Maranhão: terra de contrastes na cidadania

Não tem jeito. Com o indiciamento pela Polícia Federal de Fernando Sarney – acusado de vários crimes como tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica – o ainda poderoso sobrenome Sarney aos poucos vai se tornando o mais bem acabado exemplo de nosso maior déficit de cidadania, que é a confusão de nossos políticos e gestores públicos entre os limites do privado e do público. O próprio Estado do Maranhão, feudo do oligarca e onde o nome Sarney tem forte influência há muitas e muitas décadas, sofre com essa confusão, como demonstram seus desempenhos no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.

Os dados, de 2005, são impressionantes. O Maranhão ocupa o penúltimo lugar na lista, atrás apenas de Alagoas de Collor e Renan. Dos 100 municípios brasileiros com pior IDH, 29 estão no Maranhão. E mais: 24% dos domicílios maranhenses estão ligados a uma rede de esgoto sanitário ou fossa séptica – no Brasil este índice é de 62%. Enquanto no Brasil, 77% dos domicílios estão ligados a uma rede de abastecimento de água, no Maranhão este índice cai para 53%. E o Estado continua com desempenho abaixo da crítica na Educação: 21 % de analfabetos com mais de 10 anos contra um índice de 12% na média total do país. Esses índices ruins acabam tornando o Estado um recordista de emigração anual.

Por tudo isso, o nome Sarney se tornou um símbolo de um sistema medieval de relacionamento com o bem público, antes de surgir os conceitos de cidadania e de direitos e deveres dos cidadãos. Um tempo que só se transformou com a decapitação de Luís XVI, na França, e o enforcamento de Carlos I, no Reino Unido. Nos dias de hoje, temos alternativas democráticas e menos extremadas como o movimento Fora Sarney. Não se prega qualquer sorte de violência, prega-se a responsabilização e punição dos agentes públicos que desviam dinheiro, corrompem e usam do seu cargo para obter benefícios privados.

Mas nem só de déficit de cidadania vive o pobre Maranhão. É de lá que surgiu uma das iniciativas mais cidadãs das últimas décadas, através do juiz maranhense Marlon Reis. O juiz Marlon foi um dos idealizadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – o MCCE – que pretende alcançar um milhão e trezentas mil assinaturas para seu projeto de lei de iniciativa popular que irá impedir que políticos já condenados pela Justiça em primeira instância possam se candidatar a cargos públicos. Esta é uma das maiores esperanças da cidadania contra os maus costumes políticos, principalmente contra aqueles que procuram fugir da Justiça com o escudo do foro privilegiado.

O MCCE já tem quase um milhão de assinaturas. Mas alguns Estados do Nordeste ainda não têm uma participação mais efetiva. O próprio Maranhão, que tem 3% dos cidadãos eleitores no Brasil, conta apenas com pouco mais de 19 mil assinaturas, menos de um por cento dos eleitores e é por isso que colocamos aqui no nosso portal a lista completa dos 17 comitês MCCE no Estado.

Vamos participar desta verdadeira transformação cidadã que o projeto do MCCE vai produzir. Procure um comitê mais próximo e assine o formulário, que também está aqui à disposição na Voz do Cidadão.

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