Portela e as metas do milênio

Passou a euforia do carnaval,
mas ainda está em tempo de registrar
a torcida da cidadania mais consciente pelo
desfile da Portela. A escola mais premiada
do carnaval carioca quase acaba rebaixada,
tantos foram os acidentes que sofreu, fazendo
com que a imprensa e o público da
Sapucaí se esquecessem até
mesmo da grandeza e da importância
do tema do seu enredo destacando as Metas
do Milênio da Nações
Unidas.

Numa época em que escolas tradicionais
homenageiam a contravenção
ou vivem de desfilar simples patrocínios
de empresas comerciais, o samba-enredo "Nós
Podemos — Oito Idéias para
Mudar o Mundo", de Noca da Portela,
traduz em linguagem simples os objetivos
do mundo para o ano de 2015, postulados
pela ONU entre mais de uma centena de países-membros.

Se o desfile da Portela começou com
o drama do carro abre-alas incendiado na
véspera, terminou com o carro da
velha guarda da escola quebrado na entrada
da avenida, justamente o que trazia a águia,
símbolo da escola, de asas partidas
e os baluartes impedidos de entrar na Sapucaí.

Com medo de estourar o tempo, a ordem partida
do presidente da Portela, Nilo Figueiredo,
era a de fechar o portão – o que
decretava o fim do desfile -, impedindo
que os componentes da velha guarda entrassem
mesmo a pé na avenida. A decisão
deixou todos indignados, levando os jornalistas
a cobrir os prantos e protestos inconformados
da velha guarda e a insatisfação
do público das arquibancadas vaiando
a diretoria da escola.

Com toda essa confusão, a causa dos
8 macro-objetivos do milênio – erradicar
a extrema pobreza e a fome do mundo; atingir
o ensino básico universal; promover
a igualdade de gênero e a autonomia
das mulheres; reduzir a mortalidade infantil;
melhorar a saúde materna; combater
a Aids, a malária e outras doenças;
garantir a sustentabilidade ambiental e
estabelecer uma parceria mundial para o
desenvolvimento, a agenda que é mais
do Planeta do que da própria Portela,
mais da Humanidade do que dos cidadãos
brasileiros – acabou em segundo plano.

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