Beth Cheirosinha

Realizamos, finalmente, nossa última
viagem do ano a Belém do Pará,
pelo programa de Educação
para o Consumo do Inmetro, que visa formar
cidadãos multiplicadores para a difusão
de uma cultura de cidadania econômica
entre nós. Um programa que tem o
apoio da Voz do Cidadão na medida
que a dimensão econômica da
cidadania, garantida pelo Código
de Defesa do Consumidor, talvez seja a prática
social mais difundida entre nós.

Logo após nosso seminário,
fomos almoçar no principal ponto
comercial de Belém, o Mercado Ver-o-Peso.
São centenas de pequenas tendas agrupadas
por setor de atuação: refeições,
carnes, pescados, frutas e legumes, farinhas,
feijões e cereais, produtos cosméticos,
perfumes, extratos e ervas medicinais, artesanato
e confecção.

Por ser o setor mais folclórico e
tradicional, resolvemos entrar pelos corredores
das tendas de ervas medicinais. E, na proporção
que íamos passeando, íamos
nos deliciando com os pregões das
vendedoras: banhos de descargas completos,
com expressões saborosas como "comigo-ninguém-pode",
"quebra-feitiço", "tira-olho-gordo",
"inveja", "mau olhado"
e "moleza". Quando me deparo com
a barraca 35 de nossa cidadã exemplar
Bernadete Freire da Costa, conhecida como
Beth Cheirosinha, 53 anos e há 37
no ofício herdado de sua avó
e mãe há mais de 100 anos.

Beth Cheirosinha era sem dúvida uma
artista na arte do pregão dos banhos
de cheiro, de manjericão, rosa-de-todo-ano,
manjerona, alecrim, catinga de mulata, pataqüera,
japana e tantas outras. Assim como os banhos
atrativos do amor, como banho de carrapatinho,
chora-nos-meus-pés, pega-não-me-larga,
vai-buscar-longe, todos garantidos na condição
de o cliente escrever o nome da pessoa amada
e colocar dentro do preparado.

Pois bem! Nós que estávamos
ali para preconizar a ética que deve
prevalecer nas relações de
consumo entre empresas fornecedoras e o
mercado dos cidadãos consumidores,
de repente tomávamos aula de justiça,
equanimidade, atendimento e boa-fé
nas relações de produção,
venda, propaganda e consumo de uma pequena
mascate do Ver-o-Peso! Não havia
reclamação, queixume ou desentendimento!
Não estivesse satisfeito o freguês,
trocava o produto no ato ou tinha o dinheiro
devolvido!

E seguia Beth Cheirosinha vendendo seus
banhos atrativos do comércio, dinheiro-em-pencas,
chama-freguês, ganha-aqui-ganha-acolá.
Seus banhos para amançar-corno, abranda-mulher,
quebra-chibança, fora os mais procurados,
agarra-homem, preparados do sexo da bôta
e os agarra-mulher, feitos do pênis
do bôto. E o viagra natural feito
de marapuama, catuaba, pau-ferro, jatobá,
açoita-cavalo e guaraná! Beth
Cheirosinha seguia vendendo seus banhos,
nos dando um banho de simplicidade, transparência
e cidadania!

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