Aumento de parlamentares revela déficit de controle social

Aumento de parlamentares revela déficit de controle social

61,8%. Esta é a porcentagem de aumento que nossos nobres parlamentares se deram de presente de Natal este ano. E 130% para ministros e presidente da República. Como não podia deixar de ser, um absurdo desses aconteceu num processo digno das melhores negociatas por baixo dos panos. Foram apenas duas horas de discussões na Câmara. Logo depois, o Senado bateu o recorde: o martelo foi batido a favor do aumento em apenas três minutos!

E mais uma vez nossos políticos tomaram uma decisão de 2 bilhões de reais sem levar em conta o cidadão, aquele que só serve para pagar a conta da festa. Aliás, ignoraram até o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vem pregando o contingenciamento de verbas públicas para não comprometer o início do governo Dilma Roussef. Neste caso, “sobrou” para a magistratura, o Ministério Público e a Polícia Civil, que tiveram negadas suas pretensões de reajuste salarial imediato.

Este reajuste, num país em que 5% de inflação já é uma taxa alta, na verdade vem demonstrar o quanto ainda temos que caminhar na direção de uma cultura de plena consciência de cidadania. Já avançamos bastante com a Lei da Ficha Limpa que a Justiça teima em tentar derrubar com decisões injustificáveis. E já demonstramos que não suportamos mais os velhos costumes políticos, sentimento traduzido na impressionante votação na candidata “da ética”, Marina Silva.

Avançamos com certeza, mas ainda não nos percebemos como verdadeiros cidadãos pagadores de impostos que, além de receber direitos sociais pelo dinheiro que o Estado arrecada, temos a responsabilidade política de fiscalizar o que fazem com esse dinheiro. Esse dever inclui também o de cobrar, de se manifestar e de se articular para que absurdos, como este reajuste dos políticos, não saiam de suas nobres cabecinhas e vão para o papel.

Não custa lembrar que em países onde a cultura de cidadania é mais evoluída, não existe a figura do “político profissional” e cheio de benefícios que abunda por aqui. Segundo a Transparência Brasil, o custo direto real de cada deputado federal brasileiro é dez vezes maior do que na Grã-Bretanha, 8,8 vezes maior do que na Espanha e cinco vezes maior do que nos EUA. E isso antes deste aumento de agora.

Não se esqueçam: cultura de cidadania e controle social são os maiores antídotos contra a demagogia e o esbulho do dinheiro público.

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