Dois golpes contra a cidadania

Semana passada, infelizmente, a cidadania sofreu dois golpes de uma vez só.

Primeiro, tivemos – e ainda temos – o vai e vem de mais esta confusão no Congresso por conta do uso privado de passagens aéreas públicas. Depois, para coroar a semana, um triste bate-boca entre ministros do Supremo Tribunal Federal, lavando roupa suja em cadeia nacional.

À primeira vista, pode parecer que as duas situações nada têm a ver uma com a outra. Mas, sob a ótica da cidadania é preciso ir um pouco mais além e refletir sobre a opinião expressa por vossas excelências acerca desses fatos. Em ambos os casos, os integrantes de uma e de outra casa tentaram a velha e perigosa solução de jogar a culpa no trabalho da imprensa.

No caso do Supremo, cogita-se extinguir as transmissões ao vivo da TV Justiça. Afinal, o que os olhos de milhões não vêem, o coração não sente. No caso dos nobres congressistas, vários deles culparam a pressão da imprensa pelo estado de execração pública em que estão metidos. Em pleno século 21, censurar a imprensa e os jornalistas por fazer – e muito bem – o seu trabalho de informar, investigar e denunciar abusos no poder público é uma solução marota e demagógica que a sociedade civil brasileira já não admite mais. É como na antiga piada: retirar o sofá não é solução para o adultério. Ou colocar a culpa da febre no termômetro.

Já no século dezoito, Thomas Jefferson, disse: “Se coubesse a mim decidir se precisamos de um governo sem imprensa ou de uma imprensa sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher a segunda alternativa”.

Independente de votação ou não em plenário sobre as passagens aéreas, acreditamos que está chegada a hora de cobrar dos presidentes das casas legislativas brasileiras que façam o que são pagos para fazer: fiscalizar e coibir os maus costumes políticos dos nossos parlamentares. É chegada a hora da cidadania se levantar e representar contra eles por crime de responsabilidade política e administrativa.

E aproveitamos este espaço aqui para perguntar às instituições do Estado brasileiro aptas como a Advocacia Pública, a Defensoria Pública e o Ministério Público por que não tomam a iniciativa de tutelar em nome da sociedade brasileira para prevenir ou reparar ato efetuado por seus agentes públicos na proteção do patrimônio público (…) ou ainda à moralidade administrativa e não representam contra os ditos presidentes da Câmara e do Senado por crime de omissão e cumplicidade?

E isso também vale para nosso nobre Supremo Tribunal Federal.

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