O uso político do social, na falta do Estado

No editorial de quinta-feira passada sobre o assassinato bárbaro de três jovens, levados num veículo do Exército para uma favela rival no Morro da Providência, Rio de Janeiro, observamos que um dos fatores que vem alimentando o caos urbanos nas grandes cidades do país é a falta da presença do Estado.

Ao deixar de ocupar espaços, principalmente em comunidades carentes, o Estado abre um “vácuo” de ordem, lei e esperança para os cidadãos. E assim deixa o caminho livre para “Estados paralelos”, que criam suas próprias leis e seus próprios canais de relacionamento com essas comunidades.

E não estamos falando apenas de ordens paralelas de tráficantes ou milícias. Como noticiado na mídia neste fim-de-semana, outra legião que está se aproveitando do vazio de Estado em comunidades. São os chamados “centros sociais”, cada vez mais presentes nas grandes cidades. Muitas vezes controlados por políticos, alguns desses centros procuram transformar a região onde atuam em verdadeiros “currais eleitorais” de seus mecenas. A moeda de troca, como não podia deixar de ser, são justamente os serviços que o Estado tem o dever constitucional de garantir, e não o faz, nas áreas da saúde, segurança e educação.

Segundo o procurador regional eleitoral do Rio, Rogério Nascimento, “existe uma cultura de que o terceiro setor é naturalmente bom e dispensa controle. O que não é bom. Se estiverem a serviço de político em época de campanha, significa abuso do poder econômico.”

Mas a cidadania está atenta e cobra do Ministério Público que se pronuncie, tanto neste caso dos centros sociais quanto no do Morro da Providência. Como o próprio procurador Rogério Nascimento assegura, “se os centros sociais funcionarem de julho até a eleição, isso pode gerar questionamento do registro e da própria diplomação”.

Afinal, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, levantaram numa pesquisa que nada menos que 18 vereadores da cidade estavam à frente de centros sociais – e 9 estavam na lista dos 15 mais votados. É preciso que se tenha bem claro que compra de votos é crime eleitoral e é disso que se trata quando falamos nesse tipo de centro social.

Se o Estado falha e a justiça não se pronuncia, cabe à cidadania avançar na sua luta, fiscalizando e cobrando. Vamos continuar!

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.