Imprensa – jornalista Míriam Leitão é mais uma vez questionada por leitores

                                                       Cartas do leitor

                                               

                                                                                        Luiz Sérgio Silveira Costa

1- Recentemente, mandei – e foi publicado – em As Cartas dos Leitores de O Globo, o seguinte:

            Foi belo e merecido o espetáculo da torcida do Flamengo na Candelária. Uma pena que não tenha sido na Praça dos Três Poderes, contra o STF e o Congresso, com camisas verdes e amarelas, e com a mesma fé, devoção e ideologia mostrada, para pressionar aqueles Poderes a ouvirem as demandas patrióticas da sociedade, em vez de as mesquinhas vaidades e vergonhosos interesses classistas das elites dos servidores públicos.

2- Hoje, em O Globo, foi publicado artigo de Miriam Leitão, “Entre a inépcia e a ilegalidade”, a saber:  

               Entre a inépcia e a ilegalidade

                              POR MÍRIAM LEITÃO        01/12/2019 04:30

               O caso da escolha para a Fundação Palmares supera em muito a questão ideológica e é bem mais do que afronta ao movimento negro. Quem acha que a escravidão foi boa para os descendentes atuará contra os objetivos estabelecidos na lei que criou a Fundação Palmares. O governo Bolsonaro está seguindo neste caso o mesmo padrão de outras escolhas. O ministro do Meio Ambiente é antiambiental, o da Educação é mal-educado e ataca educadores, o de Relações Exteriores fere regras básicas da diplomacia, o secretário de Cultura é antagônico à Cultura, a ministra da Mulher defende a submissão aos maridos.

               Há limites para o desencontro entre os nomeados pelo governo e a vocação dos cargos que ocupam. Esses limites estão sendo ultrapassados em atos diários. No caso da Fundação Palmares o absurdo foi tão longe que se transformou em ilegalidade. E cabe ao país se perguntar, talvez na Justiça, se pode um ocupante de cargo público ter sido escolhido exatamente porque tem convicções opostas aos dos princípios estabelecidos na lei de criação do órgão.

               Sérgio Nascimento Camargo já disse que o racismo não existe, que a escravidão foi benéfica para os descendentes e que o movimento negro precisa ser extinto. Claro que ele não conseguirá. Mas a ameaça de “extinção” de um movimento social legítimo é inaceitável. O fato de Camargo ser negro não o autoriza a fazer declarações racistas, como “a negrada daqui reclama porque é imbecil”, escrita por ele na rede social em 15 de setembro, segundo levantamento feito pelos repórteres Jussara Soares e Daniel Gullino, do GLOBO. As ofensas listadas pelo jornal são inúmeras. Ele certamente seguiu o caminho que qualifica para ser nomeado pelo governo Bolsonaro. Não precisa ter mostrado qualquer aptidão administrativa ou ter currículo na área. Precisa ser capaz de ofender, atacar, difamar, espalhar o ódio nas redes. Mas o que o país tem que se preocupar é a partir de que ponto as nomeações são ilegais e os nomeados cometem crimes. As leis que criam órgãos públicos estabelecem finalidades. A da Fundação é “promover os valores culturais, sociais e econômicos da influência negra na formação do povo brasileiro”. Quem parte do elogio às consequências da escravidão está em conflito com a lei.          Quem se refere a um grupo de brasileiros como “negrada” comete crime de racismo.

               Há graus de inadequação ao cargo e em alguns casos isso fica superlativo. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem um comportamento nas redes sociais que ofende os mais elementares princípios do decoro. Ele é indecoroso. Mas mesmo que isso fosse tolerável, seu desempenho, como demonstrou a comissão da Câmara dos Deputados, coloca em risco os objetivos e a missão do Ministério da Educação. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quando se reúne com desmatadores, grileiros ou garimpeiros estimula crimes contra o meio ambiente. O Itamaraty tem a finalidade de defender e fazer crescer a presença do Brasil no cenário internacional. O ministro Ernesto Araújo, ao elogiar e criticar países pela ideologia do governo de ocasião, ameaça reduzir a presença e fazer o oposto da missão do cargo que ocupa. A política externa tem que ser universal.

