Gina Ferreira

Recebemos de Denise Maurano o relato sobre
o trabalho da psicóloga cidadã
Gina Ferreira nas prefeituras de Angra
dos Reis e Parati, e que já recebeu
um prêmio da Associação
Mundial de Reabilitação
Psicossocial, ligada à OMS. Foi
considerado o programa mais original do
mundo. Pois sua singularidade estava na
atuação junto aos doentes
pobres e suas famílias, mostrando-lhes
que podem conviver, exercendo seus direitos
e deveres. Desde o direito à assistência
médica e à cesta básica
até o dever da atenção
pela saúde do familiar doente.

Argumenta a doutora Gina que a reforma
psiquiátrica pela qual vem lutando
se identifica com a plenitude dos direitos
civis dos cidadãos brasileiros
que, de doentes mentais, acabam sendo
tratados como marginais. Seu trabalho,
portanto, tem sido tirar os doentes mentais
dos hospícios. Em dois anos, dando
seguimento a um programa existente em
Angra, o número de internações
baixou de 29 para três por ano.
Em três meses, reduziu as de Parati
de uma média anual de 44 para duas.
Levando-se em conta que uma internação
rende ao hospital uma bela diária
do SUS, e que, de uma maneira geral, duram
45 dias, trancafiar os psicóticos
tornou-se um bom negócio. Sobretudo
quando se sabe que em muitos casos essas
pessoas passam anos nos hospitais, abandonadas
pelas famílias. Um doente de Angra
esteve 18 anos internado. Outro, 16 sem
receber visitas de familiares. Hoje, ambos
estão em casa.

Gina Ferreira trabalha no sentido de criar
mecanismos que evitam internações
desnecessárias. Mais que isso,
vai atrás dos doentes em suas casas.
E denuncia que a lógica da sociedade
moderna toma por base um homem passivo,
um individualismo que o aliena do direito
e do compromisso de interferir nas questões
do Estado. Em contraponto, a concepção
de cidadania toma por base um homem atuante
no espaço público. A cidadania
se redimensiona na ação
coletiva, já que é no espaço
público que ela se concretiza.

Esse foi o fundamento do programa de Saúde
Mental das Prefeituras de Angra dos Reis
e Parati que Gina Ferreira denominou simplesmente
de “De Volta pra Casa”, com
o objetivo de trazer de volta à
comunidade pessoas com longa internação
e consideradas crônicas pela psiquiatria
tradicional. Todo o serviço da
doutora Gina custava às prefeituras
o equivalente a apenas três internações
de 45 dias. A simples manutenção
de uma pequena casa que ela chama de CAIS
– Centro de Atenção Integrada
em Saúde Mental, onde artistas
da cidade dão aulas de cerâmica
e pintura aos doentes, que fazem exercícios
físicos, trabalham em tear e aprendem
culinária.

Gina Ferreira merece sem dúvida
alguma o diploma de Cid, cidadã
exemplar de nosso site não apenas
como mais uma homenagem, mas sobretudo
como estímulo para que outros brasileiros
se tornem também cidadãos
conscientes de seus direitos e atuantes
no espaço público, para
a construção de um país
mais justo e menos violento para com seus
filhos.

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