Ministério Público Federal – Alô MPF, condenado pode fazer política nas redes sociais e insultar a Justiça?

Tenho defendido que, no campo das artes, não resta dúvida que a alma barroca brasileira é esplendorosa, e disso deve saber bem a ministra Carmen Lucia, mineira de quatro costados. Mas no campo da justiça, da moral, da cívica  e da política é um desastre a prevalência desses resquícios de paixão, ambiguidade, desmesura e imprudência ainda presentes na alma brasileira. O Brasil sob a retórica do pão de queijo – deliciosa retórica, por sinal, de tudo junto e misturado, onde não se sabe onde começa o pão e acaba o queijo – contra a aritmética e fria razão do pão-pão queijo-queijo. Sob o império do paradoxo, da metáfora, do eufemismo, da ironia, da hipérbole e outras dezenas de figuras retóricas, vamos trocando valores por atributos pela vida afora.

O que era para ser expressão de um estilo de arte virou expressão de vida. O burlesco teatral virou a burla imoral. O que era adorno virou motivo. O gosto pelo adjetivo parasita de um substantivo descarnado e anêmico. Do meio tom, mais para o claro ou mais para o escuro, dependendo do olhar e da encomenda do freguês. Do meio copo quase cheio ou quase vazio dependendo do gosto e da sede do bebedor. O Brasil da prerrogativa e do privilégio. O Brasil do disfarce, da vã retórica, da embromação e tramoia sempre tramando contra a sensatez, o tino e o bom senso.

E como se perde tempo nessas idas e vindas, nesse vira-e-mexe, que o tempo e andamento da justiça acabam por retardar a evolução da política, se não o da própria história de injustiças de nossa cultura barroca que, na ausência do contraponto da racionalidade clássica, vai torcendo, retorcendo e distorcendo nossa alma romântica e até mesmo moderna.

E eis a questão para nossos doutos operadores da justiça, das altas togas aos do Parquet: pode um condenado concitar o povo a fazer manifestações contra um julgamento da Justiça Federal marcado para 24 próximo? Levando um ministro de defesa a negar o burburinho das redes sociais quanto à convocação das Forças Armadas? Pode injuriar as instituições judiciais? Participar do debate político, quem foi julgado e condenado por crime de corrupção da própria gestão pública? Então por que fazem ouvidos moucos para a convocatória do criminoso José Dirceu nas redes sociais? Ou não viram o que ainda não deu nos telejornais? Basta visitar o site Nocaute do jornalista Fernando Moraes e apreciar o último vídeo postado ainda nesta semana. Se não vejam a bela retorção barroquista do jornalista na própria apresentação do site que se diz independente e sem compromisso com partidos: bustos de Simon Bolivar, Fidel Castro e Hugo Chavez colocados inocentemente na estante atrás num verdadeiro merchandising esquerdista. E segue o vídeo do companheiro Zé Dirceu convocando “o povo para o combate no próximo dia 24 de janeiro contra juízes que querem impedir Lula de ser candidato”, afirmando que “juízes golpistas, inclusive do Supremo, querem afastar o povo da decisão de eleger seu candidato”, “juízes que querem usurpar o poder do Legislativo e do Executivo, impedindo Lula de ser candidato” e exortando os militantes “a derrubar a ditadura da toga”. Ou seja: o condenado Lula se tornou de fato um cidadão acima da lei?

Com a palavra, doutos promotores e magistrados.

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