               Escolhas e decisões do presidente Bolsonaro não são apenas ofensivas. Revogam a razão pela qual os órgãos, setores e ministérios foram criados. Mas é preciso saber qual é a fronteira entre erros e atos ilegais. Criticar a imprensa é absolutamente normal, todos os governos o fazem. Mas quando o presidente diz que baixou uma Medida Provisória para quebrar o jornal “Valor”, ou quando ele exclui a “Folha de S. Paulo” da lista de veículos exigidos para a oferta de clipping à Presidência e, pior, ameaça os anunciantes do jornal, Bolsonaro está ferindo princípio constitucional da liberdade de expressão.

               O presidente Bolsonaro tem convicções autoritárias apesar de exercer um cargo para o qual foi escolhido democraticamente. Ele tem levado seu autoritarismo para a administração. É importante que o país esteja atento à fronteira entre os erros de um governo ruim e as afrontas às leis, os ataques à Constituição. As instituições e os mecanismos de freios e contrapesos da democracia precisam estar alertas, em cada ato, à distinção entre o que é apenas inépcia e o que é ilegal e inconstitucional. Antes que seja tarde.

            ***

Ato contínuo, mandei, a O Globo, a seguinte Carta dos Leitores, sobre esse artigo. Sei que não vão publicar, é longo, mas lerão. Não sei se mandarão à Miriam Leitão. Espero que sim!:

            Miriam Leitão é uma pessoa amarga. É raro vê-la elogiando algo ou alguém: são só críticas, como no “Entre a inépcia e a ilegalidade” (1/12).

            Começa citando alguns ministros e o nomeado presidente da Fundação Palmares que, segundo ela, “seguem o caminho que qualifica para serem nomeados no governo Bolsonaro”. Mas não elogia outros, ótimos, como Guedes, Moro, Bento Albuquerque, Tarcísio, Teresa, Banco Central, BNDES….

            Adiante, entre outras diatribes, diz que “quando Bolsonaro exclui um jornal do clipping da presidência está ferindo um princípio constitucional, da liberdade de expressão”. Errado! Não, a “Folha de São Paulo”, continua se expressando, apenas ele escolheu não lê-la e assiná-la, como tantos que eu conheço que escolheram cancelar a assinatura de O Globo. Isso nada tem a ver com liberdade de expressão, é apenas liberdade de escolha!

            Depois diz que “O governo é ruim”. O que seria bom, os anos de petismo e a roubalheira desavergonhada, o desajuste fiscal, a economia frágil, o desemprego lastimável, o chefão petista preso e a sucessora grosseira, irresponsável e incompetente? Parece que, antes estava tudo bom!!!

            E finaliza com “…As instituições e os mecanismos de freios e contrapesos da democracia precisam estar alertas, em cada ato, à distinção entre o que é apenas inépcia e o que é ilegal e inconstitucional. Antes que seja tarde”. Ou seja, qualifica o governo Bolsonaro como inepto, e que só age ilegal e inconstitucionalmente.

            O Globo, que tem publicado sensatos e adequados editoriais, deveria prestar atenção a Miriam Leitão, que está rancorosa, raivosa, ideológica e absurdamente dissonante.

            O governo atual pode sim ter- e tem- os seus defeitos, mas tem se esforçado em reverter essa herança maldita, especialmente a despudorada roubalheira, o assalto das elites dos servidores públicos aos cofres públicos, fazer as imperiosas reformas, e criar fontes de recursos para investimento, para reduzir o desemprego e esse flagelo, que é a pobreza, e pior, a miséria!

            Como disse Adlai Stevenson, advogado, político, diplomata norte-americano, “Editor é o sujeito que separa o joio do trigo e publica o joio”. Serve bem para Miriam Leitão. Ou como disse Adam Gopnik, jornalista, ensaista e escritor, “A imprensa vive de crise, e não do bom governo”…

            Em vez de o governo atual, é o caso de Miriam Leitão – ela, sim – ser  considerada inepta, pois, do jeito que está, só publica o joio, e vive de crise!

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