Editorial –

A força das cidades

“Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, já dizia o velho provérbio. Temos sido (mal) acostumados pela mídia a encarar a política pelo que de pior ela tem a nos oferecer. Diariamente, um tsunami de acusações, suspeitas e denúncias de desvios, fraudes, chantagem e toma-lá-da-cá da vida política que somente tende a desmobilizar o cidadão e a provocar a aparente apatia que vemos na sociedade.

Mas, também, nossos nobres políticos “fazem por onde”. Um exemplo? O prefeito do município de Manga, no Norte de Minas Gerais, Anastácio Guedes Saraiva, segundo denúncia do jornalista Fábio Oliva em seu blog, é suspeito de ter mandado fazer um gato de energia porque a prefeitura teve o fornecimento cortado por inadimplência pela concessionária Cemig. Se a infração for confirmada, será o cúmulo de um poder público roubando um concessionário de outro poder público. Ainda segundo o blog de Fábio Oliva, enquanto estão atrasados pagamentos de funcionários e fornecedores do município, o prefeito acumulou mais de 280 mil reais de diárias nos últimos dois anos de gestão.

E este é apenas um dentre centenas – ou milhares – de maus exemplos dados por nossos mandatários do momento, devidamente denunciados pelo trabalho de entidades da sociedade civil dedicadas ao controle social sobre mandatos políticos, instituições e orçamentos públicos. Grupos como Amarribo Brasil, Voto Consciente, Nossa São Paulo, Rede Observatório Social do Brasil, IFC – Instituto de Fiscalização e Controle, Abracci – Articulação Brasileira Contra a Corrupção e Impunidade, Transparência Brasil, Instituto Ágora, os Fóruns de Combate à Corrupção/FOCCO e milhares de outras dos mais variados portes, espalhadas por todos os cantos do país.

Isso significa então que tudo está “dominado”, como diz a gíria de hoje? Felizmente, não. Iniciativas do próprio Congresso em Foco, com o seu prêmio aos parlamentares que mais se destacaram, e o Prêmio Melhores Cidades do Brasil, da Editora Três, mostram que os bons exemplos também existem. Este último, que teve sua primeira edição realizada este ano, é dedicado ao desempenho dos chefes de Executivo municipal e agrupa as cidades por número de habitantes, em três escalas. Parabéns para os prefeitos de Curitiba, na categoria acima de 200 mil habitantes, de Itajaí/PR, na categoria de 50 mil a 200 mil habitantes, e de Congonhas/MG, número 1 entre os pequenos municípios.

Em recente depoimento aqui para o nosso programa Agentes de Cidadania, o empreendedor social Ater Cristofoli, da rede Observatório Social do Brasil, sublinha a importância das organizações da sociedade civil como agentes de monitoramento do poder público. E que isso não é tão complicado como pode parecer. Para ele, “com ações muito simples, como acompanhar editais, licitações e entrega das compras que seu município faz, pode-se gerar economias milionárias“.

Vale lembrar que o Observatório Social foi criado a partir de uma experiência bem sucedida na cidade de Maringá, no Paraná, cuja capital, Curitiba, tem estado regularmente entre as cidades com melhor gestão pública no país. Hoje, a organização está presente em 100 cidades, por 18 estados do país.

Ivan Costa, do Observatório Social de Belém, também em depoimento para o programa Agentes de Cidadania, faz uma proposta concreta sobre transparência no poder público municipal. Para ele, uma alternativa eficiente para controle social na área da Saúde Pública seria a divulgação, na internet, dos estoques reais de medicamentos nas secretarias de Saúde. E isso poderia ser replicado para outras áreas.

Não tem mágica. A fórmula para o sucesso de algumas gestões e o fracasso de outras está no nível de engajamento dos cidadãos no controle social sobre os mandatos políticos e orçamentos e gestores públicos. É o “fazer junto”, onde os donos do mandato – os cidadãos eleitores e pagadores de impostos – se reconhecem como agentes ativos do dia a dia político dos mandatários – os cidadãos eleitos – em pé de igualdade em prol do bem comum.

Parafraseando Horácio, que falava dos poetas, “os políticos devem ser vistos como pessoas médias, nem deuses, nem vendedores de livros“.

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.