Areia

Chegamos ao município de Areia,
a meio caminho de João Pessoa
e Campina Grande na Paraíba,
para as palestras sobre cidadania
do programa de Educação
para o Consumo do Inmetro. Areia é
uma cidade da serra da Borborema,
com clima ameno, fundada em 1846 e
com uma jóia de teatro barroco
chamado Teatro Minerva, além
da casa do pintor Pedro Américo
e terra do ilustre escritor José
Américo.

No dia anterior à palestra
fomos recebidos no Bar do Chifre para
provar da aguardente local, famosa
como a sua rapadura e demais derivados
da cana-de-açúcar. No
Bar do Chifre conversávamos
sobre a beleza daquela cidade, quando
um morador do local resolve nos brindar
com sua música sertaneja estacionando
seu automóvel na calçada
em frente, com os autofalantes no
volume máximo, costume a que
chamam no local de Boate de Otário.

Mal conseguindo ouvir um e outro,
chamamos o Espoleta, filho do dono
do bar, um menino franzino mas de
olhar esperto, para pedir que convencesse
o dono da boate a abaixar o volume
do som. Ao que Espoleta constrangido
nos confessou não ousar, uma
vez que o dono do carro lhe diria
que estava estacionado na rua e que
a rua é pública. Pronto!
Estava aí o melhor exemplo
que poderíamos ter para a nossa
palestra sobre cidadania e direitos
de consumo no dia seguinte. O traço
perverso de nossa miséria cultural
como costumo chamar. Nossa eterna
confusão entre público
e privado. Nossa precária cultura
de justiça, cidadania e de
direitos civis. Padecemos sempre de
má conduta social e de desrespeito
ao espaço público, de
individualismo exacerbado e do descaso
pelos coletivos.

Achamos que o espaço público
pode ser privatizado segundo nossos
próprios interesses, ao invés
de preservá-lo como espaço
de interesse de todos os cidadãos,
de priorização dos seus
legítimos direitos civis coletivos.

Ali mesmo, interrompemos nossa bebemoração
e tentamos explicar com paciência
e carinho para o nosso amigo Espoleta
de que o sagrado direito privado do
dono da boate de ouvir sua música
tinha como limite o direito coletivo
de todos de poder conversar. E, desde
que estávamos pedindo para
ele abaixar o som, exatamente por
que o espaço era público,
ele teria de se submeter a nossos
direitos coletivos.

Os olhos de Espoleta brilhavam! Sentimos
com emoção que pela
primeira vez na sua vida, alguém
lhe ponderava uma razão tão
cristalina que lhe encheu de brios,
o fêz procurar o conterrâneo
e lhe convencer de seu abuso. Mandamos
daqui, pois, a todos os participantes
de nosso seminário de Educação
para o Consumo o nosso pedido de que
procurem Espoleta e o elejam nosso
Cid, Cidadão Exemplar de nosso
site. Pois devemos a ele mais este
concreto relato de exercício
de plena cidadania!

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