Paternidade é questão de responsabilidade mais do que de sangue

Esta semana recebemos de vários colaboradores aqui do nosso portal um arquivo com música bastante divulgado na internet hoje em dia. E a mensagem nos fez refletir sobre um dos pontos mais importantes da formação cidadã de uma pessoa.

Estamos falando de “Filho Adotivo”, composta por Sebastião Ferreira da Silva e Arthur Moreira, e interpretada por Sérgio Reis em seu disco Boiadeiro Errante. A música conta a história de um homem que teve seis filhos e cuidava ainda de um adotivo. O tempo passa e, já em sua velhice, ele acabou não tendo o devido amparo de seus filhos de sangue. O único a lhe trazer afeto e conforto foi justamente o adotivo. Mas, e o que essa mensagem tem a ver com a cidadania?

Pois a história contada pela música revela a origem do grande dilema de deficit de cidadania que temos, em que confundimos direitos e deveres, Estado e governos, cidadania e solidariedade, e assim por diante. Para a cidadania, é importante observar o comportamento de cidadão exemplar desse filho, que soube reconhecer o esforço do homem que o acolheu e tratou como um filho legítimo, coisa que os filhos naturais não se acharam no dever de fazer. Esta percepção de que existe uma relação entre a responsabilidade paterna e a filial é a base do que se chama de “responsabilidade civil” e que os governos, a sociedade, as empresas e autoridades do Judiciário não têm se dado conta de sua importância.

A legislação brasileira ainda é muito branda com relação às punições dos pais por abandono dos filhos. E esta pode ser em última instância a grande causa da nossa má represetnação política. Afinal, ao fugirem ou não assumirem essa responsabilidade, acabam fazendo com que as mães, sozinhas, tenham que preencher a lacuna da função paterna, que é a de imposição de limites, senso de perigo e temor pela lei. E assim, criam filhos que se acham sempre dependentes de um cacique ou um coronel de ocasião.

Violência crescente e abuso da lei sob a forma de privilégios ou impunidade são conseqüências disso, alimentando uma sociedade marcada por uma tradição histórica de orfandade não apenas social, mas sobretudo civil e política. E que nos leva também a uma orfandade de líderes e governantes verdadeiramente dignos destes nomes. E assim, acabamos órfãos de cidadania, de justiça e de leis que realmente tenham efetividade e igualdade de aplicação para todos, sem exceção.

Colocamos aqui no portal da Voz do Cidadão a letra completa da música “Filho Adotivo”, de Sergio Reis. Vale a pena conferir, Marcus Aurélio, principalmente agora quando estamos prestes a decidir quem vai administrar pelos próximos quatro anos o dinheiro público das cidades onde concretamente vivemos.

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