Artigo – O desaparecimento da direita política e a revolução cultural esquerdista, por Rafael Rosset

O desaparecimento da direita política é resultado da materialização da “revolução cultural” preconizada por Antonio Gramsci. Desde os anos 1960, vivemos sob a hegemonia da esquerda no campo da cultura e das idéias. Como resultado, a histeria militante foi elevada à categoria de pensamento, levando a idiotização do debate.

 

Quando eu comecei a me interessar por política, há uns 20 anos, ser “politizado” era sinônimo de “ser de esquerda”. Dizer-se “de direita” era a mesma coisa que confessar ser torturador, ditador, assassino e genocida. De lá pra cá o que mudou é que pelo menos existe uma bibliografia básica de direita, e 10% ou 15% dos títulos encontráveis na seção de Ciência Política das grandes livrarias são de corte conservador, alguns até best-sellers.

 

Mas é só. Na mídia, na universidade, na literatura e no cinema (ou seja, na cultura) ninguém nem sequer mais fala em dicotomia esquerda/direita, porque só existe UM ÚNICO PENSAMENTO AUTORIZADO, existe um único conjunto de opiniões que podem ser vocalizadas em público sem que você corra o risco de ficar sem emprego ou de ser preso. A mensagem é traficada quando você liga a rádio pop, quando você vai assistir ao Oscar, quando você sintoniza a TV naquele programa matinal inofensivo pra distrair as crianças. Aliás, há 40 anos programa matinal era “Vila Sésamo”, hoje é a Fátima Bernardes ensinando seu filho que aborto é método contraceptivo e que o latrocínio é justificado porque o criminoso é uma vítima da sociedade que só rouba e mata porque não conseguiu comprar o último iPhone ou um tênis da Nike.

 

Isso não é um trabalho simples, nem foi atingido da noite para o dia. Acompanhar a percepção da opinião pública em relação ao ideário progressista é ter um retrato claro da trajetória da nossa desgraça nacional. Em 1989 o PT ainda era visto pelo público em geral como um partido radical. Em 2002 chegou à presidência com o voto da classe média, que não estranhava mais o discurso raivoso e ressentido do partido. Em 2005 dissidentes fundaram o PSOL, um partido de viés trotskista. Esses eram os “radicais” dentro do PT, os adeptos da “revolução permanente”, e em 2005 até os petistas os viam assim. Hoje expoentes do PSOL, renomeados “especialistas”, dão entrevista na Globonews, e o projeto de lançar Guilherme Boulos à Presidência da República, uma versão piorada de Lula (porque aparentemente acredita piamente no que diz e faz, ao contrário de Lula, que sempre foi um pelego dissimulado e viciado em poder) não levanta mais sobrancelhas do que a candidatura de Lula em 89.

 

Ser de esquerda hoje em dia ainda é mais natural que respirar. Prova disso é que qualquer jovem se dirá “apolítico”, “nem de esquerda nem de direita”, mas se indagado terá 110% de suas opiniões sobre quaisquer temas relevantes alinhadas com o ideário revolucionário: a favor do aborto, a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a favor da liberação das drogas, a favor de políticas de redistribuição de renda via taxação mais pesada dos mais ricos, a favor de sistemas coletivos de saúde e educação, etc etc. O mesmo jovem moderno falará com naturalidade em criminalizar as opiniões contrárias às dele (que, como vimos, não são dele), porque essas opiniões contrariam os “direitos humanos”, um conjunto de preceitos dogmáticos/ideológicos que nos últimos 50 anos foi capturado pelo progressismo para evoluir de “você tem direito a se expressar” para “você pode ser preso caso expresse algo que eu não goste” (o que se convencionou chamar de “crime de ódio”). Isso é hegemonia, domínio total, e é muito pior que qualquer regime autoritário, porque um regime autoritário é percebido como tal e levanta resistência, mas um regime totalitário se apossa de tal forma da alma das pessoas que elas não só sequer fazem ideia da cela que as aprisiona, como ainda louvam e defendem seu captor, com suas vidas se necessário.

 

A caminhada até que o pensamento conservador readquira um mínimo de respeitabilidade é longa, mas essa não é uma batalha somente pela razão: essa é uma batalha pela sobrevivência da civilização. E até aqui, estamos levando uma surra dos bárbaros.

 

Rafael Rosset, advogado em São Paulo.

 

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