituições; é a constatação de que os políticos não sabem.

E aqui vai uma dica para os cidadãos que querem participar de manifestações saudáveis e politicamente responsáveis. Que tal ocupar os espaços de discussão política e participar das transformações que precisamos? Vamos ocupar as galerias das Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas, não só nos trabalhos ordinários, mas também em CPIs de transportes, saúde, segurança e outras; vamos participar de audiências públicas, de reuniões de conselhos dos três níveis de governo; e assim fazer os políticos entenderem que estão sob pressão, sim, e que esta vai ser a norma daqui para a frente. Quem não estiver preparado para um escrutínio tão intenso, que deixe a vida pública. Controle social não é apenas entender o que está errado e fiscalizar; é fazer junto.

O que não se deve, jamais, é fazer como o Black Bloc e alegar algum eventual direito individual para justificar a agressão ao direito do próximo. Esta é a base da cidadania atuante e eles estão longe disso.

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