Juno e o Dia Internacional da Mulher

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, agora no sábado 8 de março, vamos comentar sobre um dos filmes mais marcantes desta última safra, indicado para 4 categorias do Oscar, e vencedor do prêmio de melhor roteiro. Estamos falando de “Juno”, um filme que não trata apenas da complexa questão da gravidez de uma adolescente. Ou de suas relações afetivas com o namorado que a engravidou, ou com os pais que a educaram.

Do ponto de vista da cultura de cidadania, o mais importante é o discurso que corre em paralelo ao drama em si, que é a própria visão de mundo da personagem, tão madura quanto crua na sua radical contemporaneidade.

Pois para sociedades mais avançadas na cultura de cidadania, o que significam realmente as liberdades civis? A decisão de dar ou não a luz à futura criança, independente de preconceitos morais ou religiosos, é garantida pelo Estado. E mesmo a decisão de dispor a criança à adoção de terceiros e buscar um casal que efetivamente esteja pronto a assumir um filho. Um filho como parte de um projeto de vida e não como a trágica conseqüência de um intercurso casual. É de se notar sobretudo a maturidade de uma adolescente formada numa família livre e responsável. Livre por que responsável pela sua conduta civil e responsável por que livre. Uma liberdade que garante a liberdade do outro, permeada pela responsabilidade civil.

Nessas culturas, os cidadãos e cidadãs têm garantido o direito mais básico, que é o de dispor como quiser do próprio corpo. E isso se reflete em temas ainda polêmicos por aqui, como o aborto, a gravidez indesejada e até as pesquisas com células-tronco que tanto ocuparam a mídia esta semana. Em Portugal, por exemplo, há um ano o aborto até a décima semana de gravidez é uma decisão legal e inconteste da mulher. Aqui no Brasil ainda temos muito o que caminhar. Temos algumas iniciativas de conscientização e valorização da cidadania feminina por parte de empresas e entidades, mas elas ainda são isoladas e a reboque da tutela do Estado.

A discussão maior na verdade é a da verdadeira posição do Estado, que é a de garantir os conflitos advindos da própria natureza dos contratos entre cidadãos e cidadãs livres. Principalmente às custas do cumprimento do contrato social original de garantir a vida, a segurança e a justiça dos cidadãos e cidadãs. Esta é a verdadeira função do Estado democrático, expressa no Artigo 5º de nossa Constituição Federal, mas ainda pouco compreendida por aqui e que tão bem nos revela o roteiro deste filme, sensível e atual. O Estado que não aparece e é o principal protagonista da trama.

Assistir a Juno é ter uma aula de cultura de cidadania. Para entreter e aprender sobre a cidadania feminina neste próximo Dia Internacional da Mulher!

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