Livro proibido sobre Roberto Carlos: invasão de privacidade ou direito de acesso à memória cultural?

Hoje vamos comentar um fato lamentável do ponto de vista da cidadania, pela que significa de incompreensão por parte de nosso judiciário – e até de vários segmentos da sociedade – dos limites entre o privado e o público, quando o assunto é a vida e obra de um artista. Quando este artista é o próprio “Rei” Roberto Carlos, a discussão é ainda mais polêmica.

O tema é a sentença favorável a Roberto Carlos, sobre a proibição da circulação do livro “Roberto Carlos em detalhes”, do pesquisador carioca Paulo César de Araújo. Através de ums sentença, a editora Planeta foi obrigada a recolher toda a tiragem das livrarias e devolver ao cantor.

À parte de toda a polêmica que esta discussão provoca, gostaríamos aqui de chamar a atenção para o comentário que o nosso ministro da Cultura, o cantor e compositor Gilberto Gil, fez a propósito. Numa declaração à Folha de S. Paulo (10-05-2007), Gil disse: “Eu acho em princípio complicada essa questão de biografias não-autorizadas. A não-autorização cria espaço para os conflitos. Não vejo por que não produzem biografias autorizadas. Deveriam ter consultado o Roberto. Se o autor tivesse consultado o Roberto, essas coisas teriam sido evitadas”.

O autor alega que durante quinze anos tentou um encontro com o cantor para conversar sobre a obra. Em segundo lugar, sabe-se que esta é uma obra em que se fez questão de tornar informativa e bastante elogiosa, sem qualquer risco de ser taxada de caluniosa. Em terceiro, o mais importante sob o ponto de vista da cidadania. Ao se tornar uma pessoa pública, uma celebridade, um artista deve ter a consciência de que não só o seu trabalho causa um natural interesse no público, mas também a sua vida particular. Principalmente alguém da importância de Roberto Carlos, cuja história (e não apenas sua obra) pertence à cultura e à memória nacional. O que se deve discutir é até que ponto a privacidade de figuras públicas deve prevalecer no Brasil sobre a liberdade de expressão e o direito à informação. Veja recentemente as alegações do senador Renan Calheiros sobre sua vida privada e o direito do cidadão eleitor de ser informado.

Com relação ao comentário do ministro, o próprio Paulo César comentou: “Num momento em que uma obra literária é proibida e condenada à fogueira ele prefere enfatizar apenas o direito do artista à privacidade. Neste caso Gil não se portou como ministro da cultura e sim como um advogado da privacidade”, ou da corporação dos artistas célebres.

Detalhe: Roberto Carlos já foi tema de outros livros, como “Roberto Carlos: esta é a nossa canção” de Ayrton Mugnaini Jr e “Como dois e dois são cinco”, de Pedro Alexandre Sanches – e estes não tiveram nenhum problema na justiça.

Aqui na Voz do Cidadão temos um link direto para uma entrevista do pesquisador Paulo César Araújo deu sobre esta polêmica. E, se você quiser participar, acesse nosso mural aqui no site!

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